Sinto inveja de quem vai ver A Queda (Fall, 2022) nos cinemas, onde o título dirigido por Scott Mann estreia nesta quinta-feira (29). Ou será que fico aliviado pelo fato de cabine de imprensa (o nome dado às sessões prévias para críticos e jornalistas) ter sido online? Na experiência imersiva da sala escura, da tela grande e do som alto — e sem a possibilidade de parar a exibição para tomar fôlego —, a vertigem deve ser monstruosa. Porque este é o melhor ou o pior filme para quem tem medo de altura. Afinal, 75% dos seus 107 minutos se passam em uma torre localizada a 600 metros do solo!
Diretor de O Sequestro do Ônibus 657 (2015), Mann coescreveu o roteiro de A Queda com Jonathan Frank, seu parceiro nas tramas de Vingança Entre Assassinos (2009) e Refém do Jogo (2018). O longa-metragem começa com uma cena de impacto: a escalada de um paredão de pedra acaba em tragédia. Quase um ano depois, Becky (Grace Caroline Currey, também conhecida como Grace Fulton, a Mary Broomfield dos filmes Shazam!) ainda está sofrendo o luto pela morte do marido, Dan, e ainda está evitando o apoio do pai (Jeffrey Dean Morgan, o Negan da série The Walking Dead) quando sua melhor amiga, a destemida Hunter (Virginia Gardner, a Karolina Dean do seriado Fugitivos, da Marvel), surge com um convite. Que tal vencer um trauma encarando uma outra situação que pode ser traumatizante?
A nova aventura é alcançar o topo de uma antiga torre de telecomunicações no meio do deserto, a B-67, de onde Becky poderia jogar as cinzas de Dan, como uma última homenagem ao parceiro de escaladas. A estrutura, abandonada, mede 600 metros de altura — no filme, é apresentada como a quarta mais alta nos EUA. A chegada até que é tranquila, mas a partir do momento em que encostam no céu, Becky e Hunter viverão o inferno.
Não cabe aqui dar spoilers, antecipando os perigos enfrentados — mas vale dizer que o roteiro espalha pistas do que pode acontecer. Além das ameaças físicas, há também uma emocional, que acaba ficando em segundo plano — não só por causa da situação, mas porque o filme não a trabalha bem. Sejamos francos: este não é um Águas Rasas (2016), em que Blake Lively consegue conjugar talento dramático e ação corporal enquanto encara sozinha um tubarão assassino. Muito menos um 127 Horas (2010), que valeu a James Franco uma indicação ao Oscar de melhor ator na pele do alpinista que fica preso em uma fenda dentro de um cânion. As duas atrizes apenas fazem o básico, sem atrapalhar o objetivo principal de A Queda: provocar aflição e tontura.
O que dá para falar sem medo de estragar a curtição do espectador é que, para um filme de orçamento modestíssimo — US$ 3 milhões —, A Queda é extremamente eficiente em simular a tensão nas alturas. Em entrevista ao site RadioTimes.com, o diretor Scott Mann contou que não queria usar fundo verde ou cenários digitais. Então, misturou imagens filmadas na KXTV/KOVR Tower, em Walnut Grove (Califórnia), com cenas realizadas no topo de uma montanha, onde construíram, em cenário, a parte superior da torre B-67. Graças ao posicionamento da câmera e aos ângulos escolhidos, as atrizes realmente parecem estar centenas de metros acima do chão, embora nunca ficassem a mais de 30 durante as filmagens — que nem por isso deixaram de ser complicadíssimas, por causa de raios e ventos fortes. Mann disse que os problemas foram de "proporções bíblicas", a ponto de o set ter sido derrubado certa vez.