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Xeque-mate

Vícios e xadrez: o que explica o sucesso de "O Gambito da Rainha"

Minissérie acompanha a trajetória de uma enxadrista interpretada por Anya Taylor-Joy

William Mansque

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Phil Bray / Netflix
Anya Taylor-Joy vive a enxadrista Beth Harmon em "O Gambito da Rainha"

Desde a sua estreia no dia 23 de outubro, O Gambito da Rainha foi um verdadeiro xeque-mate da Netflix. A minissérie de sete episódios acumula 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, site agregador de críticas de cinema e televisão. No IMDB, a nota é 8.9, o que a inclui na lista dos 50 programas de TV mais bem avaliados do site. O público também gostou: 97% de aprovação popular no Rotten e presença diária entre as 10 atrações mais assistidas tanto na versão brasileira da plataforma quanto na americana.

Há muitas qualidades na minissérie que justificam o seu sucesso.  Mas, antes de tudo, vale lembrar que o ator Heath Ledger (1979—2008) já havia enxergado um potencial no projeto em 2007.  Ele pretendia fazer sua estreia como diretor de longas com O Gambito da Rainha. O roteiro estava desenvolvido e a ideia era rodar o filme no final de 2008. Ellen Page estava cotada para ser a protagonista. Mas Ledger morreu em janeiro daquele ano.

O Gambito da Rainha só sairia do papel para a tela em 2020. Um dos criadores da minissérie, Allan Scott, possui os direitos de adaptação do romance homônimo, de Walter Tevis, lançado em 1983, desde os anos 1990. O outro showrunner, Scott Frank , assumiu também a direção.

A minissérie dramática acompanha a trajetória da enxadrista Beth Harmon, interpretada por Anya Taylor-Joy, uma das atrizes mais promissoras de Hollywood. Embora seja uma ficção, há relatos de espectadores que recorreram a sites de pesquisa para saber se a personagem existiu mesmo. 

 O Gambito da Rainha inicia com Beth perdendo sua mãe em um acidente de carro, no final dos anos 1950. A garota (vivida por Isla Johnston) passa a viver em um orfanato, onde descobre seu talento para o xadrez. Só que também se vicia nos calmantes oferecidos pelo Estado para tranquilizar as crianças. Consequentemente, pílulas e peças sobre o tabuleiro se tornam parceiras indissociáveis para Beth.

A medida que cresce, Beth vai aprimorando seu jogo. Torna-se uma enxadrista profissional, algo raro nos anos 1960. Famosa e genial com o movimento das peças, ela começa a chamar a atenção por onde passa. Porém, Beth tem uma personalidade complicada. Traumatizada, é introspectiva desde a infância, com dificuldades em se expressar e se relacionar com  outras pessoas. Muitas vezes é impulsiva, e o álcool passa a afetá-la além do calmantes.

Rainha

Um dos destaques mais evidentes de O Gambito da Rainha é a atuação de Anya Taylor-Joy. Aos 24 anos, ela se projetou com o filme de terror A Bruxa (2015). Depois, marcou presença em dois longas do M. Night Shyamalan, Fragmentado (2016) e Vidro (2019). Participou da série Peaky Blinders, protagonizou Emma (2020), está em Os Novos Mutantes (2020) e irá estrelar mais um longa da franquia Mad Max.

Em O Gambito da Rainha, Anya, com sua expressividade, ilustra de forma impecável toda a carga de estranhamento necessária para fazer de Beth uma rica personagem, que se sente deslocada o tempo todo. Além da instabilidade emocional e dos fantasmas que arrasta, ela não se encaixa nas expectativas projetadas pela sociedade às mulheres no começo dos anos 1960. Em especial mulheres independentes e, no caso de Beth, solitárias que se impõem em ambiente totalmente masculino. 

Peões

Não é só Anya. O elenco de O Gambito da Rainha conta com uma galeria de personagens marcantes — em especial Alma (Marielle Heller), a adorável mãe adotiva de Beth. Doce, complexa e melancólica, ela encontra na garota um porto seguro de afeto.

Há ainda o zelador do orfanato, Sr. Shaibel (Bill Camp), que ensina xadrez a Beth. Um tanto turrão no primeiro momento, ele incentiva na garota uma mentalidade competitiva. Tem  também  a divertida Jolene (Moses Ingram), a melhor amiga de Beth no orfanato. Vale destacar também o enxadrista Benny Watts  (Thomas Sangster). Com seu jeito canastrão, ele se torna uma peça importante para Beth melhorar a sua estratégia de jogo. 

Xeque

Com seus múltiplos arcos, O Gambito da Rainha passa por temas como empoderamento feminino, família, solidão e comportamentos autodestrutivos. Impressiona tanto pelo roteiro bem estruturado quanto por sua estética. A direção de arte, a fotografia e o figurino não devem nada a outras produções ambientadas nos anos 1960 elogiadas pelo requinte visual, como a série Mad Men. Para embalar, uma trilha sonora eficaz com nomes sessentistas como The Kinks, Peggy Lee, The Monkees e The Association. 

 Xeque-mate

Envolvente e dinâmica, O Gambito da Rainha é uma série prazerosa de se assistir. Os sete episódios passam voando. As partidas de xadrez, que têm como características serem  estudadas e lentas, ganham um ritmo agradável — e verossímil, pois grandes enxadristas profissionais foram consultores da produção para não deixar escapar nenhum detalhe referente a jogadas e vocabulário, entre eles o ex-campeão mundial Garry Kasparov. Há muito movimentos bem calculados e inesperados em O Gambito da Rainha, como uma partida de xadrez entre dois Grandes Mestres.

Confira o trailer:


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