Eu gosto de filmes tristes, títulos de terror, séries policiais e documentários perturbadores. Mas também tenho cabeça e coração para comédias, aventuras, desenhos animados e histórias inspiradoras.
Em dias marcados pela morte — seja em uma favela do Rio, em uma escola dos EUA ou na guerra da Ucrânia —, filmes podem nos ajudar na busca por um pouco de paz interior. Quem sabe algumas risadas. Vale até chorar, desde que as lágrimas sejam provocadas por emoções positivas.
Em dose tripla — são 30 dicas, em vez das 10 habituais —, a lista deste fim de semana é dedicada a quem está precisando desestressar e recarregar as baterias para o mês de junho. Todos os títulos estão disponíveis em plataformas de streaming ou em salas de cinema (preste atenção aos horários: alguns só terão uma exibição). Os leitores mais frequentes vão perceber figurinhas repetidas aqui na coluna, mas isso é porque as acho realmente reconfortantes. Clique nos links se quiser saber mais.
Quanto Mais Quente Melhor (1959)
Ninguém é perfeito, como diz o personagem de Joe E. Brown no célebre final desta comédia de erros, mas um filme pode ser. É o caso de Some Like It Hot — o clássico inesquecível da lista —, no qual Tony Curtis e Jack Lemmon são dois músicos de Chicago que, para fugir de mafiosos durante a Lei Seca, se disfarçam de mulheres e se juntam a uma banda de jazz feminino em turnê para a Flórida. No trem, vão conhecer Sugar Kane Kowalczyk, a sensual cantora encarnada por Marilyn Monroe em um de seus últimos trabalhos antes de morrer, em 1962, com apenas 36 anos. O genial Billy Wilder disputou os Oscar de melhor diretor e roteiro. (Globoplay, MGM e Telecine)
Um Convidado Bem Trapalhão (1968)
Mais do que na série de filmes da Pantera Cor-de-rosa, é em Um Convidado Bem Trapalhão (The Party) que o inglês Peter Sellers mostra-se um incomparável ator cômico — a despeito do lance politicamente incorreto de escalá-lo para encarnar um indiano. Na trama dirigida por Blake Edwards, um magnata de Hollywood vai dar uma festa para estrelas encantadoras, modelos deslumbrantes, poderosos produtores e até um filhote de elefante. Mas, por uma falha de convite, Hrundi V. Bakshi (Sellers), um figurante com uma queda por desastres, também aparece. O que se sucede é uma coleção de cenas impagáveis: Hrundi perde o sapato numa passagem de água, Hrundi entope a privada no banheiro, Hrundi joga um frango na cabeça de uma mulher... (MGM e, para aluguel, em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
Superman (1978)
Em tempos de predomínio dos super-heróis no mundo do entretenimento, vale rever um dos filmes pioneiros. Com orçamento de US$ 55 milhões, o Superman do diretor Richard Donner era, à época, o filme mais caro da história. Disputou três Oscar — melhor música original (assinada pelo mestre John Williams), montagem e som — e ganhou um prêmio especial, por seus efeitos visuais. Na trama, Marlon Brando interpreta Jor-El, cientista que envia o seu filho à Terra pouco antes da destruição do planeta Krypton. Criado como Clark Kent, o garoto desenvolve superpoderes e, já adulto (na pele do eterno Christopher Reeve), torna-se um super-herói defensor da sociedade contra ameaças e malfeitores. O grande Gene Hackman faz o vilão Lex Luthor, e Margot Kidder encarna a repórter Lois Lane. (Sessão na Cinemateca Capitólio no dia 28/5, domingo, às 15h30min; disponível também na HBO Max)
E.T.: O Extraterrestre (1982)
Um dia depois do aniversário de 40 anos, este clássico de Steven Spielberg,terá uma sessão especial na Cinemateca Capitólio, com comentários dos diretores de cinema Giordano Gio e Davi de Oliveira Pinheiro.
Trata-se de uma mistura de ficção científica com conto de fadas sobre a amizade entre o menino Elliot (interpretado por Henry Thomas) e um extraterrestre que se perde nas florestas da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Criado pelo artista italiano de efeitos especiais Carlo Rambaldi, o pequeno personagem de cabeça grande e rosto enrugado é capaz de curar com um toque de seu dedo luminoso e descobre-se encantado por doces. Estrelado ainda por Drew Barrymore, Peter Coyote e Dee Wallace-Stone, E.T. foi o primeiro filme a ultrapassar a marca dos US$ 700 milhões nas bilheterias (sendo que custou US$ 10 milhões), liderando o ranking mundial durante 10 anos. Concorreu a nove Oscar, incluindo melhor filme, diretor e roteiro original (escrito por Melissa Mathison), e ganhou quatro: música, efeitos visuais, som e efeitos sonoros. (Sessão na Cinemateca Capitólio nesta sexta-feira, 27/5, às 18h; disponível também em Amazon Prime Video, Globoplay, Star+ e Telecine)
Top Gang: Ases Muito Loucos (1991)
Na esteira do lançamento de Top Gun: Maverick nos cinemas (leia mais logo abaixo), que tal ver uma sátira de Top Gun: Ases Indomáveis (1986)? Esta comédia aloprada tem direção de Jim Abrahams, parceiro de David Zucker e Jerry Zucker em Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!, Top Secret e Corra que a Polícia Vem Aí. Charlie Sheen interpreta um talentoso mas instável piloto de avião que precisa superar os fantasmas de seu pai e salvar uma missão sabotada por fabricantes de armas gananciosos. No elenco, Valeria Golino, Lloyd Bridger e Cary Elwes. (Sessões no Cine Farol Santander nos dias 29/5, domingo, 30/5, segunda, 31/5, terça, e 1º/6, quarta, às 15h; disponível também em Star+ e Telecine)
Feitiço do Tempo (1993)
Nesta comédia dirigida por Harold Ramis, o ator Bill Murray interpreta um arrogante meteorologista da TV que fica preso em uma armadilha temporal, na cidadezinha de Punxsuatawney, na Pensilvânia, condenado a reviver indefinidamente o mesmo dia até que mude suas atitudes. As 24 horas que ele tem de repetir são as do Dia da Marmota — Groundhog Day, no original —, uma data festiva em que, segundo a crença dos moradores locais, o pequeno mamífero teria o poder de prever a duração do inverno. Feitiço do Tempo tornou-se um clássico tanto pela comicidade quanto pela discussão filosófica (o peso da rotina, nossa capacidade de mudar comportamentos etc) e pela abordagem dos paradoxos das viagens no tempo. Virou também uma referência: quando surge algum filme em que os personagens precisam ou são obrigados a reviver os acontecimentos de um determinado período de tempo, citamos as desventuras de Bill Murray. (Sessões no Cine Farol Santander nos dias 27/5, sexta, e 28/5, sábado, às 17h30min; disponível também para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
O Virgem de 40 Anos (2005)
The 40-Year-Old Virgin é muito mais do que um besteirol apimentado, como o título pode sugerir aos incautos. Tanto é que apareceu na tradicional lista dos 10 melhores filmes do ano elaborada pelo respeitado American Film Institute. Era como um estranho no ninho em uma temporada célebre por assuntos sérios — o terrorismo (Munique), a indústria do petróleo (Syriana), o racismo (um dos temas centrais de Crash), o preconceito sexual (O Segredo de Brokeback Mountain), a perseguição política (Boa Noite e Boa Sorte). Tema sempre recorrente nas comédias adolescentes americanas, a primeira transa ganha uma abordagem diferente pelas mãos (sem trocadilho!) do diretor Judd Apatow e do ator Steve Carell (que naquele mesmo ano começaria a interpretar o chefe sem-noção Michael Scott na série The Office). Se pelo olhar juvenil é motivo de afobação, para um adulto de 40 anos é motivo de resignação. O elenco de apoio — Seth Rogen, Elizabeth Banks, Catherine Keener, Paul Rudd — é um dos trunfos do filme, que tem uma das cenas mais antológicas das comédias contemporâneas: aquela da depilação. Tente não chorar. (Star+)
Borat (2006)
Ninguém fica imune na primeira jornada empreendida por este falso repórter da TV pelos Estados Unidos (a segunda, Borat: Fita de Cinema Seguinte, venceu o Globo de Ouro de melhor comédia ou musical). Quem cruza o caminho do personagem criado e interpretado pelo inglês Sacha Baron Cohen sofre humilhações ou diz coisas das quais deveria se envergonhar — imaginando que tudo o que dissessem só seria ouvido no distante Cazaquistão, alguns entrevistados de Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América (Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan) soltam o freio e revelam uma série de preconceitos. Logo na abertura, o filme dirigido por Larry Charles— ex-roteirista do seriado Seinfeld —diz a que veio: o protagonista mostra seu pobre vilarejo natal (refletindo a visão estereotipada que muitos estadunidenses dos países do Leste Europeu e da Ásia Central), seus hobbies (como fotografar às escondidas mulheres urinando) e uma das "tradições" da região, a infame Corrida do Judeu (a propósito: Cohen é judeu). As piadas — ou ofensas? — antissemitas, escatológicas, misóginas, racistas e homofóbicas se multiplicam quando o repórter e seu produtor, Azamat Bagatov (Ken Davitian), desembarcam em Nova York. Os dois estrelam uma sequência impossível de ser "desvista", cujo estopim são fotos da atriz e modelo Pamela Anderson, paixão repentina, platônica e avassaladora de Borat. (Star+)
Mamma Mia! (2008)
Inspirado em canções do quarteto pop sueco ABBA, o musical dirigido por Phyllida Lloyd é um dos filmes preferidos na minha família. A Bia, eu e as gurias (Helena e Aurora) já revisitamos algumas vezes a ilha grega onde Meryl Streep interpreta Donna, a dona de um hotel. Ao preparar o casamento de sua filha (Amanda Seyfried), descobre que três ex-namorados (Pierce Brosnan, Stellan Skarsgard e Colin Firth) foram convidados — um deles é o pai da noiva. O filme ganhou uma continuação, não tão deliciosa, em 2018. (Paramount+ e Star+)
Se Beber, Não Case! (2009)
Diz a matéria de apresentação em Zero Hora de The Hangover (em inglês, A Ressaca): "Um tigre no banheiro, um dente a menos, um bebê a mais — esses são apenas os primeiros e menores dos problemas que três amigos reunidos em Las Vegas para uma despedida de solteiro enfrentam depois de acordar de uma noite de farra descontrolada". Os três amigos são o bonitão Phil (Bradley Cooper), o reprimido Stu (Ed Helms) e o meio abobado Alan (Zach Galifianakis). A grande encrenca deles é descobrir onde foi parar o noivo desaparecido— que os sequelados padrinhos não sabem como, onde ou quando perderam. Com uma participação especial da lenda do boxe Mike Tyson, o filme do diretor Todd Phillips (o mesmo de Coringa) deu início a uma trilogia que arrecadou US$ 1,4 bilhão. (HBO Max)
Intocáveis (2011)
De cara, é preciso dizer que esta comédia francesa me fez rir tanto quanto chorei. Os diretores Olivier Nakache e Eric Toledano apostam em uma fórmula imbatível: a dos filmes sobre uma amizade improvável, que supera barreiras — no caso, sociais, culturais, étnicas e até físicas — para, ao fim, dar uma lição moral de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças. Eles adaptaram a história real de Phillippe Pozzo di Borgo, milionário tetraplégico que criou um forte vínculo com o enfermeiro argelino que foi seu braço direito, Abdel Sellou. Em Intocáveis, Phillippe é interpretado pelo ótimo François Cluzet. Abdel ganhou o nome de Driss e representa outra ex-colônia francesa na África, o Senegal — vale dizer que os imigrantes africanos são marginalizados na França. O papel deu estrelato a Omar Sy, visto recentemente como protagonista da série Lupin. O aristocrático Phillippe e o ex-detento Driss são como azeite e água. Um é expert em música erudita, uma chatice sem vibração para o outro, apaixonado por funk. Na galeria de arte, onde Phillippe interpreta significados ocultos, Driss vê borrões infantis. Sofisticação versus rudeza, limitação física contraposta à energia da força bruta — esses duelos provocam ora risos, ora lágrimas e já mereceram três refilmagens: uma na Índia, em 2016, uma na Argentina, também em 2016, e uma nos Estados Unidos, em 2017. (Globoplay, MUBI e Telecine)
Relatos Selvagens (2014)
Se o comovente Intocáveis entrou na lista, por que o chocante Relatos Selvagens não poderia? Indicada ao Oscar de melhor filme internacional, a obra do argentino Damián Szifron apresenta seis episódios independentes, um deles protagonizado por Ricardo Darín. Ele faz um engenheiro especializado em implosões, mas que explode diante da burocracia e do pouco caso que os serviços públicos dispensam ao contribuinte. Entre as outras histórias, uma se passa em um avião, onde revela-se que todos os passageiros são desafetos do piloto, e outra em uma festa de casamento, onde a noiva descobre que o noivo é amante de uma das convidadas. Os personagens vão até as últimas consequências, sem se preocuparem com a moral nem a lei, proporcionando um riso catártico do espectador. O filme causa gargalhadas em cenas que deveria chocar, mas não exclui o comentário social: mostra como nossa ilusão de civilização está sempre por um fio, ainda mais nesses tempos em que as redes sociais contribuíram para a agressividade e as polarizações. (HBO Max)
Toc Toc (2017)
Quem lê só a sinopse desta comédia espanhola dirigida por Vicente Villanueva e baseada em um espetáculo teatral francês pode achar que é politicamente incorreta demais: seis pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) marcam consulta no mesmo horário com um psiquiatra, mas ele se atrasa muito, e o grupo precisa esperar. Entre os personagens, estão Federico (o ótimo Oscar Martínez), que tem síndrome de Tourette e solta palavrões e gestos obscenos involuntariamente, Blanca (Alexandra Jiménez), obcecada por limpeza, Otto (Adrián Lastra), maníaco por linhas e simetrias, e Ana María (Rossy de Palma), que, sempre que sai de casa, volta para verificar se fechou mesmo a torneira, o gás, a porta... No consultório, eles descobrem as peculiaridades de cada um, provocando risadas no espectador — que, mais adiante, perceberá as sutilezas do filme, como uma bela mensagem sobre empatia e cooperação. (Netflix)
A Noite do Jogo (2018)
Dirigida pela dupla John Francis Daley e Jonathan Goldstein, trata-se de uma comédia divertidíssima — mas, convém avisar, no geral as piadas são com adultos e para adultos. O humor está inclusive temperado por momentos de tensão e até de violência (mas nada a ponto de cortar o embalo). Na trama, um grupo de pessoas se mete em uma enrascada a partir do momento em que se reúne para uma noite de jogos na qual, como em um RPG (sigla de role-playing game), precisam interpretar papéis. Falando em interpretar, o elenco é ótimo. Temos, entre outros, Jason Bateman, três vezes indicado ao Emmy de melhor ator pela série Ozark e duas por Arrested Development; Rachel McAdams, que disputou o Oscar por Spotlight; Kyle Chandler, ganhador do Emmy por Friday Night Lights; Jesse Plemons, que concorreu ao Oscar e ao Bafta de coadjuvante por Ataque dos Cães; e Michael C. Hall, o protagonista de Dexter. (HBO Max)
Minha Mãe É uma Peça 3 (2019)
Com direção de Susana Garcia, é o divertido encerramento da trilogia em que o saudoso ator Paulo Gustavo encarnou Dona Hermínia. Na pele, nas sapatilhas e com os bobs da personagem, ele personificou as mães que não largam do pé dos filhos apesar de já estarem bem crescidos, as mães que brigam por causa da tampa não devolvida de um pote de plástico, as mães que se metem na decoração da casa da prole e até na criação dos netos. Mas também as mães que não medem esforços para defender os rebentos, as mães que derramam seu amor sobre nós, as mães que, ora, só pedem um pouquinho de retribuição por tudo o que já fizeram pela gente. (Globoplay e Telecine)
Yesterday (2019)
Esta calorosa declaração de amor aos Beatles foi dirigida por Danny Boyle e escrita por Richard Curtis (o roteirista de Quatro Casamentos e um Funeral e o realizador de Questão de Tempo). Himesh Patel encarna um fracassado cantor e compositor que, após um estranho blecaute, se torna a única pessoa no mundo a lembrar da existência de John, Paul, George e Ringo. A situação rende momentos mágicos — como a cena em que Jack, o personagem, interpreta Yesterday para sua admiradora platônica Ellie (Lily James) e um casal de amigos: é como se fosse a primeira vez que nós, o público, fôssemos expostos à beleza da canção — e divertidos: como não rir diante da tentativa do sujeito de mostrar aos pais Let It Be? (Netflix)
Professor Polvo (2020)
Ganhadores do Oscar, Pippa Ehrlich e James Reed retratam a aproximação entre um homem, o documentarista Craig Foster, e um polvo em uma floresta de algas na costa da África do Sul. Além de exibir imagens fabulosas, Professor Polvo tem muito a nos ensinar. E não apenas sobre as criaturas tentaculares cheias de ventosas. A trajetória de foster ilustra algumas lições velhas, mas nem sempre aprendidas, como a de que, se descuidarmos, o trabalho pode nos devorar e a de que não somos visitantes, mas integrantes da natureza. Ao mergulhar, Foster redescobriu a paz interior, reaprendeu como o contato com o ambiente pode ressensibilizar as pessoas e retomou as aulas sobre adaptação que o reino animal tem a oferecer. (Netflix)
Cabras da Peste (2021)
Se seu plano é só esfriar a cabeça, sem nem se preocupar com legendas, os Cabras da Peste estão na área. Trata-se de uma paródia muito brasileira de uma tradição hollywoodiana, a das duplas policiais improváveis, formadas pelo acaso ou pelo azar e destinadas ao conflito ou à trapalhada. Pense em franquias como Um Tira da Pesada, Máquina Mortífera ou A Hora do Rush. Tem de todas um tanto nesta comédia do diretor Vitor Brandt que reúne dois personagens de temperamentos opostos: o cearense Bruceuílis Nonato (Edmilson Filho), afoito pela ação, e o paulistano Trindade (Matheus Nachtergaele), apegado ao trabalho em escritório. O sequestro da cabra Celestina é a deixa para o primeiro viajar da minúscula e fictícia Guaramobim para São Paulo. (Netflix)
Duas Tias Loucas de Férias (2021)
Indicadas ao Oscar de melhor roteiro original por Missão Madrinha de Casamento (2011), Kristen Wiig e Annie Mumolo reúnem-se novamente no script de Barb and Star Go to Vista Del Mar. Sob direção de Josh Greenbaum e sem medo de brincarem com o sexo ou o absurdo, Kristen e Annie interpretam duas amigas que deixam sua cidade no Meio-Oeste pela primeira vez e se envolvem em uma trama de crime e romance na Flórida. Jamie Dornan, o Christian Grey de 50 Tons de Cinza e o assassino serial do ótimo seriado The Fall, mostra seu desprendimento para o humor. (HBO Max)
Em um Bairro de Nova York (2021)
Versão de um musical da Broadway concebido por Lin-Manuel Miranda (o mesmo de Hamilton) e Quiara Alegría Hudes, o filme de Jon M. Chu é uma vibrante celebração da cultura dos latino-americanos em Nova York.
É muito gostoso passar quase duas horas e meia na companhia de personagens como o dominicano Usnavi (Anthony Ramos), a manicure Vanessa e a Abuela Claudia. Ainda que também aborde agruras e sombras (preconceito, subemprego, gentrificação, assimilação cultural, processo de legalização etc), trata-se de uma injeção de alegria e de cores. Usando o rap, o hip-hop, a salsa e o merengue, traz coreografias empolgantes e fascinantes, que nos surpreendem e nos arrebatam ao aproveitar elementos do cenário — a tampa de um bueiro na rua, as unhas das clientes em um salão de beleza — ou investir nas técnicas de ilusão cinematográfica e nos efeitos visuais (vide a cena da piscina pública, que espalha dezenas e dezenas de dançarinos, ou o momento em que um casal começa a dançar sobre a parede e as janelas de um edifício). (HBO Max)
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (2021)
Se você quer reunir as crianças para a sessão de cinema em casa, a dica é assistir a este desenho animado dirigido por Michael Rianda e coassinado por Jeff Rowe. Na trama, os Mitchells (que lembram muito, inclusive fisicamente, os heróis de Os Incríveis, mas sem superpoderes) precisam salvar o mundo, que virou refém de um celular com inteligência artificial. Tem aventura, drama, crítica social e, claro, muito humor, tanto para os baixinhos quanto para os grandinhos (graças a uma série de referências, como as citações musicais de Kill Bill, de Quentin Tarantino). (Netflix)
Free Guy: Assumindo o Controle (2021)
A agitada comédia dirigida por Shawn Levy mergulha no universo gamer para narrar a aventura de Guy (Ryan Reynolds). Um bancário extremamente normal, o protagonista encara como rotineiros constantes tiroteios, explosões, acidentes e assaltos que presencia diariamente. Como isso é possível? É que Guy vive dentro de um jogo de ação, mas como um NPC (personagem não-jogável, ou seja, um figurante). Nem desconfia de que sua realidade é controlada por forças maiores — no caso, o dono da empresa do jogo, Antwan (Taika Waititi). Tudo começa a mudar quando o protagonista se apaixona pelo avatar de Molotov Girl (Jodie Comer, de O Último Duelo), uma jogadora do mundo real. (Star+)
Luca (2021)
O filme de animação da Pixar mantém o alto nível das produções do estúdio que faz parte da Disney, mas muda bastante o tom. Aqui, são deixados de lado temas como a morte, o luto, o esquecimento e a obsolescência. O desenho animado dirigido por Enrico Casarosa é uma aventura sobre aquele momento entre a infância e a adolescência que estamos tentando descobrir que o mundo é maior do que a gente conhece. A história se passa na Itália, durante um verão, e tem como protagonista um monstro marinho, o Luca, que, a convite de um amigo, o Alberto, resolve curtir a vida entre os humanos. É tudo muito divertido, mas eles precisam cuidar para não revelarem sua real identidade, e isso permite que Luca, o filme, seja visto como uma alegoria sobre a condição de grupos que costumam ser excluídos, oprimidos, desprezados, humilhados ou até agredidos pela sociedade, como minorias étnicas e religiosas, imigrantes, refugiados e a população LGBTQIA+. (Disney+)
No Ritmo do Coração (2021)
CODA, o título original do oscarizado filme da diretora Siân Heder, é a sigla de Child of Deaf Adults, filho de pais surdos. Trata-se da versão estadunidense de uma comédia dramática francesa, A Família Bélier (2014). A premissa é a mesma, trocando uma fazenda por uma cidade pesqueira: a adolescente Ruby (papel de Emilia Jones) serve de intérprete nos negócios e em tarefas cotidianas para os pais e o irmão mais velho, todos surdos — e todos interpretados por atores surdos: Troy Kotsur (premiado com o Oscar, o Bafta e o SAG Awards de melhor coadjuvante), Marlee Matlin (ganhadora do Oscar de melhor atriz por Filhos do Silêncio) e Daniel Durant. Atraída por um colega de escola que canta, Miles (Ferdia Walsh-Peelo) resolve se inscrever nas aulas do coral comandado pelo professor Bernardo Villalobos (o mexicano Eugenio Derbez, equilibrando humor, rabugice e ternura). A situação acabará criando um dilema para Ruby, abrindo portas para temas como amadurecimento, empatia e pertencimento. Prepare-se para se verter lágrimas, mas também para dar risadas, às vezes simultaneamente. (Amazon Prime Video)
Turma da Mônica: Lições (2021)
Foi o filme brasileiro de verão em 2022, atraindo 500 mil espectadores nas primeiras duas semanas de exibição. Baseado na homônima história em quadrinhos dos irmãos Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi e dirigido por Daniel Rezende (o mesmo de Laços, de 2019), Turma da Mônica: Lições tem ares de Universo Cinematográfico Marvel. Pais, fiquem tranquilos: os personagens criados por Mauricio de Sousa não descambam para a pancadaria típica dos Vingadores nem acessam algum tipo de realidade alternativa, como no recente Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. Mas, sim, o coelho Sansão é sacudido tanto quanto o martelo de Thor, há uma dupla ameaça física a nossos heróis mirins e o que acontece em uma peça de teatro — ou seja, em uma dimensão paralela — tem impacto dramático no mundo real. E mais: a exemplo da franquia inspirada nos quadrinhos estadunidenses, a adaptação do gibi brasileiro homônimo investe no povoamento do bairro do Limoeiro (estreiam Tina, Rolo e Franjinha, entre outros) e em cenas pós-créditos carregadas de surpresa, encanto e promessa. (Amazon Prime Video)
Velozes e Furiosos 9 (2021)
Como de hábito nos últimos segmentos da franquia, o filme do diretor JUstin Lin desconhece limites: não apenas de velocidade, mas também do exagero e do absurdo. A equipe liderada por Dominic "Dom" Toretto (personagem de Vin Diesel) precisa combater um bilionário do Leste Europeu que quer se apossar de um dispositivo supertecnológico para controlar o arsenal planetário de destruição em massa. Embora estejamos no nono capítulo, o enredo não exige muito conhecimento prévio — aos recém-chegados, diálogos informam, por exemplo, que a ciberterrorista Cipher (Charlize Theron) matou a mãe do filho de Dom em Velozes e Furiosos 8. E o principal antagonista é um irmão do herói, Jakob (encarnado por John Cena, o Pacificador de O Esquadrão Suicida), que jamais havia sido mencionado nos oito títulos anteriores. Mas isso pouco importa quando as cenas de ação vão ficando mais e mais trepidantes e mirabolantes. (Telecine)
Dog: A Aventura de uma Vida (2022)
O filme que fecha uma tetralogia animal informal — os outros são First Cow (2020), Pig (2021) e Lamb (2021) — marca a estreia do ator Channing Tatum e do roteirista e produtor Reid Carolin como diretores. Os dois já tinham trabalhado juntos em Magic Mike (2012) e Magic Mike XXL (2015). O protagonista é Jackson Briggs, dispensado do Exército por estresse pós-traumático. Empregado em uma lanchonete, ele tenta se candidatar a um rodízio militar no Paquistão, mas isso depende de uma recomendação de seu ex-comandante. Para tentar comovê-lo, Briggs aceita a missão que surge após a morte de outro traumatizado veterano de guerra, Riley Rodríguez: levar ao funeral dele Lulu, sua companheira canina no combate ao Estado Islâmico. O problema é que, após sete anos no front, a própria Lulu também carrega traumas. Ao longo do caminho de 2,4 mil quilômetros, homem e animal terão de aprender a conviver um com o outro e com suas próprias dores, além de enfrentarem desafios no contato com os demais personagens. E mais não conto para não estragar surpresas emocionantes ou engraçadas. (Em cartaz nos cinemas Cineflix Total, Cinemark Wallig, GNC Iguatemi e GNC Praia de Belas)
Lua de Mel com a Minha Mãe (2022)
A comédia espanhola dirigida por Paco Caballero não deixa de falar sobre coisas sérias, nem de passar sermão em maridos desatentos e filhos ingratos, mas investe mais alto na chave do humor. Tudo começa quando o jovem José Luís (Quim Gutiérrez) é abandonado no altar pela noiva. Para minimizar o prejuízo financeiro e para realizar um sonho materno, ele acaba aceitando viajar às Ilhas Maurício, na costa leste da África, tendo como "esposa" a própria mãe: Mari Carmen, divertida personagem vivida por Carmen Machi. A lua de mel de mentirinha será marcada por confusões e concessões, rendendo alguns momentos impagáveis — a cena do banho de sol à beira da piscina é hilária — e outros nem tanto. Entre um riso e outro, pode ser que, a exemplo do que ocorre com José Luís, muitos espectadores aprendam a ser filhos, deixando de ver a mãe apenas como a figura materna, a eterna cuidadora — antes disso, mais do que isso, elas também são pessoas, também são mulheres, com seus sonhos, suas alegrias e suas frustrações. (Netflix)
Top Gun: Maverick (2022)
Continuação de um filme icônico dos anos 1980, Top Gun: Ases Indomáveis (1986), a nova aventura aérea estrelada por Tom Cruise voa muito além do saudosismo. As ótimas cenas de ação também convidam à reflexão sobre temas bem atuais, como a substituição do humano pela máquina, e sobre a Hollywood contemporânea.
Mas é claro que também há um olhar para o passado. Um olhar e os ouvidos. O diretor Joseph Kosinski começa Maverick reproduzindo a abertura do primeiro Top Gun. Um letreiro apresenta a escola de elite para aviadores da Marinha dos EUA, criada em 1969 e apelidada de Top Gun. No crepúsculo, vemos a movimentação em um porta-aviões. Os aviões são diferentes, mas a música é a mesma. Na sequência, o agora capitão Pete Mitchell, codinome Maverick, veste a famosa jaqueta de couro com emblemas bordados, monta em sua moto Kawasaki e parte rumo a uma base militar. Esse exercício de nostalgia é um cumprimento aos fãs e um alerta aos mais jovens, que podem ficar alheios à graça de algumas piadas e indiferentes à carga emocional. O bom é que o roteiro recapitula momentos importantes. E que o filme de 2022 é muito melhor do que o original. Tom Cruise prova que ainda se pode fazer mágica à moda antiga. (Em cartaz em 30 salas de cinema de Porto Alegre)
Vamos Consertar o Mundo (2022)
O filme dirigido pelo argentino Ariel Winograd, o mesmo de O Roubo do Século (2020), guarda algumas semelhanças com outra comédia recente do país vizinho — Granizo (2022). Aliás, por coincidência os dois filmes começam com uma tempestade. Novamente, temos como protagonista uma figura proeminente da televisão que vai sofrer um revés profissional e que tem assuntos ligados à paternidade a resolver. É o produtor David, encarnado pelo ótimo ator Leonardo Sbaraglia. Esse personagem comanda um programa de boa audiência, em que atores fingem ser pessoas comuns convidadas a solucionar conflitos domésticos ou de trabalho. Como Granizo, Vamos Consertar o Mundo acrescenta toques de tragédia e de melodrama. Sem avançar muito na sinopse, basta dizer que David terá de aprender a ser pai de Benito (Benjamín Otero, um talento mirim), um menino de nove anos _ sendo que o filho pode nem ser seu. Uma vantagem em relação a Granizo é que Vamos Consertar o Mundo equilibra melhor os momentos de humor e de drama. Se serve como indicativo, ri mais com as desventuras de David do que com as do meteorologista Miguel e chorei quase convulsivamente na cena do abraço. (Netflix)