É fácil entender por que Velozes e Furiosos 9 (F9: The Fast Saga, 2021) tornou-se a maior bilheteria durante a pandemia — entre as produções de Hollywood, vale ressaltar, porque acima dele estão dois títulos da China, a nova dona da bola no mercado. Ainda em cartaz nos cinemas, o filme agora também está disponível no streaming, ao preço de R$ 49,90 na Apple TV, no Google Play e no YouTube, além de integrar o catálogo do NOW.
O coronavírus acabou contaminando o combustível desta franquia longeva — nasceu há exatos 20 anos — que, graças a um público fiel, ultrapassou a marca de US$ 1 bilhão nas duas sequências anteriores (a 7 e 8). Nos cinemas, Velozes e Furiosos 9 já arrecadou US$ 681,4 milhões, se aproximando do segundo colocado no ranking geral, Detective Chinatown 3, com 686,2 milhões. A estrada até o líder, Hi, Mom, é mais longa: essa comédia familiar autobiográfica fez US$ 822 milhões.
Como de hábito nos últimos segmentos, o novo filme desconhece limites: não apenas de velocidade, mas também do exagero e do absurdo.
Aliás, convém Tom Cruise, o astro da cinessérie Missão: Impossível, assistir às mirabolantes e trepidantes cenas de ação do filme dirigido por Justin Lin. É o mesmo realizador do terceiro, do quarto, do quinto e do sexto Velozes e Furiosos. Ou seja, foi o responsável pela transição de uma tetralogia ambientada no mundo das corridas ilegais de rua para uma saga que envolve traficantes de drogas, roubos milionários, espionagem, mercenários e assassinos profissionais, tudo temperado por problemas familiares e, claro, todo tipo de veículo motorizado.
A trama em si não tem a sofisticação das aventuras do agente Ethan Hunt: a equipe liderada por Dominic "Dom" Toretto (personagem de Vin Diesel) precisa combater um bilionário do Leste Europeu que quer se apossar de um dispositivo supertecnológico para controlar o arsenal planetário de destruição em massa. Embora estejamos no nono capítulo, o enredo não exige muito conhecimento prévio — aos recém-chegados, diálogos informam, por exemplo, que a ciberterrorista Cipher (Charlize Theron) matou a mãe do filho de Dom em Velozes e Furiosos 8. E o principal antagonista é um irmão do herói, Jakob (encarnado por John Cena, o Pacificador de O Esquadrão Suicida), que jamais havia sido mencionado nos oito títulos anteriores.
Como Missão: Impossível, Velozes e Furiosos tem um time de coadjuvantes interessantes, gravitando em torno do protagonista — destaque para a duro na queda Letty Ortiz (Michelle Rodriguez, presente em seis filmes) e para a interação cômica entre o ex-criminoso Roman (Tyrese Gibson, também com seis presenças), o inteligente mecânico Tej Parker (o ator e rapper Chris "Ludacris" Bridges, outro visto em seis segmentos) e a hacker do bem Ramsey (Nathalie Emmanuelri, a Missandei da série Game of Thrones, em sua terceira participação na franquia). Como Missão: Impossível, Velozes e Furiosos viaja o mundo. Já esteve no Rio de Janeiro e em Abu Dhabi, para citar alguns cartões-postais, e agora parte de Montecito, na Califórnia, para rodar por Edimburgo, Londres, Tóquio, Tbilisi (a capital da Geórgia, na Europa) e até o espaço sideral. Isso mesmo: se na vida real Elon Musk lançou, em 2018, um carro esportivo da Tesla para orbitar o Sol, por que na ficção a turma de Toretto não poderia fazer algo parecido?
É aí que Velozes e Furiosos 9 deixa Missão: Impossível para trás. O filme não tem pudor nenhum em forçar a mão nas sequências de ação, em desafiar a lógica e a ciência — o que é aquele momento "Carro-Aranha" nas montanhas? E esse abraço ao improvável e ao inverossímil também ajuda a explicar o retorno do público. Nestes tempos de pandemia, estamos precisando de homens e mulheres incríveis, capazes de voltar da morte e de colocar um carro para viajar ao redor da Terra. Estamos precisando de duas horas e pouco de escapismo e de uma linha bem clara separando os mocinhos dos bandidos. Estamos precisando das mensagens de união e reconciliação que os personagens transmitem — ainda que em altíssima velocidade ou aos socos e pontapés.