A greve dos caminhoneiros chegou ao 11º dia nesta quinta-feira (30) em declínio após comprometer a distribuição de combustíveis, alimentos e outros produtos em todo o Brasil. No início, a manifestação foi marcada principalmente por bloqueios em rodovias e pautada por pedido de queda nos preços dos combustíveis. Em seguida, a manifestação ganhou força e afetou o transporte público, supermercados, hospitais, escolas, prefeituras e uma série de serviços.
Nesta linha do tempo, entenda como começou, quais as reivindicações, os efeitos para a população e a reação do governo à greve dos caminhoneiros:
Dia 1 (segunda-feira, 21 de maio)
Reivindicações
Inicialmente restritas, manifestações de caminhoneiros contra a alta nos preços dos combustíveis começam a tomar alguns pontos de rodovias estaduais e federais pelo país. Os caminhoneiros pedem, entre outras providências, a redução das alíquotas da contribuição para PIS/PASEP e Cofins sobre as operações com óleo diesel, principal combustível dos caminhões.
A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), que reúne vários sindicatos espalhados pelo país, afirma que a paralisação busca atacar ao menos três questões que elevam custos e dificultam a realização de fretes no país. A categoria quer reduzir o peso de tributos sobre o óleo diesel e, consequentemente, diminuir o preço; cobra revisão na política de preços dos combustíveis da Petrobras; e solicita a extinção da cobrança de pedágios para eixos erguidos.
Efeitos
Protestos, marcados por bloqueios de rodovias, são registrados em diversos Estados. Há concentração de caminhões e queima de pneus em alguns trechos.
Reações
O governo afirma que não haverá mudanças na política de preços da Petrobras.
Dia 2 (terça-feira, 22 de maio)
Reivindicações
A adesão ao movimento ganha força com a convocação de motoristas e a circulação de informações via redes sociais. A greve dos caminhoneiros completa dois dias com reflexos diretos em setores produtivos e de serviços no Brasil. Pelo menos 24 Estados registraram manifestações em diversas rodovias.
Efeitos
Os postos em Pelotas, no sul do Estado, enfrentam falta de gasolina comum e aditivada. A General Motors (GM) suspende a produção na fábrica de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre. Produtores de aves e suínos enfrentam problemas com o transporte de insumos para rações e de animais para abate.
Reações
O presidente da Petrobras, Pedro Parente, reitera que "nunca passou pela cabeça do governo" a possibilidade de mexer na política de preços dos combustíveis, que segue o mercado internacional.
Ainda assim, a Petrobras anuncia o primeiro recuo nos preços da gasolina e do diesel nas refinarias, após cinco altas sucessivas. A continuidade da greve dos transportadores causa apreensão no setor dos postos de combustíveis, que teme problemas de abastecimento mais amplos.
O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirma que um acordo foi fechado com o Congresso para que a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) incidente sobre o diesel seja zerada.
Dia 3 (quarta-feira, 23 de maio)
Reivindicações
Novas manifestações marcam o terceiro dia de mobilização. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Grupo Rodoviário da Brigada Militar, não houve bloqueio formal para carros em nenhuma rodovia do Estado, mas houve registro de incidentes em alguns trechos.
Efeitos
Movimento bloqueia a entrada e a saída de caminhões-tanque em refinarias e distribuidoras. Sem receber reposição, os estoques dos postos baixam. Começa o corre-corre por combustível. Condutores de veículos que fazem o transporte por aplicativo também aderem à mobilização
Reações
A Petrobras anuncia, pelo segundo dia consecutivo, redução nos preços da gasolina e do diesel em suas refinarias. A Câmara dos Deputados aprova projeto que elimina a cobrança de PIS/Cofins sobre o diesel até o fim de 2018.
Dia 4 (quinta-feira, 24 de maio)
Reivindicações
Mesmo após o anúncio da queda nos preços dos combustíveis pela Petrobras, os manifestantes consideram que suas reivindicações não foram atendidas. O quadro de mobilização se agrava em todo o país.
Efeitos
A busca por combustível causa transtornos no território nacional, com filas de carros que davam voltas nas quadras prenunciando horas de espera para ter vez nas bombas.
Reações
Em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, o governo federal anuncia ações para suspender a greve dos caminhoneiros no país por 15 dias, com a celebração de um termo de acordo com os líderes da paralisação.
No entanto, dois participantes da mesa de negociações não assinam o documento. A tentativa do governo federal de arrefecer a greve dos caminhoneiros acaba surtindo efeito contrário. Insatisfeita com a maioria dos pontos do acerto entre líderes do governo e dos caminhoneiros, a categoria afirma que o movimento ganhou força com a falta de medidas que vão ao encontro das suas reivindicações.
Dia 5 (sexta-feira, 25 de maio)
Reivindicações
O fato de os pontos de paralisação terem aumentado após o anúncio do acordo na noite de quarta, sinaliza, segundo fontes do Planalto, que o movimento acredita continuar contando com apoio da população e que conta com a adesão de outras categorias nos protestos, como taxistas, motoristas de aplicativo e motoboys.
Efeitos
Vinte Estados e o Distrito Federal sofrem com a falta de combustível. Com isso outros serviços ficam comprometidos, como é o caso do transporte público.
A Polícia Federal passa a investigar a possibilidade de locaute na greve dos caminhoneiros. Locaute é caracterizado quando empresários de um setor contribuem, incentivam ou orientam a paralisação de seus empregados. Ou seja, seria uma greve liderada pelos empresários, com o intento de obtenção de benefícios para o setor, o que é proibido por lei.
Reações
A avaliação do próprio governo é de que o Planalto subestimou a proporção que a mobilização poderia tomar, um erro do sistema de inteligência, que é comandado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Um decreto assinado pelo presidente Michel Temer que determina o uso das forças federais para liberar as rodovias é publicado, em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). O texto autoriza o emprego das Forças Armadas no contexto da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) até o dia 4 de junho.
Dia 6 (sábado, 26 de maio)
Reivindicações
Apesar do acordo proposto pelo governo, a manifestação continua.
Efeitos
A greve dos caminhoneiros registra, pelo menos, 229 pontos com protestos nas rodovias do Rio Grande do Sul. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) divulga balanço que indica 81 locais onde há registro de concentração de manifestantes.
Petroleiros anunciam greve de três dias em todo o Brasil a partir de quarta-feira (30). A decisão ocorreu após reunião, por meio de videoconferência, entre a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e entidades em todo o país.
Reações
O presidente Michel Temer assina decreto que autoriza o poder público a requisitar "veículos particulares necessários ao transporte rodoviário de cargas consideradas essenciais".
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, informa que a Polícia Federal (PF) abriu 37 inquéritos para investigar a prática de locaute – quando empresários de um setor contribuem, incentivam ou orientam a paralisação de seus empregados – durante a greve dos caminhoneiros.
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, informa que o governo aplicará multas de R$ 100 mil por hora aos empresários que mantiverem a paralisação. Com base em uma liminar judicial, os motoristas autônomos poderão ser multados em R$ 10 mil por hora.
Dia 7 (domingo, 27 de maio)
Reivindicações
Os manifestantes querem desconto de 10% no valor do diesel que será cobrado na bomba, a ampliação desta redução de 30 para 60 dias e o fim da suspensão da cobrança de tarifa de pedágio para eixo elevado dos caminhões para todo o país.
Efeitos
A prefeitura suspende a circulação de ônibus no domingo em Porto Alegre. Com transporte público limitado e combustível em falta, os porto-alegrenses lotam de bikes a cidade.
Reações
Para tentar pôr fim à greve, o presidente Michel Temer cede, atende as reivindicações dos caminhoneiros e anuncia a redução em R$ 0,46 no valor do diesel, com corte em tributos como a Cide e o PIS/Cofins, por 60 dias.
São publicadas no Diário Oficial da União três medidas provisórias (MPs). A primeira determina que 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sejam feitos por caminhoneiros autônomos. A segunda institui a Política de Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargo, com o governo se comprometendo a publicar duas vezes por ano uma nova tabela de preço mínimo de frete por quilômetro de acordo com o tipo de mercadoria transportado. A terceira MP prevê isenção de cobrança de pedágio para eixo suspenso de caminhões vazios, em rodovias federais, estaduais e municipais, inclusive as que foram concedidas à iniciativa privada.
Enquanto Temer anunciava as medidas do governo para tentar encerrar a greve dos caminhoneiros, panelaços e buzinaços foram registrados em diversas cidades do país. Gritos de "Fora, Temer" também foram ouvidos.
Dia 8 (segunda-feira, 28 de maio)
Reivindicações
A greve dos caminhoneiros extrapola as pautas iniciais, já atendidas e focadas na redução dos preços dos combustíveis, e passam a ganhar destaque vozes que reivindicam intervenção militar no país, em movimento que já havia sido demonstrado nos dias anteriores.
Enquanto as entidades representativas se dizem satisfeitas com o acordo anunciado pelo governo, caminhoneiros autônomos dizem que pretendem continuar paralisados. Eles afirmam que não foram contemplados pela proposta do governo, e reclamam que a redução no valor do diesel é apenas temporária, dizendo ainda que a tabela mínima de fretes só funciona para os grandes empresários.
Efeitos
Em razão da greve dos caminhoneiros e da dificuldade de abastecimento, os ônibus de Porto Alegre voltam a operar com horários reduzidos.
A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) orienta as coordenadorias regionais a suspenderem as aulas em toda a rede pública estadual. Diversas universidades também cancelam as aulas de segunda-feira.
Com longas filas, alguns postos voltam a vender gasolina em Porto Alegre.
Reação do governo
O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirma que não há mais espaço para o governo federal realizar qualquer concessão adicional aos caminhoneiros. Guardia diz que o governo foi ao limite do que é possível ser feito para atender aos manifestantes e, igualmente, respeitar a responsabilidade fiscal e a Petrobras.
Dia 9 (terça-feira, 29 de maio)
Reivindicações
Caminhoneiros seguem bloqueando rodovias por todo o país. Pautas políticas se somaram aos pedidos dos grevistas. Não tendo o pedido por intervenção militar acatado, manifestantes pedem a renúncia do presidente Michel Temer.
Efeitos
Alguns postos registram filas quilométricas para abastecimento. Empresas e criadores de animais sofrem com o desabastecimento. Uma indústria precisou doar 150 mil galinhas por falta de ração para os animais. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS) retirou o apoio ao movimento dos caminhoneiros.
Revendedoras de gás de cozinha também estão desabastecidas no RS, sendo que das mais de 6 mil , apenas 10% estão recebendo carregamentos de botijões. Em Porto Alegre, um comerciante foi autuado por pelo Procon por cobrar R$ 100 por um botijão de gás.
Reação do governo
Muito criticada pelas entidades ligadas ao setor, a política de preços da Petrobras segue a mesma, de acordo com o presidente da estatal Pedro Parente. O ministro-chefe da Casa Civil Eliseu Padilha disse que autoridades estão investigando quem são os responsáveis por manter a paralisação. O governo reconhece que serão necessários alguns dias para que as coisas voltem a normalidade.
Dia 10 (quarta-feira, 30 de maio)
Reivindicações:
Mesmo em menor número, caminhoneiros seguem mobilizados em diversas rodovias pelo país. No Rio Grande do Sul, o movimento entrou em declínio ao longo da tarde em meio a ações mais enérgicas das forças de segurança estadual e federal em rodovias. Com o apoio das Forças Armadas e da Polícia Federal, o governo do RS começou a enfraquecer os focos de concentração de caminhoneiros no entorno das estradas.
Umas das ofensivas foi a de promover comboios para garantir o tráfego de motoristas que queriam seguir viagem, mas temiam represálias.
Efeitos
Com a liberação de rodovias, a situação do transportes começa a voltar ao normal no RS. O número de escoltas policiais para transportadores começa a diminuir, segundo o governo, e caminhões chegam a Ceasa, em Porto Alegre. O número de postos de combustíveis abastecidos aumenta. Mesmo perdendo intensidade, as filas nesses estabelecimentos seguem.
Reação do governo
O governo federal afirmou que conseguiu garantir a retomada de 53% do abastecimento de combustíveis no país. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, disse que a situação "caminha para a normalização", mas reiterou que a ação de infiltrados nos pontos de concentração tem impedido que parte dos caminhoneiros retomem suas atividades.
A Advocacia-Geral da União (AGU) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) petição adicional cobrando R$ 67,2 milhões em multas de outras nove transportadoras que descumpriram decisão liminar da Corte e não desobstruíram rodovias afetadas pela paralisação dos caminhoneiros.
Dia 11 (quinta-feira, 31 de maio)
Reivindicações
Poucos Estados no Brasil registram manifestação de caminhoneiros em rodovias. No Rio Grande do Sul, o dia começa com pelo menos oito pontos de concentração. Ao longo da tarde, esse número chega a zero.
Efeitos
Aos poucos, a normalidade no transporte e no abastecimento no Estado começa a retornar. As filas nos postos começam a diminuir e os serviços básicos ganham fôlego. Um empresário de Caxias do Sul é preso por suspeita de locaute.
Reação do governo
Em resposta ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que não há nenhuma possibilidade de o governo atuar para a redução do preço da gasolina.
Padilha falou sobre a manifestação dos caminhoneiros. O ministro disse que não há ilusão quanto ao custo da redução dos R$ 0,46 no preço do diesel e que quem vai pagar a conta pela redução no preço do diesel são “todos os brasileiros”.