A greve dos caminhoneiros extrapola as reivindicações iniciais, focadas na redução dos preços dos combustíveis, e vem ganhando apoio de vozes que reivindicam intervenção militar no país.
As manifestações vêm tanto de dentro quanto de fora do movimento dos caminhoneiros. Ontem, centenas de pessoas bloquearam a entrada do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea (3º GAAAe) do Exército, no bairro Rio Branco, em Caxias do Sul, gritando frases de ordem e pedindo a tomada do poder pelas Forças Armadas. O ato começou com um pequeno grupo, por volta das 13h. Às 16h, centenas de pessoas já balançavam bandeiras e portavam cartazes contra a corrupção. Havia caminhões com bandeiras do Brasil e faixas pedindo intervenção militar.
A maioria dos participantes soube da mobilização por meio de redes sociais, segundo Joseane Haefliger, que integra o grupo Patriotas de Plantão. No final da tarde, os manifestantes fizeram passeata pelas ruas centrais.
Em vários trechos interrompidos por caminhoneiros em estradas do Rio Grande do Sul é possível observar faixas semelhantes pedindo que as Forças Armadas assumam o governo federal.
Uma reportagem da BBC Brasil obteve acesso a cinco grupos fechados criados em redes sociais por caminhoneiros para difundir informações sobre a greve. Em todos, frases de apoio a militares começaram a ganhar força nos últimos dias.
ABCAM VÊ PEDIDOS COM PREOCUPAÇÃO
Em um vídeo, que se espalha por grupos de caminhoneiros pelo WhatsApp, um homem manda um recado em frente a uma impressora industrial que mostra centenas de adesivos prontos para serem colados nos vidros dos veículos: “Oi, galera. Sou caminhoneiro, estamos juntos aí na greve e estamos fazendo adesivos para colar nos nossos carros, nos dos colegas e nos de todo mundo que apoiar essa greve. Intervenção militar já. Se a gente não tirar esses corruptos do poder, a gente não vai para a frente, não”.
Em outro vídeo caseiro gravado em São Paulo, em meio a uma sequência de caminhões que bloqueavam uma rodovia, um motorista grita: “Representando o caminhoneiro brasileiro, o transportador de carga. Aqui tem brio, aqui tem sangue. (Estamos) parando São Paulo, parando o Brasil e indo para Brasília destituir os três poderes corruptos. Intervenção militar já. O povo está cansado de sustentar estes corruptos. Aqui é patriota.”
Neste domingo (27), a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) emitiu nota comentando os pedidos de ação militar.
– Estou observando que a maioria dos participantes dessa grande e única manifestação proclama por uma intervenção militar já. E confesso que estou muito assustado com essa posição. Então eu pergunto a todos esses que clamam por uma intervenção militar: “Vocês sabem o que é um intervenção militar?” (...) Não podemos clamar por uma intervenção militar, esse pedido está equivocado e não será o remédio apropriado para a nossa situação – afirmou o presidente da entidade, José da Fonseca Lopes.