No pronunciamento que fez agora à noite para anunciar um conjunto de medidas destinadas a encerrar a greve dos caminhoneiros, o presidente Michel atendeu às principais demandas e enterrou a política de preços adotada pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente, de correção do preço de acordo com a variação do dólar e do barril do petróleo no mercado internacional. Garantiu, no entanto, que a estatal não terá prejuízo: o impacto da redução do preço do diesel será absorvida pelo orçamento da União, que já está no vermelho. Apesar do recuo, os caminhoneiros resistem em encerrar a greve.
De diferentes pontos do Brasil, caminhoneiros gravam áudios ou escrevem mensagens para os grupos de WhatsApp _ principal forma de de comunicação entre os grevistas _ dizendo que não aceitarão a "esmola" de Temer. A estrutura das mensagens é mais ou menos parecida: o caminhoneiro se identifica, diz o município de onde está falando, o dia e o horário e manda seu recado. Boa parte das manifestações pede a saída de Temer usando linguagem chula.
"Agora é hora da população em geral aderir à greve e ir p rua p acabar com esse governo ou fica só nisso" , escreveu Eder Dalmolin,
"Mais forte ainda ficaremos", disse Jonas Toledo.
"Não aceitem essa esmola ele ta por fora. Força aí guerreiros. E ainda quis dizer q o q esta acontecendo no país é culpa nossa", escreveu Maurício Dalle Laste.
"Boa noite companheiros. Vinte e sete de maio de 2018. Vinte e uma horas e 58. Após uma piada nacional, segue o protesto de caminhoneiros de Capim Grosso. Não vamos ceder enquanto esse governo corrupto não sair, nós não vamos ceder", diz um dos áudios.
"Boa noite pessoal. Luiz Eduardo Magalhães, Bahia, 27 do 5 de 2018. Agora são 21 horas e 49 minutos. Continuamos na mesma,. Ninguém aceita não. Quarenta e seis centavos ele que pegue pra ele ", diz a mensagem gravada por uma mulher com sotaque baiano.
O deputado Ronado Santini (PTB), que acompanha a movimentação por esses grupos, ficou com a sensação de que a greve não terminará tão cedo:
_ A bronca está no fato de que não ficou assegurado que depois de 60 dias o preço não voltará aos níveis de hoje. Também há reclamações de que a mudança não atinge os demais combustíveis e que não se sabe se depois dos 60 dias os preços serão ou não condizentes com a inflação.
Temer nada falou sobre a gasolina, mas, para o diesel, a promessa é de redução de R$ 0,46 no litro do diesel por 60 dias, pela isenção da Cide e do PIS/Cofins. A partir daí, reajustes mensais, para garantir a previsibilidade reivindicada pelos caminhoneiros e sempre descartada por Parente.
Por medida provisória, Temer instituiu a isenção da cobrança de pedágio por eixo suspenso, tanto nas rodovias federais concedidas pela União, como nas estaduais.
O presidente atendeu também à demanda dos autônomos, de reservar a eles 30% dos fretes da Conab. Para completar o pacote, instituiu por medida provisória a tabela mínima de frete, prevista no projeto de lei 121, que tramita no Senado.
No pronunciamento, reafirmou que não haverá reoneração do setor de transportes rodoviário de cargas e fez um apelo aos caminhoneiros para que voltem ao trabalho para evitar a morte de pessoas e animais em consequência do desabastecimento de produtos essenciais.
Temer não fez menção ao pedido para que os governadores reduzam o ICMS, nem disse como pretende cobrir o déficit de R$ 13,5 bilhões aberto com a eliminação da Cide e do PIS/Cofins incidentes sobre o diesel, exigência do ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.