O cenário de quem precisou abastecer em Porto Alegre nesta quinta-feira (24) foi desanimador: filas de carros que davam voltas nas quadras prenunciavam horas de espera para ter vez nas bombas. Do início da manhã até o entardecer, a busca por combustível causou transtornos na Capital.
De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis no Estado (Sulpetro), a greve dos caminhoneiros bloqueou a entrada e a saída de caminhões-tanque na Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) e nas principais distribuidoras da Região Metropolitana, situação agravada a partir da tarde de quarta-feira (23). Sem receber reposição, os estoques dos postos baixavam rapidamente, em movimento acelerado pelo corre-corre dos motoristas.
— Fiquei mais de uma hora na fila, com medo de a gasolina ter acabado quando chegasse minha vez. Felizmente, consegui abastecer — disse a farmacêutica Tatiana Ness, 39 anos.
Ela saiu de casa às 8h de quinta, no bairro Ipanema, zona sul da Capital, e ao longo do trajeto até o trabalho viu apenas um posto ainda com combustível - e com extensa espera de veículos. Uma dezena de outros estabelecimentos pelo caminho estavam secos. Preocupada, decidiu dedicar a manhã para procurar gasolina; encontrou na avenida Getúlio Vargas, onde a fila dava volta na quadra. Para encher o tanque de 45 litros, gastou R$ 224 (R$ 4,89 o litro da aditivada, única opção disponível).
— Está uma fortuna, mas no desespero não tem como escapar — desabafou.
Na Avenida Ipiranga, próximo ao cruzamento com a Avenida Silva Só, um posto vendia apenas etanol. Motoristas angustiados com a espera desciam dos carros para ver se ainda haveria oferta quando chegasse sua vez. Muitos enchiam o tanque e ainda carregavam galões e garrafas pet de 5 litros. Certo momento, uma motorista furou a fila, subindo pela calçada e indo direto à bomba. Hostilizada por quem vinha atrás, desistiu de abastecer quando se deu conta que seu carro não era flex.
Com o passar das horas, mais postos encerravam as vendas e bloqueavam a entrada com cones e correntes plastificadas. Um dos últimos a ofertar combustível era um estabelecimento na esquina das avenidas Teresópolis e Vicente Monteggia, na Zona Sul de Porto Alegre. Para controlar a multidão, apenas duas bombas funcionavam, uma para motos e pedestres com galões, outra para automóveis. Ambulantes vendiam vasilhas de cinco litros por R$ 10 - vazios, claro. Dois brigadianos foram designados para acompanhar o movimento e atuar caso os ânimos se acirrassem.
— Ontem (quarta) enchi o tanque da moto e hoje (quinta) resolvi voltar para completar mais alguns galões. Dizem que essa loucura vai levar uns 15 dias, então vou me precaver por que preciso da moto para trabalhar — disse o motoboy Willian Henrique, 20 anos.
Mas a previsão (ou a esperança) de presidente do Sulpetro, João Carlos Dal'Aqua, é mais otimista. Ele esperava ainda para a noite de quinta trégua dos caminhoneiros para que as distribuidoras fossem liberadas. Alguns poucos caminhões-tanque que ainda circulavam escoltados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) abasteceriam os postos com uma gasolina reservada para forças de segurança. Não estava previsto reabastecimento para o consumidor comum.
— Mesmo que a greve encerre hoje (quinta), levará pelo menos uma semana para que a situação se normalizasse nos postos, uma vez que seria necessário reestabelecer a cadeia, com uma demanda grande de todos os postos — explicou Dal'Aqua.