Em meio à indefinição do governo federal na busca de soluções para o impasse, a greve dos caminhoneiros completou dois dias nesta terça-feira (22) com reflexos diretos em setores produtivos e de serviços no Brasil. Pelo menos 24 Estados registraram manifestações em diversas rodovias. No Rio Grande do Sul, o crescimento na adesão ao movimento já impacta setores da economia.
Um dos principais alertas foi dado pela General Motors (GM), que anunciou a suspensão de atividades em algumas unidades no país. Uma das plantas afetadas é a de Gravataí, na Região Metropolitana. Não há previsão para retomada da produção no complexo. A expectativa é de que a paralisação siga pelo menos até a manhã desta quarta-feira (23).
A continuidade da greve dos transportadores também causa apreensão no setor dos postos de combustíveis, que teme problemas de abastecimento mais amplos nos próximos dias. Em Pelotas, na Região Sul, alguns estabelecimentos já enfrentavam falta de gasolina comum e aditivada na tarde desta terça-feira.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes no Estado (Sulpetro), João Carlos Dal'Aqua, afirmou que o impacto ainda é pequeno e ocorre com mais frequência em cidades do Interior, onde donos de postos costumam transportar os combustíveis com veículo próprio e estocar menos.
Dal'Aqua destacou que se a greve persistir com força por pelo menos mais um dia, a tendência é de que a falta de abastecimento se amplie, pois os estabelecimentos gaúchos costumam trabalhar com dois dias de estoque em média:
— A partir de amanhã (quarta-feira), se for rigorosa a manifestação, deve começar a causar problemas mais contundentes.
No Estado, o movimento também afeta os setores de laticínios e derivados e de abates de aves e suínos. A Cooperativa Central Aurora Alimentos comunicou que vai paralisar totalmente as atividades das indústrias de processamento no Rio Grande do Sul e em mais três Estados amanhã e na sexta-feira. Com a medida, 28 mil trabalhadores diretos serão dispensados temporariamente e 2 milhões de aves e 40 mil suínos deixarão de ser processados nesses dois dias.
Outras regiões do país também registraram reflexos na cadeia produtiva e de serviços. Em Brasília, a operadora do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitscheck informou que a retenção de veículos que transportam a querosene de aviação em rodovias interditadas no entorno do Distrito Federal obrigou o contingenciamento de combustível estocado no aeroporto.
Foram registrados pelo menos 37 pontos de manifestação em 19 rodovias estaduais e federais no Estado nesta terça. Queima de pneus no entorno de pistas e bloqueios se repetiram. Em alguns trechos, como na freeway, em Gravataí, e na BR-101, em Três Cachoeiras, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) utilizou escolta para liberar vias. Com o apoio da tropa de choque e de um helicóptero, as viaturas passaram pelos locais e pediram a dispersão das concentrações que protestam contra o custo do diesel e a política de reajustes quase diários adotada pela Petrobras.
No campo político, o governo tenta achar meios de resolver a questão sem redução brusca na arrecadação de impostos pela União. Após reunião com ministros do primeiro escalão do governo Michel Temer, o presidente da petrolífera, Pedro Parente, anunciou que não haverá modificação no cálculo de preços dos combustíveis. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia(DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), anunciaram acordo para a União zerar uma das taxas sobre o diesel. O governo federal criou comitê de crise para acompanhar nacionalmente os efeitos da greve.
Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) defendeu, em nota, continuidade e "firmeza" nas manifestações. A entidade também pediu "um posicionamento efetivo" do governo em relação aos tributos sobre os combustíveis.
Impactos iniciais
Combustíveis
Os postos em Pelotas, no Sul do Estado enfrentam falta de gasolina comum e aditivada. O desabastecimento pode afetar todo o Estado caso a paralisação persista com força nos próximos dias.
Laticínios
O Sindicato das Indústrias de Laticínios e Derivados do Estado (Sindilat-RS) estimava que se o movimento não fosse encerrado até o fim desta terça-feira, não seria possível buscar leite nas propriedades nesta quarta-feira. O Sindilat-RS ingressou com ação na Justiça Federal para garantir o trânsito livre de caminhões que transportam o leite cru.
Produção de veículos
A General Motors (GM) suspendeu a produção na fábrica de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre. A companhia citou que o movimento dos caminhoneiros está causando falta de componentes e problemas na distribuição de veículos.
Aves e suínos
Produtores de aves e suínos enfrentam problemas com o transporte de insumos para rações e de animais para abate. A Aurora anunciou a paralisação total em unidades produtivas em quatro Estados, incluindo o Rio Grande do Sul, nesta sexta-feira. O Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa) encaminhou documento ao secretário estadual da Agricultura informando os transtornos causados pela greve dos caminhoneiros.