A paralisação dos caminhoneiros atingiu em cheio a indústria de proteína animal, ampliando a crise vivida pelo setor. Diferentemente das manifestações anteriores, cargas perecíveis não ganharam passagem, trazendo prejuízos para o país.
A preocupação cresceu na velocidade da luz, porque as empresas já vinham trabalhando com seus estoques a pleno. Frigoríficos de aves, por exemplo, sofreram os impactos do embargo anunciado pela União Europeia (UE) a 20 plantas brasileiras. E os de suínos ainda tentam contornar a suspensão de compras por parte da Rússia.
Agora, diante de novo percalço, há unidades que já se veem obrigadas a suspender os abates. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), nesta terça-feira (22), oito unidades haviam parado no país. Nesta quarta, esse número deve subir para 40. No Rio Grande do Sul, duas unidades de suínos da Alibem também param.
— Você pega um setor que vem enfraquecido, com Operação Carne Fraca, Operação Trapaça, embargo russo. Há todo esse contexto, que faz com que as empresas já estivessem com suas capacidades cheias. Veio tudo no mesmo momento — diz Ricardo Santin, vice-presidente de mercado da ABPA.
Somente BRF e Aurora estavam com 6 mil funcionários em férias coletivas, medida adotada para adequar a produção após a suspensão da UE.
A greve acrescenta incerteza a esse já tumultuado cenário.
A ABPA busca na Justiça a liberação de rodovias federais e os acessos aos portos, incluindo o de Rio Grande. Da mesma forma, o Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS) tenta obter liminar para escoar a produção.
Não está descartado o risco de desabastecimento de produtos ao consumidor. A projeção é embasada pela indústria da proteína animal na forma como o setor se organizou – a integração indústria-produtor exige sincronia de ações.
— Não adianta liberar transporte de frango, se você não puder levar ração para os animais. Para manter a qualidade do produto, as empresas estão parando — acrescenta Santin.
Diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos de Suínos do RS (Sips), Rogério Kerber reforça que as empresas não têm mais como armazenar produção e avalia:
— Esse movimento é diferente, o transportador está indignado, fragilizado e inviabilizado.
A entidade enviou documento ao secretário da Agricultura, Odacir Klein, relatando pontos impactados com a manifestação. A pressão é para que o governo federal adote ações rápidas, sob pena de ampliar as perdas já registradas.