Mesmo após a publicação de três medidas provisórias (MPs) para atender aos pedidos dos caminhoneiros, as rodovias gaúchas seguiram com mobilização na manhã desta segunda-feira (28). Enquanto as entidades representativas se dizem satisfeitas com o acordo do governo Temer e que precisam de tempo para esclarecer aos associados, caminhoneiros autônomos ouvidos por GaúchaZH dizem que pretendem continuar paralisados.
— A proposta de ontem (domingo) não nos contempla. Continuamos e continuaremos parados — afirmou Elisnândio Mota, autônomo que está mobilizado há sete dias junto à refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas. Ele diz estar em contato com manifestantes de pelo menos oito pontos do Estado.
A mesma opinião é compartilhada pelo grupo que está mobilizado na RS-239, em Araricá, no Vale do Sinos. Um dos integrantes, que prefere não se identificar, diz que o principal ponto de tensão está no prazo de 60 dias daredução de R$ 0,46 no valor do diesel:
— O movimento continua enquanto não tiver solução mais concreta. Sessenta dias é um prazo curto, solução temporária. Queremos solução definitiva para essa roubalheira que está aí.
O caminhoneiro critica também o que as entidades apontam como grande conquista do acordo, que é a estipulação de uma tabela mínima dos fretes:
— Isso não funciona, é só para os grandes empresários. Não resolve para a gente, para a maioria que trabalha em lugares menores no Interior — afirmou, acrescentando que, apesar da paralisação nas margens das rodovias, cargas hospitalares, medicamentos, cargas vivas , ambulâncias e carros de passeio continuarão passando, "como desde o início passaram".
Na avaliação de Bruno Tagliari, caminhoneiro autônomo não sindicalizado que está mobilizado em São Luiz Gonzaga, nas Missões, "90% dos caminhoneiros" não ficou satisfeito com o acordo e vai seguir de braços cruzados.
Ele chama a atenção para a ampliação da mobilização. Segundo Tagliari, no município, o comércio fechou as portas, nenhuma escola pública ou particular está aberta, nem universidade, e taxistas e motoristas de vans também paralisaram nesta segunda-feira.
— O povo da cidade, em geral, abraçou a causa e está vindo para a rua. E os caminhoneiros não querem deixá-los sozinhos no pedido por intervenção militar — afirmou o motorista, reforçando o aspecto de que as reinvindicações do movimento já extrapolaram os pedidos iniciais.
A favor do fim da greve
Dentre os motoristas ouvidos pela reportagem, Sérgio Gabardo, que também é dono de uma frota de mais de mil caminhões, foi o único a favor do fim da paralisação. Como argumento, ele utiliza justamente o que Tagliari destacou, mas sob outro ponto de vista:
— Hoje não é mais greve do caminhoneiro. Passei por alguns movimentos no fim de semana, e em alguns não tinha nenhum caminhão. Talvez tenha que começar a pensar se o povo está convencido da proposta, e não mais os caminhoneiros.
Gabardo disse que seus caminhões estão carregados e prontas para circular, mas que depende do fim da paralisação para que o seguro cesse a suspensão sobre as cargas.
— Tenho muitas contas para pagar — justifica ele.
As três entidades representativas do setor ouvidas por GaúchaZH consideram as MPs do governo Temer satisfatórias e são favoráveis ao fim da paralisação. No entanto, todos os dirigentes ponderam que a decisão, ao final, cabe aos motoristas que estão mobilizados.
Presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos (Fecam-RS), que reúne 12 sindicatos do setor, André Costa afirma que todas as reivindicações da categoria foram ao menos parcialmente atendidas e que a validade das MPs vai acabar próximo das eleições, quando poderá ser escolhido novo governo.
Ao mesmo tempo que comemora o apoio de outras categorias, lamenta que as reivindicações tenham se misturado e as expectativas tenham se modificado. Por isso, Costa diz que mobilizou toda a Fecam para explicar aos caminhoneiros nesta segunda-feira as mudanças anunciadas, para que eles decidam ou não pelo fim da paralisação.
— O desastre de quinta-feira (quando a primeira proposta foi anunciada pelo governo) foi consertado ontem (domingo). Agora, todo mundo tem sua consciência e o é senhor dos seus atos. Mas acho que vai cessar (a greve) — afirma Costa.
Veja o que dizem outras entidades:
O que diz a Abcam
A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) informa que "ainda não houve tempo hábil para que todos os caminhoneiros tomassem conhecimento da decisão tomada. A entidade vem trabalhando para que a informação do acordo chegue a toda categoria. Vale lembrar que ainda que a entidade se manifeste pelo fim das paralisações, nem todos os manifestantes seguem o mesmo entendimento. Mas acreditamos que até o fim da tarde de hoje a quantidade de caminhões parados tenha sido reduzida de forma significativa".
O que diz a Unicam
Em conversa com GaúchaZH, o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, o China, disse que ainda precisa estudar as medidas provisórias para se manifestar, pois a entidade não participou da reunião no domingo (27) que culminou no acordo. Silva reforça que a entidade não convocou greve e, por isso, não pode cessá-la. Ele disse ainda que considera positiva a redução do diesel por 60 dias e que vai repassar isso aos associados. No entanto, destaca que há muitos líderes neste movimento que as entidades não têm poder de fazer com que os caminhoneiros voltem ao trabalho.
O que diz a CNTA
A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) prometeu divulgar nota, mas até as 11h30min não havia enviado.