Mesmo com o acordo firmado entre representantes dos caminhoneiros e o governo federal, na noite desta quinta-feira (24), o clima é de incerteza quanto à retomada das atividades da indústria e dos serviços afetados pela paralisação, que completa cinco dias nesta sexta (25). No Rio Grande do Sul, parte da categoria não acena com a possibilidade de encerrar as manifestações nos próximos dias.
O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Ijuí, Carlos Alberto Litti Dahmer, um dos presentes ao encontro com ministros do governo Temer em Brasília, disse que foi convidado a se retirar da reunião após não concordar com os termos do acordo.
Dahmer disse que vai orientar os caminhoneiros da Região Noroeste a "não arredar o pé" e seguir com a mobilização na região:
— Isso não resolve. Não vai dialogar com a categoria. Esse acordo não traz pontos essenciais, como o piso mínimo de frete e a redução de PIS/Cofins, onde governo e nem Congresso chegam em um acordo para zerar.
Em entrevista coletiva, os ministros Valter Casimiro (Transportes), Carlos Marun (Secretaria de Governo), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Eduardo Guardia (Fazenda) citaram alguns pontos firmados nas negociações. Ficou acordado, por exemplo, que a redução do preço do diesel em 10% será fixada por 30 dias e que a tabela de frete será reeditada a cada três meses.
Dahmer afirma representar cerca de 18 mil caminhoneiros, espalhados por 150 municípios do noroeste gaúcho. Para ele, o movimento não deve perder força nos próximos dias, no Estado e no país, já que isso não ocorreu nem após a redução no preço do diesel anunciada na quinta-feira (23) pela Petrobras.
O presidente da Associação dos Caminhoneiros de Soledade, Felipe Corneli, também afirma que, na região, a categoria não deve aderir ao acordo sugerido pelo governo. Corneli diz que o foi apresentado não é o suficiente, pois, segundo ele, o governo quer apenas enfraquecer o movimento com propostas que não vão resolver os problemas dos caminhoneiros:
— O governo quer desmobilizar o movimento. Vamos continuar do jeito que está. Firme, com os produtores e a sociedade do nosso lado. Essas propostas dele (governo) são bobagens. Em 15 dias, eles voltam tudo ao normal.
Já o presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos (Fecam) no Rio Grande do Sul, André Costa, diz que a entidade não vai se posicionar sobre o caso. No entendimento do dirigente, quem vai decidir se aceita a trégua ou não é a categoria que está concentrada nas ruas, pois a paralisação é espontânea.
No Brasil
O presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, acredita que a paralisação está definitivamente terminada no país. Para ele, o governo deu contrapartidas suficientes à categoria.
— Não vejo necessidade (de continuar a greve), porque as conquistas firmadas de fato já dão condição de estabilidade para a categoria. A começar pela redução no óleo diesel. Uma redução de 10% e política de reajuste a cada 30 dias é um alívio, diante do trauma que a categoria estava vivendo — disse.
Como devem ficar os serviços nesta sexta-feira:
Ônibus em Porto Alegre
Com a possibilidade de continuidade da greve, os ônibus de Porto Alegre terão, na sexta-feira (25), o mesmo esquema de redução de horários usados nesta quinta (24). O motivo é a dificuldade de abastecimento de combustível.
Ônibus intermunicipais
As empresas de ônibus que fazem viagens intermunicipais de longa distância no RS estão traçando estratégias desde quinta-feira para atender os passageiros sem comprometer os destinos das viagens. Por conta da greve dos caminhoneiros, Planalto, Unesul e Expresso Embaixador planejam mudar a programação nesta sexta-feira.
Justiça
Estão suspensos nesta sexta-feira os expedientes na Justiça Federal e no Tribunal Regional Federal da 4º Região (TRF4) devido à greve dos caminhoneiros.
Universidades
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a maior do Estado, cancelou as atividades letivas nesta sexta e no sábado (26). A Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) é outra que resolveu suspender as atividades até sábado. Feevale e Unicruz também estão entre as instituições que suspenderam as aulas nos próximos dias.
Prefeituras
A Famurs, entidade que representa os municípios gaúchos, avalia que pelo menos 384 prefeituras devem restringir serviços de transporte nesta sexta-feira no Estado devido à greve. A consulta feita aos prefeitos indicou que 77% deles vão paralisar os serviços que utilizam combustíveis, garantindo apenas os atendimentos na área da saúde.
Aeroporto Salgado Filho
Na tentativa de amenizar os reflexos da greve dos caminhoneiros, duas remessas de combustíveis foram encaminhadas ao aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, na tarde de quinta-feira (25). A ação, que contou com escolta policial, garante que as operações no terminal ocorram normalmente até o meio-dia, caso a greve persista, segundo a empresa que administra o terminal.
Abastecimento de água
A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) informou, na tarde de quinta-feira, que pode ocorrer falta de água nas regiões Sul e Central do Estado em decorrência da greve dos caminhoneiros. O motivo é a escassez de químicos para tratamento da água.
Combustíveis
Caso o fim da greve não se confirme, a expectativa é de que o desabastecimento de combustíveis em postos do Estado siga nesta sexta-feira. Entre quarta e quinta-feira, diversos motoristas enfrentaram filas para abastecer.
Alimentos
Com a possibilidade de prosseguimento da greve, o risco de desabastecimento de carne, aves ehortifrúti é alto. Alguns supermercados de Porto Alegre já apresentam falta de produtos. O Carrefour estabeleceu máximo de produtos por cliente.