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A conta dos prejuízos com a paralisação dos transportadores rodoviários de cargas — autônomos e empresas — vai muito além do que deixou de ser produzido, vendido ou foi jogado fora. A crise dos últimos dias mina ainda mais a confiança no Brasil e é fator adicional a frear o ritmo de recuperação da economia. Como ficará o apetite para se investir em um país cada vez mais radicalizado, com risco de outra vez não se pacificar mesmo após as eleições? Em uma semana, estabilização política e econômica parece ter ficado muitos meses mais distante. O frete para o futuro ficou mais caro.
Uma das poucas iniciativas em que o governo Temer parecia ir bem era a de aparentemente livrar a Petrobras da ingerência política, uma percepção que ficou maculada com a decisão da empresa de reduzir o preço do diesel em 10% por 15 dias. Quando a companhia anunciou a intenção de vender algumas refinarias, um das dúvidas apontadas por especialistas era exatamente a tradição brasileira de intervir no mercado de combustíveis. Agora, é um ponto de interrogação que ficou ainda maior. Ao sabor das pressões, o que vale hoje pode ser rasgado amanhã.
Mesmo que se possa discutir o critério de repassar diariamente as oscilações do petróleo e do dólar, para formar o preço da gasolina e do diesel a estatal agia de acordo com os preceitos do livre mercado. Mas agora cresce a percepção de que empresários — em tese contrários à intervenção do Estado — insuflaram o movimento por se sentirem prejudicados pelas regras do jogo. Tentaram virar a mesa. Ganharam um subsídio que vai agravar ainda mais a situação fiscal do país. E que, no fim, será pago pelo contribuinte.
Em meio aos protestos, algo ainda mais preocupante, fruto de uma era em que grupos de WhatsApp recheados de fake news são a principal fonte de "informação" de muitos brasileiros. Em faixas, a intervenção militar aparece como solução. Nunca é demais lembrar a herança do período dos generais deixada para a democracia: depois de um surto de crescimento, restou hiperinflação, dívida externa, achatamento de salários e aumento da desigualdade. Com o Judiciário controlado, a imprensa censurada e a Polícia Federal mais preocupada em perseguir subversivos, parecia não existir corrupção. As trajetórias de políticos como Paulo Maluf, Fernando Collor de Mello e José Sarney indicam o contrário.