O aumento do preço do diesel foi estopim da revolta dos caminhoneiros, mas a raiz da crise é outra. A origem do desequilíbrio é o descasamento entre a demanda e a oferta de transporte. Recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) mostra que, ao final de 2017, a frota circulante de caminhões no país era de 2,03 milhões de veículos.
O número é 37% superior a 2010, muito acima do crescimento da procura por frete. De lá para cá, o PIB acumula alta bem menor: 10,9%, sendo 7,5% somente em 2010. A industria teve retração de 6% no período, conforme o IBGE. Na primeira metade da década, quando a economia começava desacelerar, o BNDES fez jorrar crédito subsidiado para a compra de veículos pesados. Assim, a disponibilidade de caminhões, principalmente por autônomos, subiu demais, avalia Luiz Afonso Senna, professor de transportes da escola de engenharia da UFRGS.
- Eram pessoas que deixaram os seus trabalhos e foram ser motoristas de caminhão. E é uma categoria que tem de pegar o preço do frete oferecido. Não tem poder de barganha – observa Senna.
Análise semelhante tem o assessor técnico da NTC&Logística, Lauro Valdívia. Ele lembra que empresas ainda podem parar parte da frota para se adequarem à demanda. Autônomos, em regra donos de um veículo apenas, têm de rodar para ter renda e pagar financiamento.
– Esse descasamento gerou um frete baixo. Se estivesse bom, eles não estariam reclamando do preço do diesel – resume Valdívia.
Segundo o especialista, o valor do frete tem uma defasagem entre 25% e 30% desde 2014, quando a economia começou a parar. Aos poucos, diz Valdívia, o desequilíbrio iniciava uma reversão. A crise fez vítimas entre empresas e autônomos, enxugando a oferta. Com a atividade se reanimando, mesmo devagar, a demanda também melhorava. Mas aí veio a súbita alta do diesel, e a conta deixou de fechar novamente.
Senna lembra que, como aconteceu em greves anteriores, as soluções são de improviso. Em outros episódios, por exemplo, se permitiu aumentar a carga dos caminhões, com o inevitável dano às rodovias. Agora, em situação fiscal delicada, o governo federal propõe subsidiar o diesel. Aumenta o rombo e repassa a conta para o contribuinte. Outra vez, resolve às pressas um problema criando outro.