A paralisação dos caminhoneiros, que causa desabastecimento, interrompe fábricas e ameaça os transportes, é como uma supercereja no bolo de problemas do país, assolado pelo desgoverno. Dólar em alta pelo juro americano, crises geopolíticas a encarecer o petróleo, fragilidades fiscais internas, atividade cada vez mais letárgica e desemprego alto são apenas alguns dos ingredientes dessa receita que não poderia ter resultado diferente: a economia brasileira sairá deste episódio ainda mais fraca. E a lenta recuperação, com o adicional da incerteza sobre as eleições deste ano, será mais penosa.
O economista-chefe da corretora Spinelli, André Perfeito, acabou de refazer cálculos. A projeção para o PIB de 2018 caiu de 2% para 1,8%, um corte afetado também pelos reflexos de episódios recentes como a comunicação atrapalhada do Banco Central ao manter o juro, a desconfiança com a Petrobras ao reduzir o preço do diesel em 10% e o agravamento do quadro fiscal nacional com a solução encontrada de desonerar combustíveis.
- São vários fatores que se autoalimentam, e o governo não demonstra capacidade de segurar as pontas - avalia Perfeito.
A Serasa Experian, que tem vários indicadores de atividade, também vai revisar sua previsão de PIB para baixo. Por enquanto, está em 2,5%. Uma das razões é a paralisação, mas é cedo para isolar esse efeito, até por não se saber quanto tempo vai durar, pondera o economista-chefe da Serasa, Luiz Rabi.
- Em um país em que 80% da movimentação de cargas é rodoviária, é óbvio que impacta. Cadeias produtivas e indústrias foram paralisadas. Produtos do agronegócio estragaram no caminho - lembra Rabi.
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) também cortará a projeção do PIB, hoje em 2,6%.
- Vai ficar perto de 2% - diz Fabio Bentes, chefe do departamento econômico da entidade.
É difícil quantificar o peso dos acontecimentos da semana e seus efeitos indiretos, mas eles estarão lá, diz Bentes. Não apenas na atividade, mas por afetarem inflação e, talvez, Selic. Há ainda o agravante de que a solução encontrada por Brasília acentue o desequilíbrio das finanças públicas, o que tende a piorar a visão dos agentes econômicos sobre o país.