O Comando Militar do Sul, em conjunto com Polícia Rodoviária Federal e Brigada Militar, iniciou na manhã desta quarta-feira (30) um plano de intervenção nas rodovias do Rio Grande do Sul. Ao contrário do clamor de parte dos manifestantes que militam na greve dos caminhoneiros, o Exército não entrou em ação para romper a democracia e tomar o poder no país, mas para escoltar motoristas que estavam presos em pontos de mobilização em estradas e conduzi-los em segurança, para que deixassem os focos de protesto sem correrem riscos de represália. Apesar da ação, dezenas ainda relutam e fincam pé nos pontos de revolta.
As mobilizações ocorreram em diversas regiões do Estado, mas uma das localidades onde houve maior intensidade foi no noroeste gaúcho. Às 13h33min desta quinta-feira, um comboio com 18 caminhões de grande porte estava estacionado na BR-285, no trecho de Entre-Ijuís.
Na pista, dezenas de militares armados com fuzis montavam forte esquema de segurança, com quatro jipes e duas motocicletas prontas para iniciar a escolta. O grupo aguardava ordens para seguir adiante, já que o esquema é compartimentado por trechos. Este comboio continha diversos veículos que estavam retidos em São Borja. Em cada trecho do percurso, eram resgatados e acompanhados por um grupo militar diferente, divididos por região.
Entre os caminhoneiros do comboio, estavam Halei e Paulo Daltoe, 71 e 35 anos, pai e filho. Cada um levou um caminhão carregado de adubo de Rio Grande até São Borja. Na cidade fronteiriça, conhecida como a "terra dos ex-presidentes", encheram as caçambas de grãos para levar até Encantado, município onde moram. Iriam voltar para casa carregados. Mas a greve estourou e ficaram presos em São Borja.
— Só queríamos ir para casa, mas não deixavam. A pauta inicial da greve havia sido atendida. Ficamos dias parados, gastando o que não se tem. Fomos abordados na estrada e tivemos de parar. Não recebemos ameaça, mas nem precisava — relata Paulo, o filho.
Por medo de perder a proteção da escolta no meio do caminho, eles pretendiam seguir com as forças do Exército e das polícias até a rodoviária mais próxima. Chegando a um terminal, arrumariam lugar para estacionar os caminhões em segurança, onde possam buscá-los quando as coisas serenarem de vez, e tomariam um coletivo.
Eles contaram que, em São Borja, viram muitas famílias de caminhoneiros locais na greve, participando das mobilizações. Mas também pessoas de outros setores.
— Muito fazendeiro e arrozeiro infiltrado — relata Paulo.
Próximo do trevo de entrada de Entre-Ijuís, em um ponto neutro, onde não havia protesto, uma unidade do 1º Batalhão de Comunicações de Santo Ângelo montou um grupo de monitoramento. Em um jipe, sete militares estavam de guarda.
Mais cedo, às 9h desta quarta-feira, houve intervenção conjunta do Exército, da PRF e da BM nas concentrações de caminhoneiros em Ijuí, cidade em que cerca de 300 veículos estavam estacionados à margem da BR-285. A ação contou até mesmo com auxílio de helicóptero, mas transcorreu de forma pacífica. Os militares oferecem escolta para quem deseja seguir viagem em segurança. Os que que desejam permanecer paralisados não sofrem transtornos.
Pela característica da abordagem, sem uso de força, dezenas de caminhoneiros estão optando por permanecer nos pontos de paralisação, à beira da BR-285. Foi o que ocorreu em Ijuí. O contingente de carretas paradas diminuiu, o movimento na rodovia começa a ser retomado, mas ainda há mobilização pela greve.
Intervenções semelhantes do Exército, da BM e da PRF foram realizadas nesta manhã em Guaíba, Santa Rosa, Cruz Alta, Panambi e Santo Antônio das Missões — nesta última, a adesão ao convite de escolta foi baixo.
Entre os que desejam circular, nem todos dão a sorte de encontrar forças de intervenção. Osmar Gonçalves, 51 anos, empregado de uma empresa de transporte, estacionou sua carreta carregada de trigo junto à 10ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal, em Ijuí. Relatava medo de seguir sozinho e ter o veículo atacado. Precisava levar a mercadoria até São Luiz Gonzaga e queria auxílio da PRF. Foi orientado a tomar a estrada sozinho.
"A greve já acabou", lhe disse o único agente que estava no local, enquanto fazia contatos com outros policiais que atuavam nas intervenções nas rodovias.