Embora pelo Brasil as manifestações iniciadas por caminhoneiros estejam sendo aos poucos desmobilizadas, no Rio Grande do Sul, dezenas de locais mantêm grupos concentrados na beira de rodovias – e não mostram perspectiva de esmorecer.
A reportagem de GaúchaZH foi até alguns desses pontos saber por que há resistência.
Na BR-116, na altura do km 234, em Novo Hamburgo, um punhado de caminhoneiros recebeu reforço de moradores da região ao longo da manhã desta terça-feira (29), assim como vem ocorrendo principalmente desde o final de semana.
Ao meio-dia, havia mais empresários, trabalhadores e crianças do que caminhoneiros – o total é difícil de calcular, pois há muita movimentação. Havia nove caminhões estacionados. Parte do grupo de manifestantes fez bloqueios intermitentes nos dois sentidos da rodovia por cerca de uma hora e meia.
A cena contrastava com uma fila vagarosa e quilométrica de carros que aguardava gasolina no Posto Sapatão, localizado a menos de um quilômetro da manifestação.
Ocupando de margem a margem uma das rodovias gaúchas mais importantes, os manifestantes erguiam faixas para os ambos os sentidos pedindo por intervenção militar.
Dentre os cartazes menores, um clamava "por um Brasil melhor" e outro afirmava que "não é só pelo diesel! e, sim, pela redução de todos impostos!!!". Um terceiro ainda requisitava apoio da população: "Se você apoia, pare. São só cinco minutos".
Entrevistamos cinco participantes do movimento – dois caminhoneiros, um que trabalha na logística de veículos de carga e dois empresários locais. Todos se manifestaram contra o acordo firmado pelo governo federal com entidades representativas no domingo (27), mas sem entrar nos detalhes.
Esbravejaram que querem mais do que a redução no diesel, solicitam também da gasolina e do etanol, e esperam que, com isso, os preços da comida e até da conta de luz sejam mais baratos. É o que salientou Diogo Bauer, empresário de 35 anos que foi caminhoneiro por 15:
— Não consigo nem dormir pensando nas contas que tenho para pagar. Não precisa nem baixar os impostos, mas que eles sejam revertidos para o que a gente precisa — afirmou ele, sem especificar uma pauta.
Como solução, os cinco entrevistados disseram acreditar na intervenção do Exército para tirar os corruptos do poder.
— Achamos que ia ser essa noite, que os militares iam sair nas ruas. Ficamos vendo TV, mas não foi — contou o caminhoneiro Eduardo Bartz, 43 anos, vestindo um chapéu verde-amarelo-azul.
Além da televisão, ouvem rádios e acessam redes sociais, mas há muitas críticas à cobertura nacional dos protestos. Por isso, o principal meio de informação tem sido o WhatsApp.
— Ali, sei quem está falando. É o meu primo que está no Mato Grosso e manda um áudio, uma foto. Ou um amigo lá em Três Cachoeiras (litoral norte gaúcho), que conta tudo ao vivo — afirma Bartz, que trabalha há 25 anos na boleia.
Ele chegou a acampar na margem da BR-116 no final de semana, mas agora vai vez ou outra para casa, ali mesmo em Novo Hamburgo. Os demais entrevistados também moram na região e incorporam a paralisação durante o dia. As refeições ali são feitas mediante doações, ou então nas próprias casas. A promessa é de que na quinta-feira (31), feriado de Corpus Christi, o movimento ganhe força.
— Quinta-feira vai ser bonito, pode esperar — anunciou a empresária Sandra Chicatte, 43 anos.