Há 12 anos, o Bráulio Boaventura Reis se veste de Papai Noel e percorre os bairros de Caxias do Sul distribuindo brinquedos, doces e levando o espírito natalino. A bordo de um buggy decorado com luzes e elementos que remetem à data, Reis parte com a esposa, o filho e duas irmãs na missão de fim de ano. A mãe, falecida em dezembro do ano passado, também ajudava na confecção de presentes.
No entanto, o Natal de 2024 terá um sentimento especial: Reis recebeu, em maio, um transplante de rim e, como ele mesmo define, uma nova vida.
— Todo mundo tem medo de cirurgia, né? Eu fui com medo. Feliz e com medo. Agora, vida nova, tudo novo. Eu estou superbem — comemora.
No último ano, mesmo fazendo hemodiálise, Reis não deixou de fazer o trabalho de Papai Noel. Isso porque, segundo ele, muitas famílias contam com a presença do bom velhinho a bordo do buggy.
— Eu não vou nas festas. Eu vou onde o pessoal não vai. Lá Cânyon, por exemplo. Lá embaixo, que ninguém faz nada. Eu sei que eles sempre estão me esperando. Quando começa a descer o morro e eu coloco a música no buggy, parece que tu mexeu num formigueiro, porque vai saindo gente de tudo que é lado — relembra, feliz.
Por isso, no último ano, mesmo com o sério problema de saúde, não deixou de desempenhar a função de bom velhinho. Reis lembra que, em 2023, pediu à médica que o acompanhava durante a internação no hospital que o liberasse para que, na noite do dia 24 de dezembro, pudesse percorrer os bairros da cidade levando balas e presentes.
— Eu disse: "doutora, tenho que estar na casa de uma criança, ela está me esperando". Ela me liberou e fui. Cansado, porque a hemodiálise tira toda tua energia, saía de lá acabado — recorda.
Neste ano, o Papai Noel Bráulio segue desempenhando a função, mas com mais disposição e saúde. O bem-estar após o transplante possibilitou até a retomada de uma pequena oficina de brinquedos na própria casa, onde ele e a família recuperam brinquedos quebrados e lavam bichos de pelúcia, que, depois, serão distribuídos às crianças dos bairros percorridos.
Todos os itens são doados, mesmo que possuam alguma pequena avaria. Em casa, Reis os transforma em novos com a ajuda da esposa, Nelva Vizioli.
— Recebemos roupas, móveis, fogão... E a gente dá para as pessoas que precisam, a gente sabe quem precisa. Neste ano, já ajudamos a mobiliar umas quatro casas de imigrantes venezuelanos. Tem as mecânicas que me ajudam com o buggy, o pessoal que me apoia nas caixas de bala e nos brinquedos. Temos muitos parceiros para fazer acontecer — orgulha-se.