A paralisação de caminhoneiros que já chega ao nono dia e começa a afetar setores inteiros da economia ocorre em um momento particularmente delicado, quando a expectativa de uma reação mais vigorosa estava cedendo lugar à constatação de que a velocidade esperada não se confirmava. Nesse cenário, o desabastecimento provocado pela greve, que provoca perdas no campo, na indústria e no comércio embute o risco de provocar uma desarrumação na atividade produtiva, alerta o economista Samuel Pessôa, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
– O maior problema foi a facilidade com que um grupo de pressão desorganizou a vida das pessoas e a dificuldade de resposta do governo – avalia o economista. – O que já ocorreu até agora tem um impulso de estagflação (economia parada e preços em alta). O desabastecimento desorganiza a capacidade produtiva e tem impacto ruim sobre os preços.
Botijão de gás a R$ 100, quilo de tomate por R$ 16 são alguns exemplos das distorções de preços já provocadas pela falta de transporte de produtos básicos. O que subiu, pondera Pessôa, tende a voltar quando a oferta se normalizar, mas até lá vai provocar efeito inflacionário. Como as previsões são de que o abastecimento será retomado gradualmente, quando as estradas forem liberadas, é possível que essa flutuação dure por algumas semanas, o suficiente para ter repercussão mais relevante.
– Espero que o governo tenha mais pulso, porque até agora está fraco – lamenta Pessôa.
Mesmo a resposta do Planalto às reivindicações dos grevistas, avalia o economista, contribui para o desarranjo da economia ao reeditar preços tabelados para fretes, que também contribuem para desorganizar a fixação de valores de todos os setores, já que todo tipo de mercadoria é transportado por caminhão.