A paralisação dos transportadores rodoviários impõe perdas bilionárias à economia gaúcha. Levantamento da Federação das Indústria do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) indica que o prejuízo das fábricas chega, até agora, a R$ 1,6 bilhão.
Os segmentos de bebidas, laticínios e alimentos são os mais prejudicados, mas também há impactos nas áreas químicas, veículos e máquinas.
A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS) também projeta reflexos negativos de R$ 1,6 bilhão, mas para toda a atividade e no período de uma semana. O cálculo da entidade leva em consideração um PIB do Estado na ordem de R$ 420 bilhões, ou seja, R$ 1,151 bilhão diários.
Deste total, cerca de R$ 20%, ou R$ 230 milhões, seria o montante que deixou de circular por dia de bens de ciclo curto – rapidamente consumidos após serem produzidos, como alimentos e combustíveis.
— Esta greve custou muito caro para a sociedade. É algo que teremos de absorver. Não vejo como recuperar. E vai demorar ao menos uma semana para voltarmos à normalidade, com a reposição dos produtos — avalia o presidente da FCDL, Vitor Koch.
Reflexo nas fábricas
Com a paralisação atingindo agronegócio, indústria, comércio e serviços, a arrecadação de ICMS do Rio Grande do Sul também será afetada, admite o subsecretário da receita estadual, Mário Luis Wunderlich, que, entretanto, ainda prefere não estimar a perda de receita com o imposto. A frágil situação fiscal do Estado tende a se agravar tanto pela paralisação de parte da atividade nos últimos dias quanto pelo reflexo da crise na retomada da economia do país.
— Muitas fábricas colocaram seus funcionários em férias porque não tinham insumos em seus estoques. A produção parou em frigoríficos. O setor de arroz, que gera ICMS ao vender para fora do Estado, também vai ter impacto — ilustra.
Praticamente todas atividades relatam perdas, mas poucas têm contabilidade dos prejuízos. As indústrias ligadas a itens de origem animal são as que conseguem fazer levantamento mais rápido, devido à característica perecível dos seus produtos.
Impacto por segmento
Agronegócio
No setor de leite, a projeção é de R$ 10 milhões por dia, devido à impossibilidade de recolher a produção no campo, processar e comercializar. No de aves, R$ 20 milhões todos os dias. Para os frigoríficos de suínos, R$ 14 milhões. Com a falta de alimentos para animais, há relatos até de canibalismo, informa a Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs).
Varejo
O presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), Ricardo Diedrich, prevê resultado desastroso para o mês. Os números, devem ser conhecidos apenas na próxima semana.
— Será o pior maio em muitos anos. As pessoas não estão com espírito para consumir — constata o dirigente.
Segundo Diedrich, os relatos que recebe de várias cidades do Interior são de ruas vazias e comércio fechando as portas por falta de clientes ou apoio aos caminhoneiros.
Bens de capital
A avaliação da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas de Equipamentos (Abimaq) é de que, no Estado, mais de 90% das 2,2 mil empresas do setor foram afetadas. Os estabelecimentos não conseguem receber insumos e nem despachar os produtos fabricados, o que afeta o faturamento. A expectativa é de que, nos próximos dias, se a situação se normalizar, parte das perdas seja revertida.
Supermercados
Acompanhamento da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) é de que, em termos de faturamento, ainda não há impacto devido à grande procura por alguns gêneros na semana passada. Produtos de higiene, limpeza e de mercearia ainda têm estoques de até 10 dias. A preocupação é maior com lácteos, carnes e hortigranjeiros. Há também dúvida quando ao fornecimento de gás, o que pode afetar a panificação nos supermercados.
Indústria de transporte
Em Caxias do Sul, onde se concentra grande parte da indústria ligada ao setor de transporte no Estado, as maiores empresas – Randon, Marcopolo e Agrale – estão paradas, o que também afeta as companhias menores, fornecedoras. O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs), Reomar Slaviero, diz que mais da metade das 3,2 mil indústrias ligadas à entidade, na região, foram afetadas pela paralisação nos transportes. Não recebem insumos, não expedem produtos acabados e os funcionários não conseguem chegar para trabalhar.
Porto de Rio Grande
Ainda opera com os produtos que estavam nos armazéns e pátios, mas o fim dos estoques é iminente, levando à impossibilidade de continuar a carga e descarga dos navios. Desde domingo, ocorrem protestos nas vias de acesso aos terminais especializados. No terminal de contêineres (Tecon), funcionários são impedidos de entrar, “o que ocasionou a suspensão total das atividades de hoje (segunda-feira)”, informou a superintendência do porto. Outras categorias, como estivadores, aderiram à greve.