O desabastecimento nas cidades é a face mais evidente dos efeitos da mobilização dos caminhoneiros. Mas os prejuízos se multiplicam, em diversos segmentos. Ontem, agricultores do Rio Grande do Sul tiveram de colocar fora leite armazenado nas propriedades. Segundo o Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat-RS), cerca de 10 milhões de litros de leite deixaram de ser recolhidos, 80% do volume habitualmente coletado por dia.
Na propriedade familiar de Adriane Bertoldo, em Nova Bassano, 3 mil litros de leite tiveram de ser descartados depois de dois dias sem recolhimento do produto por parte da empresa para a qual fornece.
– Nosso resfriador tem capacidade para 3 mil litros. Quando encheu, nos obrigamos a colocar fora – lamenta a produtora, que tem 45 vacas holandesas, que somam produção diária de 1,5 mil litros.
Diariamente, os produtores ficam à espera de informações sobre se será ou não possível recolher o leite:
– Dependemos do caminhão para buscar a produção. E não é só o prejuízo do que a gente joga fora, tem mais a ração, a luz, várias coisas que se somam aos custos.
A produtora sofre duplamente com a paralisação. Além do leite, produz suínos. Os frigoríficos, igualmente afetados, não têm conseguido buscar os animais.
Hoje, as empresas de aves e de suínos do Estado ficarão paradas.
– Ainda não dá para calcular o prejuízo, mas é grande e real – diz Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do RS.
Levantamento feito ontem contabilizava que, a cada dia de paralisação, 22 milhões de frangos, 150 mil suínos e 90 mil bovinos deixam de ser abatidos, só nas unidades com inspeção federal.
Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirmou que ainda não havia ocorrido a liberação de cargas vivas em “vários pontos de parada do movimento de greve nas estradas”. Há relatos de animais que estão há mais de 50 horas sem alimentação.
Em desabafo feito por meio de uma rede social, um produtor de leite do Estado afirmou:
– Vocês (caminhoneiros) desligam a chave dos caminhões, não têm mais gasto com nada. Eu não tenho como desligar as vacas.