Após atingir em cheio a indústria de proteína animal, a de leite e a produção de hortifrutigranjeiros, a mobilização dos caminhoneiros começa a impactar o mercado de grãos. Empresas têm saído da posição de compra, e a incerteza quanto ao frete e ao tempo de entrega está freando vendas de soja e de milho.
— Ninguém entra no mercado sem saber essas duas variáveis. Freou completamente os negócios com grãos — afirma Carlos Cogo, consultor em agronegócio.
A Associação das Empresas Cerealistas do Rio Grande do Sul (Acergs) enviou documento no qual sugere que os associados suspendam temporariamente as compras de grãos. A orientação vale até que o mercado fique mais claro, explica o presidente da entidade, Vicente Barbiero:
— Na semana passada, a situação estava tranquila. O grande problema é que as agroindústrias não estão comprando.
Metade dos grãos comercializados no RS passa pelas cerealistas. Nas cooperativas, que movimentam a outra metade, a situação também preocupa. Tanto que a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro) marcou reunião para esta terça-feira (29) em que discutirá o assunto.
— As cooperativas estão comprando do produtor, mas não estão conseguindo vender para os clientes, que são indústrias e tradings. O mercado não está equilibrado — observa Paulo Pires, presidente da Fecoagro.
Tem ainda, segundo o dirigente, muita gente que fez contrato futuro e agora não tem como entregar a mercadoria.
Uma empresa do Estado que tem no grão de soja seu principal insumo confirma que saiu do mercado de compras – desde quinta-feira, indústrias de processamento da oleaginosa também estão paralisando operações pela dificuldade em obter a matéria-prima.
Cogo ressalta que, por ora, não existe risco de desabastecimento:
— O somatório de tudo o que está ocorrendo terá reflexo ali na frente, como atraso na entrega, no embarque dos grãos. Mas ainda não consigo enxergar isso a ponto de causar desabastecimento interno.