A condição meteorológica pode ter sido determinante para a ocorrência do acidente aéreo que vitimou 10 integrantes de uma família, na manhã deste domingo (22), em Gramado. É o que apontam especialistas consultados por Zero Hora.
Para o presidente do Aeroclube de Canela, Marcelo Sulzbach, a observação de imagens indica que pode ter ocorrido uma rápida piora na condição visual por conta de nevoeiro e nebulosidade.
— Ele (Luiz Claudio Salgueiro Galeazzi) embarca a família às 8h56min. Aciona os motores às 9h02min. Decola às 9h12min. Do tempo de embarque até a decolagem, a meteorologia degradou. Na forma popular, podemos dizer que o tempo piorou muito — comenta.
Sulzbach compartilhou imagens de câmera do condomínio onde reside, próximo ao aeroporto. Na gravação é possível ver a aeronave partindo para a subida e, logo em seguida, desaparecendo no meio da neblina.
— Após a decolagem, ele ingressou num banco de nevoeiro. Some na imagem — diz Sulzbach, que é piloto com experiência superior a 20 anos. O aeroclube, enfatiza, funciona como entidade associativa, escola de aviação e não participa da gestão do aeroporto.
O especialista em segurança de voo e examinador de pilotos Fábio Borille concorda que o fator determinante para o acidente seria a condição meteorológica.
— O aeroporto, no momento da decolagem, encontrava-se fechado. A gente não pode dizer que havia condição visual de voo, porque não tinha — analisa.
Segundo Borille, uma alternativa seria a obtenção de permissão para voo visual especial, que é concedida pelo controle de tráfego aéreo.
Para obter tal permissão, informa o especialista, seria necessário haver pelo menos 3 mil metros de visibilidade horizontal e 1,5 mil pés de teto (altura acima do solo).
— Pelas imagens, não tinha 50 pés de teto — descreve.
Contudo, Borille destaca que, embora o aeroporto estivesse fechado, o local não dispõe de serviço de controle do tráfego e, portanto, a decisão de decolar é do piloto.
Veja a lista de mortos
- Luiz Claudio Salgueiro Galeazzi - piloto
- Tatiana Natucci Niro - esposa de Galeazzi
- Maria Eduarda Niro Galeazzi - filha de Galeazzi e Tatiana
- Maria Elena Niro Galeazzi - filha de Galeazzi e Tatiana
- Maria Antonia Niro Galeazzi -filha de Galeazzi e Tatiana
- Lilian Natucci - sogra de Galeazzi
- Veridiana Natucci Niro - irmã da esposa de Galeazzi
- Bruno Cardoso Munhoz Guimaraes Araújo - marido de Veridiana
- Giulia - filha de Veridiana e Bruno
- Matteo - filho de Veridiana e Bruno
Como foi o acidente
Um avião caiu na manhã deste domingo (22), em Gramado, na serra gaúcha, e matou 10 pessoas. A queda aconteceu na região da Avenida das Hortênsias, no bairro Avenida Central.
Conforme a Infraero, a aeronave de prefixo PR-NDN decolou do Aeroporto de Canela às 9h15min e tinha como destino Jundiaí (SP).
Dez pessoas da família Galeazzi estavam a bordo do avião, um Piper Cheyenne, com motor à hélice. Todas morreram.
O empresário Luiz Cláudio Galeazzi, proprietário da aeronave, pilotava o avião no momento do acidente.
Como será a investigação
A apuração sobre as circunstâncias do acidente será realizada pela Aeronáutica, através do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Por nota, a autoridade militar informou que o trabalho foi iniciado logo após a notícia sobre a tragédia.
"Neste domingo (22/12), investigadores do Quinto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA V), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), localizado em Canoas (RS), foram acionados para realizar a Ação Inicial de uma ocorrência em Gramado (RS) envolvendo uma aeronave de matrícula PR-NDN", diz o texto.
Conforme a Aeronáutica, a ação se inicia com "técnicas específicas, conduzidas por pessoal qualificado e credenciado que realiza a coleta e a confirmação de dados, a preservação dos elementos, a verificação inicial de danos causados à aeronave, ou pela aeronave, e o levantamento de outras informações necessárias à investigação".
Os resultados serão divulgados em breve, define a nota, que também indica que é por meio da emissão e publicação do Relatório Final que órgão se pronuncia sobre os resultados de suas investigações.
"A conclusão dessa investigação terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade da ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes", conclui o texto.
Anac lamenta o acidente
Consultada, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) remeteu nota na qual aponta "lamentar profundamente o ocorrido". "Nos solidarizamos com os familiares e amigos das vítimas".
Em seu texto, a agência governamental reforça que informações relacionadas a incidentes e acidentes aeronáuticos devem ser levantadas com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que é o órgão responsável pela apuração e registro de ocorrências dessa natureza.