Embora as três primeiras posições continuem as mesmas, meu ranking com os 20 melhores filmes de 2020 foi bastante sacudido pelo que assisti no terceiro trimestre do ano. O Fantaspoa – o Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre – e a Netflix mudaram metade da lista.
Por isso, tive de acomodar alguns títulos da primeira leva em menções honrosas – muitas menções honrosas. Afinal, são filmes que merecem ser vistos e não merecem ser esquecidos. Mesmo assim, acabaram ficando de fora obras de que gostei muito, como O Caso Richard Jewell, de Clint Eastwood, o iraniano Uma História Cabeluda e o canadense O Declínio.
Valeram apenas filmes que estrearam nos cinemas ou no streaming a partir de 1º de janeiro. Coloquei na ordem decrescente de preferência conforme meu estado de espírito nos últimos dias. Quase todos foram comentados aqui na coluna – clique nos links. E deixe seu comentário, mesmo que seja para chorar por uma ausência ou reclamar de uma presença.
Menções honrosas: para os monólogos de Jamie Foxx e Rob Morgan sobre racismo e pena de morte em Luta por Justiça (*); para a ação vertiginosa e catártica de Resgate, com Chris Hemsworth (**); para a história de amor e tragédia contada por meio de vídeos caseiros e depoimentos de ex-namoradas em Mystify: Michael Hutchence, documentário sobre o vocalista da banda INXS morto em 1997 (**); para a delicadeza melancólica de Você Nem Imagina, o filme adolescente da temporada (**); para a estética e o ritmo narrativo de Tempo de Caça, meu filme sul-coreano da temporada (**); para a releitura de um clássico do terror em O Homem Invisível, agora simbolizando os relacionamentos abusivos (*); para a aproximação de religião e violência de O Diabo de Cada Dia, personificada pelos pastores interpretados por Harry Melling, um apocalíptico exibicionista, e Robert Pattinson, um pecador às escondidas (**); para a sátira de Jojo Rabbit sobre o nazismo (***); e para os curtas de Feito em Casa, em que diretores e atrizes como Pablo Larraín, Paolo Sorrentino e Kristen Stewart refletem sobre os efeitos da pandemia e do distanciamento social (**).
20) Barry Fritado: um alienígena possui o corpo de um sul-africano doidão e passa a explorar a Terra em uma jornada de sexo, drogas e violência, mas também de afeto, reconciliação e até heroísmo. (****)
19) Butt Boy: um criativo estudo sobre compulsão e solidão que parte de uma premissa escatológica para demonstrar muita sensibilidade. (****)
18) Entre Realidades / Joias Brutas: dois atores associados a papéis cômicos – Alison Brie e Adam Sandler – interpretam personagens com um distúrbio mental que distorce suas leituras da vida. Como os filmes foram lançados na mesma semana, considero-os um díptico. (**)
17) Zumbis no Canavial: o Documentário: será que o norte-americano George A. Romero se inspirou em um obscuro filme argentino para fazer o clássico A Noite dos Mortos-Vivos? (****)
16) O Poço: um homem acorda em um presídio vertical que representa a desigualdade social no mundo. (**)
15) Destacamento Blood: a Guerra do Vietnã e a era Donald Trump conectadas pelo reencontro de quatro ex-soldados negros. (**)
14) Zana: o trauma de uma mulher se mistura ao trauma de um país, o Kosovo, ambos atormentados pelas lembranças da guerra ocorrida em 1999, que matou a filha única da protagonista. Agora, ela vive pressionada pelo marido e pela sogra para engravidar novamente. Mas como pensar em vida se a morte não sai da alma? (****)
13) Mignonnes: o polêmico filme levanta o debate sobre a adultização e a sexualidade infantil – o que nossas crianças andam imitando? Qual é o papel dos adultos? (**)
12) Adoráveis Mulheres: em um filme com atuações, música e figurinos arrebatadores, um dos grandes acertos foi a mudança na estrutura cronológica do livro – os flashbacks foram cuidadosamente organizados e encenados para comparar e opor situações e emoções. (*****)
11) Ninguém Sabe que Estou Aqui: Jorge García, o Hurley do seriado Lost, dá show em um solo silencioso neste filme chileno. (**)
10) Crimes de Família: um retrato da tradicional família hipócrita, seja argentina (no caso do filme) ou brasileira, que cultiva na aparência os vínculos afetivos e dorme sob a proteção de Cristo, mas é capaz de mentir, burlar, ameaçar, corromper. (**)
9) Estou Pensando em Acabar com Tudo: de carro, um casal de namorados convida o público a, literalmente, embarcar em uma viagem verborrágica. (**)
8) O Farol: um farol, dois marinheiros e inúmeras possibilidades de interpretação em um espetáculo de virtuosismo técnico em um ambiente claustrofóbico. (***)
7) 1917: uma mensagem, dois soldados e outro espetáculo de virtuosismo técnico, agora em meio ao horror da Primeira Guerra Mundial. (***)
6) Ausente: na Finlândia, um pai descobre a capacidade de, aleatoriamente, se teleportar para algum lugar do mundo – o que começa em tom de comédia culmina em um final dilacerante. (****)
5) Pedra, Papel e Tesoura: na Argentina, dois irmãos, Jesus e Maria José, recebem a visita da meia-irmã, Magdalena, após a morte do pai, dando início a um suspense claustrofóbico. (****)
4) Rede de Ódio / O Dilema das Redes: a ficção polonesa e o documentário americano formam um díptico quase obrigatório para os dias de hoje. O primeiro mostra o impacto de haters, milícias digitais e fake news na vida real. O segundo expõe as engrenagens das gigantes da tecnologia e aponta as consequências globais da mudança nos comportamentos pessoais. (**)
3) Os Miseráveis: retrato exasperante das tensões sociais nos subúrbios de Paris, acabou ofuscado à época do Oscar por conta do amplo favoritismo de Parasita na categoria de melhor filme internacional. (*)
2) Retrato de uma Jovem em Chamas: a paixão como uma pintura que vai ganhando camadas de tinta até nos hipnotizar por completo. (***)
1) Você Não Estava Aqui: o veterano cineasta inglês Ken Loach comparece com o grande filme sobre a precarização do trabalho. (***)
(*) Disponível em Apple TV, Now, Google Play e YouTube
(**) Disponível na Netflix
(***) Disponível em Telecine, Apple TV, Now, Google Play, YouTube e Vivo Play
(****) Exibido no Fantaspoa e sem previsão de estreia comercial no Brasil
(*****) Disponível em Apple TV, Google Play, YouTube e Vivo Play