O Carnaval costuma ser associado a muitos dias de festa e bastante bebida. Esses dois fatores, combinados com alimentação desbalanceada e pouca hidratação, são um prato cheio para a ressaca. A condição, bastante conhecida pelos foliões, pode causar mal-estar, dores musculares e de cabeça, entre outros sintomas.
Ressaca é o nome dado a um conjunto de sintomas que costumam aparecer após o consumo de bebida alcóolica ou drogas ilícitas. Segundo Giovani Gadonski, nefrologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a condição é um efeito tardio e pode surgir até 24h após a ingestão dessas substâncias, quando os níveis de álcool no sangue já baixaram.
— No momento em que uma pessoa ingere grande quantidade de álcool, ela desvia a função do fígado e torna prioritário o processamento dessa substância, fazendo com que a digestão e outras funções importantes para o corpo fiquem de lado. É um esforço muito maior que o fígado costuma fazer — explica.
Sendo assim, é normal que pessoas com problemas no fígado ou que tomem remédios que sejam processados por esse órgão, como antibióticos e alguns tipos de antidepressivos, tenham ressacas mais fortes que outras. Fatores como idade e peso também influenciam, uma vez que a capacidade de processar o álcool também depende da velocidade em que o metabolismo de cada indivíduo atua.
— A forma como esse álcool foi ingerido e o tipo de bebida também são aspectos associados aos sintomas de ressaca. Por exemplo, tomar cerveja o dia inteiro pode ter um efeito diferente do que sentar e beber meia garrafa de uísque. A intensidade da ressaca pode ser maior dependendo da quantidade e qualidade do álcool — pontua o nefrologista.
Sintomas da ressaca
Além desses fatores, outras atitudes comuns entre os foliões podem aumentar a intensidade dos sintomas da ressaca. Dormir pouco, comer alimentos gordurosos e ultraprocessados em excesso e beber pouca água podem deixar o processamento do álcool ainda mais trabalhoso.
Os sintomas mais comuns da ressaca são:
- Dor de cabeça
- Sensibilidade à luz
- Desidratação
- Enjoo
- Gosto ruim na boca
- Diarreia
- Cansaço extremo
- Dores nas articulações
- Sensação de boca seca
- Fraqueza
- Tontura
Como tratar a ressaca
A melhor forma de lidar com a ressaca, segundo Gadonski, é evitando-a. Além de maneirar na quantidade de álcool, é importante manter a hidratação durante a folia. A dica do nefrologista é intercalar a bebida alcoólica com outros líquidos, como água ou água de coco, por exemplo. Nesta mesma linha, é aconselhável não tomar uma grande quantidade de álcool de uma vez só. O ideal é tomar uma quantidade menor de álcool em um período mais prolongado.
— Em tese, a ressaca também deve ser menor se a alimentação for menos rica em gordura e alimentos leves. Um churrasco, por exemplo, vai dar ainda mais gordura para o fígado processar e vai deixar o processo mais devagar. E é necessário tomar muita água. Um bom medidor é a cor da urina. Se estiver amarela escura ou laranja, é sinal de desidratação, então precisa beber mais água — defende.
A intensidade da ressaca pode ser maior dependendo da quantidade e qualidade do álcool.
GIOVANI GADONSKI
Nefrologista do Hospital São Lucas
Para Gadonski, intervalos de descanso e boas horas de sono entre as folias também são importantes para evitar a ressaca. No Carnaval, é normal que as pessoas emendem muitos dias de festa e isso pode afetar a recuperação.
Fora isso, não existe uma forma de fazer o fígado processar o álcool mais rápido ou um medicamento mágico que acabe com a ressaca na hora. É possível, porém, tratar os sintomas para que a sensação de mal-estar não seja tão forte. Para as dores de cabeça ou nas articulações, por exemplo, é possível tomar analgésicos. O nefrologista recomenda, porém, que anti-inflamatórios e outros remédios que possam afetar o rim e o fígado sejam evitados.
Chás para ressaca
Os chás podem ser aliados para aliviar os sintomas da ressaca e, ainda, ajudar a manter a hidratação em dia pós períodos intensos de consumo de bebida alcóolica. Gadonski alerta, porém, que alguns chás raros podem ser tóxicos para o fígado e devem ser evitados. O consumo dos mais comuns, porém, é encorajado.
- Chás para indigestão: alcachofra, camomila, carqueja, erva-de-bugre, espinheira-santa, funcho, hortelã-pimenta, sálvia, sálvia-da-gripe e marcela
- Chás para dor: camomila, calêndula, carqueja e erva-de-bugre
- Chás para dor de barriga: alcachofra, camomila, carqueja, erva-de-bugre, espinheira-santa, erva-doce, hortelã-pimenta, mil-folhas, losna, sálvia-da-gripe e marcela
- Chás diuréticos: pitangueira, picão-preto, pata-de-vaca, losna e sabugueiro
- Chás antidiarreicos: goiabeira e pitangueira
— Os chás são um mundo, que vai de camomila até Santo Daime. Então não é qualquer chá que é aconselhado. Esses mais comuns estão liberados, ajudam no bem-estar e na hidratação. Em algumas revistas sérias de medicina, também recomendam chá de dente-de-leão para aliviar os sintomas da ressaca. Pode ser uma boa opção — sugere Gadonski.
*Produção: Yasmim Girardi