Depois da catástrofe climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul em maio do ano passado, o mínimo que se espera dos recém-empossados administradores municipais é que tenham discernimento para dar respostas mais rápidas e mais eficientes aos cidadãos nas situações de emergência. Estamos em pleno período de tempestades de verão e as precipitações volumosas, muitas vezes acompanhadas de vento e granizo, costumam causar danos à infraestrutura urbana, privando a população de serviços básicos, como energia, água e transporte. Se tudo isso é esperado e previsível, é desejável que as ações do poder público e o restabelecimento da normalidade também o sejam.
Depois da chuva e dos transtornos, veio a já conhecida enxurrada de desculpas
Infelizmente, não foi o que se viu em Porto Alegre no primeiro dia do ano. Bastou uma chuva localizada para ruas ficarem alagadas, bueiros botarem água de volta, o sistema de bombeamento deixar de funcionar por falta de energia elétrica e o transporte sofrer os danos de sempre, inclusive com interrupção da operação do trensurb. Até mesmo a cerimônia de posse do secretariado da Capital teve que ser suspensa porque a Usina do Gasômetro, reformada ao custo de R$ 20 milhões, ficou sem luz e apresentou goteiras. Foi, sem dúvida, um recomeço constrangedor para o novo mandato do prefeito Sebastião Melo.
Depois da chuva e dos transtornos, veio a já conhecida enxurrada de desculpas: o Departamento Municipal de Águas e Abastecimento (Dmae) alegou falta de energia nas casas de bombas, a CEEE Equatorial disse que todo o seu efetivo estava trabalhando para recompor a rede danificada pelo vento e pela queda de árvores, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPCT) argumentou que a maioria dos semáforos apagados era consequência da falta de luz. Mas os cidadãos que tiveram suas propriedades alagadas, ficaram impedidos de se deslocar, perderam o dia de trabalho e sofreram prejuízos não querem saber mais de explicações. Querem soluções.
Não é possível que casas de bombas essenciais para o escoamento da água acumulada continuem a depender de uma única fonte de energia, sem a alternativa de geradores e redes complementares. Também não se pode mais aceitar que locais propícios a alagamentos, já suficientemente identificados, não contem com mecanismos de prevenção e solução emergencial. Por fim, é de se esperar que os prestadores de serviços públicos sejam cobrados e responsabilizados por obras malfeitas.
As administrações de Porto Alegre e dos demais municípios gaúchos vulneráveis a intempéries precisam passar por um choque de eficiência, tanto para oferecer respostas rápidas nas situações de emergência quanto para tranquilizar suas populações, compreensivelmente traumatizadas por tragédias e transtornos repetidos. Já não basta dizer que a proteção contra turbulências climáticas é uma prioridade dos planos dos governos municipais. É preciso que seja uma ação continuada e permanente, que inclua prevenção adequada, comunicação eficaz e mobilização eficiente na prestação de socorro aos atingidos e na reativação dos serviços interrompidos.