Considerados os aspectos marcantes da retrospectiva de 2024 em nosso país — a crise climática representada por cheias, incêndios e estiagens, as dificuldades do governo federal para cortar gastos e controlar a inflação, o indiciamento criminal de políticos e autoridades envolvidos num plano golpista e a crescente animosidade entre os poderes da República —, é perfeitamente compreensível a descrença de muitos brasileiros em relação ao futuro imediato do país. Mas esse desencanto não pode ser encarado como sentença definitiva, até mesmo porque cada virada no calendário representa uma nova oportunidade para a correção de erros pretéritos e para a formulação de planos mais realistas e factíveis.
O aumento do pessimismo não é apenas uma hipótese. É uma realidade mensurável. Pesquisa recente encomendada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) nas cinco regiões do país demonstra que menos da metade dos entrevistados (49%) acredita que o Brasil vai melhorar em 2025. Foram consultadas 2 mil pessoas, entre os dias 5 e 9 deste mês de dezembro. O resultado contrasta com igual levantamento feito em dezembro de 2023, quando 59% dos brasileiros ouvidos confiavam na melhora do país neste ano que está se despedindo.
Como já ocorreu em outras nações, sempre é possível aperfeiçoar condutas individuais e coletivas por meio de instrumentos democráticos reconhecidos como a educação, o regramento e as necessárias sanções sociais para infratores
Num âmbito mais abrangente, essa frustração já tinha ficado evidente nas últimas eleições municipais, com o fracasso inquestionável do partido do governo e o avanço de siglas e candidatos mais identificados com a oposição. A desilusão está diretamente relacionada às dificuldades do governo Lula para implementar o equilíbrio das contas públicas — num cenário em que a arrecadação cresce, mas os gastos públicos são cada vez mais elevados e parecem incontroláveis. Em paralelo, percebe-se uma preocupante degradação das relações institucionais entre os poderes da República, evidenciada pela batalha em torno das emendas parlamentares, que inclui chantagem de parcela do Legislativo sobre o Executivo, uso político de verbas orçamentárias e interferência demasiada do Judiciário.
Quando as autoridades dão mau exemplo, os demais substratos da sociedade se sentem no direito de transgredir. Nesse contexto, fica mais difícil implementar a cultura da integridade de que o país tanto necessita para desconstruir o jeitinho matreiro de contornar regras e abolir a desculpa de que é certo fazer o errado porque todo mundo faz. Ainda assim, como já ocorreu em outras nações, sempre é possível aperfeiçoar condutas individuais e coletivas por meio de instrumentos democráticos reconhecidos como a educação, o regramento e as necessárias sanções sociais para infratores.
A virada de ano impõe esta reflexão. O Brasil pode, sim, superar mazelas históricas e iniciar sua travessia para um futuro mais justo e próspero, desde que comece logo a combater a corrupção em todas as camadas da sociedade, dos governantes aos governados. Como se faz isso? Com prevenção, vigilância, correção, monitoramento permanente e exercício pleno da cidadania, o que inclui exemplo, conscientização política, vigilância e escolha criteriosa de representantes.