Se a chegada de um ano novo é sinônimo de renovação, mudanças e realizações, a expectativa de dias melhores é ainda maior para as cerca de 1,2 mil pessoas que perderam suas casas na enchente de maio e permanecem em alojamentos públicos no Estado. São sete meses de aflição, no aguardo do cumprimento das promessas do poder público de um lar definitivo, onde poderão recuperar a dignidade e recomeçar as suas vidas. Espera-se que, ainda nos primeiros meses de 2025, tanto os que estão nos centros humanitários de acolhimento (CHAs) como em outros abrigos espalhados pelo Rio Grande do Sul ou em residências de familiares possam celebrar essa conquista.
Foram tocantes os relatos de pessoas deslocadas que, com suas famílias, incluindo filhos pequenos, tiveram de passar a noite de Natal nas acomodações provisórias. Por maior que seja o esforço para assegurar uma boa refeição e um mínimo conforto aos atingidos pelo infortúnio da enchente, é angustiante continuar em um local provisório tanto tempo depois da tragédia climática e não ter a certeza de quando os compromissos assumidos pelos governos federal e estadual, de assegurar uma moradia permanente, serão honrados. Na véspera de Natal, voluntários vestidos de Papai Noel distraíram meninos e meninas, mas o presente aguardado de forma unânime, por crianças e adultos, era uma casa nova. O Ano-Novo, outra vez, será sob um teto transitório.
Foram tocantes os relatos de pessoas deslocadas que, com suas famílias, incluindo filhos pequenos, tiveram de passar a noite de Natal nas acomodações provisórias
O programa de maior vulto, o de compra assistida, do governo federal, tinha a estimativa de atender até 20 mil pessoas no Estado. Até a sexta-feira, dia 20 deste mês, porém, a Secretaria de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul contabilizava apenas 3,9 mil famílias atingidas habilitadas para receber um imóvel. Dessas, são aproximadamente 2 mil em Porto Alegre. Em vez de construir moradias, um processo demorado, a iniciativa permite aquisição de imóveis de até R$ 200 mil para famílias enquadradas nas faixas 1 e 2 do Minha Casa Minha Vida. É, de fato, uma saída em tese mais ágil, mas que também pela complexidade do processo ainda não tem a velocidade de entrega de casas adequada. As queixas de possíveis beneficiários têm sido recorrentes. Na Capital, prefeitura e Caixa farão, no próximo mês, mutirões nos bairros Sarandi e Humaitá, dois dos mais afetados pela cheia de maio, para agilizar os cadastros. Espera-se que produzam resultados. Afinal, o número de chaves entregues permanece no patamar de poucas dezenas, resultado tímido para um drama comum a milhares de pessoas.
O governo gaúcho pretende, em um prazo de seis meses, desmobilizar os três CHAs, dois em Porto Alegre e um em Canoas. São estruturas montadas pelo Estado e geridas pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). O planejamento do Palácio Piratini prevê que, nesse período, os abrigados recebam moradias próprias ou sejam amparados por outras alternativas oferecidas pelos municípios, como estadia solidária e aluguel temporário. É mais uma razão para os Executivos federal e estadual acelerarem os seus programas de residências permanentes. A promessa de que nenhuma família atingida ficará desassistida deve ser alvo de constante cobrança.