Como na última lista de seriados eu sugeri obras curtinhas, desta vez fiz uma seleção com as 25 melhores séries para começar a maratonar no Carnaval.
São seriados com três, cinco, oito, 10 ou até mais temporadas _ mas não chegamos ao ponto dos intermináveis Grey's Anatomy, Law & Order: Unidade de Vítimas Especiais e Os Simpsons.
Todos os títulos estão disponíveis em plataformas de streaming e permitem uma pequena volta ao mundo — Alemanha, Brasil, Dinamarca, Estados Unidos, França, Inglaterra e Israel — e um passeio por gêneros: tem comédia, drama, policial, terror, aventura épica, trama política, ficção científica... Clique nos links se quiser saber mais sobre alguns deles.
Seinfeld (1989-1998)
Uma das comédias mais aplaudidas de todos os tempos, foi criada por Larry David e por Jerry Seinfeld, que interpreta uma versão fictícia de si mesmo: um humorista judeu e fã do Superman. Seu apartamento em Nova York, vive frequentado pelos amigos Cosmo Kramer (Michael Richards), o amalucado vizinho de porta, George Costanza (Jason Alexander), baixinho, gordinho, careca e deveras complexado, e Elaine Benes (Julia Louis-Dreyfus), a única que de fato trabalha, alguns parentes e suas muitas namoradas. Ao contrário dos relacionamentos de Jerry, nenhum duradouro, pode-se dizer que Seinfeld nunca acabou. Desde sua despedida, em que os personagens enfrentaram as consequências da falta de princípios éticos e morais, fãs comemoram aparições do elenco em outros programas, discutem como a série, hoje, lidaria com a geração das redes sociais, relembram seus episódios favoritos (o do concurso de abstinência sexual, o do nazista da sopa) ou suas frases prediletas ("Not that there's anything wrong with that", "They're real, and they're spectacular!"). Essas conversas — em suma, sobre o nada — refletem a essência da série: quatro amigos que se reúnem para falar sobre nada. (9 temporadas, 180 episódios, Netflix)
Família Soprano (1999-2007)
Foram 112 indicações ao Emmy e 21 troféus conquistados, incluindo dois de melhor seriado dramático (2004 e 2007), três de melhor ator (James Gandolfini, em 2000, 2001 e 2003) e três de melhor atriz (Edie Falco, em 1999, 2001 e 2003). Pelo Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos, foi eleita a série mais bem escrita de todos os tempos, à frente de clássicos como Além da Imaginação e Seinfeld. Criada por David Chase, Família Soprano desglamorizou a figura dos mafiosos, tornando-os muito mais humanos e medíocres. Sua sequência de abertura já indicava um rumo diferente: deixamos a costumeira Nova York e pegamos a ponte para New Jersey. Lá, moravam Tony Soprano, sua esposa, Carmela, seus filhos, Meadow e A.J., e parentes que faziam jus à rima com serpente. Tony usava uma empresa de coleta de lixo como fachada para seus negócios sujos, geralmente fechados na boate brega Bada Bing. Grandalhão, seco e cruel quando necessário, Tony é ele próprio uma fachada: apenas para a psiquiatra, a Dra. Melfi (Lorraine Bracco), fala sobre suas crises de consciência e seus ataques de pânico. (6 temporadas, 86 episódios, HBO Max)
A Grande Família (2001-2014)
Reinvenção, por Cláudio Paiva, da série homônima exibida entre 1972 e 1975, A Grande Família virou um dos maiores exemplos de sucesso e longevidade do século 21. A comédia gira em torno de uma família de classe média, os Silva, moradora de um subúrbio na zona norte do Rio. Há histórias antológicas, como Um Tapinha Não Dói (2002), em que Lineu (Marco Nanini) comeu biscoitos estranhos, teve crise de riso e dançou durante o jantar — era maconha. Os roteiristas tinham a habilidade e a sensibilidade de revezar o foco sobre os personagens, apostando em tramas que ressaltavam a característica principal de cada membro da família e dos agregados, como a personalidade certinha de Lineu, a essência mãezona de Nenê (Marieta Severo) e a malandragem de Agostinho (Pedro Cardoso), o genro. (14 temporadas, 485 episódios, Globoplay)
A Escuta (2002-2008)
Com o título original de The Wire, a série criada por David Simon foi recentemente eleita a melhor série do século 21 segundo 206 críticos, acadêmicos e profissionais de TV ouvidos pela BBC. Ambientada em uma das cidades estatisticamente mais violentas do mundo (Baltimore, no Estado de Maryland, nos EUA), aborda o narcotráfico e sua relação com instituições locais: a polícia, a Justiça, os políticos, a imprensa, as escolas e o sistema portuário. Os policiais tentam fazer alguma coisa contra o crime organizado, sabendo, desde o começo, que as chances estão entre mínimas e nenhuma. Entre os personagens marcantes, estão o detetive Jimmy McNulty (Dominic West), um investigador hábil mas dado a atos de insubordinação e cheio de problemas pessoais, e Omar Little (Michael Kenneth Williams), que é gay, não leva desaforo para casa e vive de roubar traficantes para vender os seus produtos. (5 temporadas, 60 episódios, HBO Max)
Lost (2004-2010)
Quando os olhos de Jack Shephard (interpretado por Matthew Fox) se abriram pela primeira vez, o público passou a experimentar uma nova forma de ver séries. Criado por J.J. Abrams, Jeffrey Lieber e Damon Lindelof, Lost é sobre os sobreviventes de um acidente de avião que se veem presos em uma ilha onde muita coisa esquisita acontece. Houve investimento financeiro (só o primeiro episódio, com duas horas de duração, teve o custo recorde de US$ 10 milhões), ousadia narrativa (a trama se alternava entre o presente, o passado, o futuro e uma realidade paralela), desenvolvimento de personagens (graças a um elenco heterogêneo e ambíguo), a criação de um mundo próprio (rico em instituições fictícias, como Oceanic Airlines e a Dharma Initiative) e, claro, mistérios a mancheias (desde os números 4, 8, 15, 16, 23 e 42 até o monstro de fumaça). Foi o seriado certo na hora certa: coincidiu com a explosão da internet, portanto, a mitologia de Lost se disseminou em fóruns de fãs, comunidades no Orkut e blogs especializados. (6 temporadas, 121 episódios, Star+)
The Office (2005-2013)
Desenvolvida por Greg Daniels com base no homônimo seriado britânico de Ricky Gervais e Stephen Merchant, a versão estadunidense de The Office deixou como legado um dos maiores personagens das comédias: Michael Scott, o chefe sem noção encarnado por Steve Carell (seis vezes indicado ao Emmy). No escritório da fábrica de papel Dunder Mifflin, Michael sintetiza vários problemas do mundo corporativo, mas, ao fazer isso, acaba por lembrar como somos imperfeitos. Não raro, nossa reação a suas atitudes passa da vergonha alheia à mais sincera ternura. Tanto melhor que ele está rodeado de outros tipos memoráveis, como o excêntrico Dwight (Rainn Wilson), o isentão Jim (John Krasinski), a insegura Pam (Jenna Fischer), a rígida Angela (Angela Kinsey), Stanley (Leslie David Baker), o rei da má vontade, e Toby (Paul Lieberstein), que, à frente do RH, é o alvo preferido do protagonista. (9 temporadas, 201 episódios, HBO Max, Netflix, Paramount+ e Star+)
Mad Men (2007-2015)
Quatro vezes ganhadora do Emmy de melhor série dramática, a obra criada por Matthew Weiner tem início na Nova York de 1960, em meio à Era de Ouro da propaganda. O protagonista, o sedutor Don Draper (Jon Hamm), é um publicitário de sucesso na Madison Avenue, endereço das principais agências, que têm entre os clientes marcas famosas como Kodak, Hershey's, Jaguar e Hilton. Sua aparente boa vida esconde algum segredo do passado. O dia a dia no trabalho e na família de Draper — casado com a ex-modelo Betty (January Jones), mãe de seus três filhos — reflete os acontecimentos e as transformações sociais da época: a morte da atriz Marilyn Monroe, os assassinatos do presidente dos EUA John F. Kennedy e do ativista Martin Luther King Jr., a chegada do homem à Lua... No cenário machista de Mad Men, destacam-se personagens femininas, como Peggy Olson (Elisabeth Moss), que quer ser a primeira redatora da empresa, e a gerente Joan Holloway (Christina Hendricks), que tem um caso com um dos donos da agência, Roger Sterling (John Slattery), desde que era sua secretária. (7 temporadas, 92 episódios, Amazon Prime Video e HBO Max)
Breaking Bad (2008-2013)
O título da série criada por Vince Gilligan — gíria equivalente a "chutar o balde" — faz referência à transformação de Walter White (interpretado por Bryan Cranston), um afável, brilhante, mas fracassado professor de química do Novo México ( EUA), no gênio do crime Heisenberg. Já frustrado em dar aulas para adolescentes enquanto lida com um filho sofrendo de paralisia cerebral, uma esposa grávida, dívidas intermináveis e um diagnóstico de câncer no pulmão, White resolve produzir metanfetamina de alta pureza com um ex- aluno, Jesse Pinkman (Aaron Paul). Cada episódio começa com um uma cena do passado, do futuro ou mesmo do presente, e a história que segue se conecta a essa cena de formas, às vezes, bastante inesperadas. Se você sofrer de abstinência após terminar a série vencedora de 16 Emmys, o melhor é chamar Better Call Saul (Netflix), derivada de Breaking Bad. (5 temporadas, 62 episódios, Netflix)
Modern Family (2009-2020)
Pentacampeã — de 2010 a 2014 — no Emmy de melhor comédia, a série de Christopher Lloyd e Steven Levitan gira em torno de uma família que vive se metendo em apuros, geralmente porque não dizem o que pensam — se bem que tem uns personagens que na verdade falam demais!
Jay (Ed O'Neill), o patriarca, casou-se com a colombiana sexy Gloria (Sofia Vergara), bem mais jovem do que ele, e adotou o filho dela, Manny (Rico Rodriguez), que tem gostos refinados e atitudes maduras demais para sua idade. Jay também é pai de Mitchell (Jesse Tyler Ferguson), que adota uma bebê vietnamita com o companheiro Cameron (Eric Stonestreet), e de Claire (Julie Bowen), casada com Phil Dunphy (Ty Burrell) e mãe de três filhos, Haley (Sarah Hyland), Alex (Ariel Winter) e Luke (Nolan Gould). Papel que valeu a Burrell dois Emmys e mais seis indicações, Phil é o típico pai descolado e um modelo quando o tema é educação infantil — na opinião dele. O filho deu tiros com uma arma de chumbinho na irmã? Atire nele de volta. (11 temporadas, 250 episódios, Star+)
Borgen (2010-2022)
Criado por Adam Price, o seriado da Dinamarca começa às vésperas da eleição que vai indicar quem ocupará o Borgen — palavra que significa castelo e que é usada para se referir ao Palácio de Christiansborg, onde estão sediados os três ramos do governo: o Parlamento (legislativo), o gabinete do primeiro-ministro (executivo) e o Supremo Tribunal (judiciário). Sidse Babett Knudsen interpreta Birgitte Nyborg, a candidata dos Moderados, azarão em uma briga com Michael Laugesen, do Partido Trabalhista, e o atual primeiro-ministro, Lars Hesselboe, dos Liberais. Prepare-se para debates, intrigas, surpresas, questões familiares, relação com a imprensa e escorregões imperdoáveis em um país que tanto preza a ética. (4 temporadas, 38 episódios, Netflix)
Downton Abbey (2010-2015)
O drama criado por Julian Fellowes gira em torno da fictícia família Crawley e seus empregados na grande mansão homônima. A história começa no dia seguinte ao naufrágio do Titanic, em abril de 1912, e vai até 1925 (o filme de 2019 se passa em 1927, e o segundo, lançado em 2022, em 1928). A recriação de época é sublime, mas não obscurece problemas como estratificação social, preconceitos sexuais e os efeitos da Primeira Guerra Mundial. No elenco que brinda o espectador com diálogos cifrados, frases de efeito e a fina ironia britânica, destacam-se a veterana Maggie Smith, três vezes premiada com o Emmy de atriz coadjuvante no papel de Violet, uma condessa viúva, e Jim Carter, com quatro indicações ao prêmio de ator coadjuvante na pele do mordomo Charles Carson. (6 temporadas, 52 episódios, Amazon Prime Video)
American Horror Story (2011-)
A antologia de terror foi desenvolvida por Ryan Murphy e Brad Falchuk. Cada temporada narra uma história independente, embora os elencos se repitam bastante: Evan Peters, Sarah Paulson, Lily Rabe, Kathy Bates... Em Murder House, ambientado em 2011, a família Harmon se muda para uma mansão restaurada, sem saber que a casa é assombrada pelos seus antigos habitantes. Asylum se passa em 1964, em uma instituição para criminosos insanos controlada pela Igreja Católica. Coven, em New Orleans, mostra um clã de bruxas originadas de Salem e do vodu. Freak Show é sobre um circo de horrores em 1952. Hotel marcou a estreia da cantora e atriz Lady Gaga em AHS. Ela voltou em Roanoke, que aborda eventos paranormais e assassinatos em uma casinha isolada. As tramas seguintes se chamam Cult, Apocalypse, 1984 Double Feature e NYC. (11 temporadas até agora, 125 episódios, Star+)
Black Mirror (2011-)
Com uma sexta temporada já em desenvolvimento, a série do inglês Charlie Brooker é uma antologia de histórias autônomas e ambientadas em um futuro próximo em que as novas tecnologias potencializam anseios, crises, dilemas e vícios da sociedade contemporânea. Em Fifteen Million Merits, dois jovens passam os dias pedalando em bicicletas ergométricas, fechados em salas minúsculas em que as paredes são cobertas por telas, lutando para alcançar uma pontuação que lhes garanta programas de TV melhores, comida artificial e a chance de participar de um reality show. Em The Entire Story of You, as pessoas implantaram um chip atrás da orelha, que lhes permite gravar tudo o que veem e ouvem. Usando um controle remoto, podem reproduzir suas memórias diretamente nos olhos ou em um monitor de vídeo. Em Be Right Back, uma mulher, em luto após o namorado morrer em um acidente, passa a conviver com uma réplica dele, criada graças aos rastros digitais deixados em redes sociais e outros recursos audiovisuais. White Christmas mostra um dispositivo de realidade aumentada implantado no corpo que permite que pessoas sejam " bloqueadas" (ou canceladas, para usar o termo da moda). Em Nosedive, as pessoas avaliam e são avaliadas o tempo todo por suas postagens e atitudes. Hated in the Nation reflete sobre os julgamentos sumários do mundo virtual e os programas de vigilância dos governos. Em Hang the DJ, um aplicativo define o rumo e a duração de cada relacionamento amoroso de seus usuários. (5 temporadas até agora, 22 episódios, mais o filme interativo Bandersnatch, Netflix)
Game of Thrones (2011-2019)
Com base nos romances escritos por George R.R. Martin, David Benioff e D.B. Weiss desenvolveram uma saga que se passa em um mundo imaginário inspirado nas sociedades feudais da Europa medieval e dividido em sete reinos. Criaturas fantásticas, como dragões e os Caminhantes Brancos, habitam Westeros, onde as estações do ano não são regulares — depois de um verão que durou nove anos, Game of Thrones começa com um ameaçador inverno à espreita. Nesse pano de fundo, transcorrem traições, batalhas e crimes que podem vitimar qualquer personagem, não importa o quão fundamental seja seu papel para a trama ganhadora de 59 Emmys.
O primeiro episódio é um cartão de visitas do que aguarda o espectador: tem decapitação, intrigas palacianas, casamento forçado, outra decapitação, tentativa de infanticídio e incesto. Nesse cenário, destacam-se pelo menos três famílias. Os Stark comandam Winterfell, no Norte, e serão arrastados para a tragédia e o sofrimento a partir da nomeação de Lorde Ned (Sean Bean) para Mão do Rei (uma espécie de primeiro-ministro) em Porto Real, a capital. Os Lannister são seus rivais: o poderoso Tywin (Charles Dance) e seus filhos, Cersei (Lena Headey), esposa do monarca, Jaime (Nikolaj Coster-Waldau), espadachim membro da Guarda Real, e o anão Tyrion (Peter Dinklage), rejeitado pelo pai, apegado a prostitutas e gênio da política. Do outro lado do mar, há Viserys (Harry Lloyd) e sua irmã Daenerys (Emilia Clarke), os últimos descendentes da dinastia Targaryen, que tramam uma volta a Westeros. (8 temporadas, 73 episódios, HBO Max)
Homeland (2011-2020)
Inspirados em um seriado israelense, Alex Gansa e Howard Gordon desenvolveram uma série que soube captar as nuances, os dilemas, as contradições e as metamorfoses da chamada guerra ao terror implementada pelos EUA a partir do 11 de Setembro. É numa sociedade traumatizada e paranoica que um fuzileiro naval (Damian Lewis) desaparecido por oito anos regressa do cativeiro no Iraque. A protagonista, Carrie Mathison (Claire Danes), uma analista da CIA bipolar e fã de jazz, suspeita que ele tenha se convertido ao radicalismo islâmico e foi enviado para um novo ataque. (8 temporadas, 96 episódios, Star+)
Dix pour Cent (2015-)
A comédia dramática francesa criada por Fanny Herrero acompanha o cotidiano dos profissionais de uma agência de talentos, a ASK - o título se refere ao valor de comissão (10%) pago pelos atores e pelas atrizes. Mathias (Thibault de Montalembert) é o empresário ambicioso, Gabriel (Grégory Montel), um sonhador meio atrapalhado, Arlette (Liliane Rovére), a veterana da turma, e Andrea (Camille Cottin) é uma espécie de femme fatale que poderia ser ela própria uma estrela. CA cada episódio, um artista de renome interpreta uma versão ficcional de si mesmo, como cliente da ASK. Entre os convidados, estão Cécile de France, Juliette Binoche, Jean Dujardin, Jean Reno, Isabelle Huppert e Monica Bellucci. (4 temporadas até agora, 24 episódios, Netflix)
Fauda (2015-)
Fauda — que quer dizer “ caos” em árabe — é um dos maiores sucessos da televisão israelense. Concentra-se em um grupo de agentes secretos à caça de terroristas palestinos na Cisjordânia. Lior Raz, um dos criadores da série, ao lado de Avi Issacharoff, encarna o agente já aposentado Doron Kavillo, que volta à ativa para tentar a captura de Tauphiq Hammed, um terrorista do Hamas que todos julgavam morto mas que vai estar presente no casamento do irmão caçula. Críticos já disseram que um dos acertos é mostrar que israelenses podem ser capazes das piores crueldades, e palestinos, do amor mais puro. (4 temporadas até agora, 48 episódios, Netflix)
The Crown (2016-)
O rei George VI (Jared Harris) sofre com uma tosse constante, que o faz cuspir sangue. É a véspera do casamento, em 1947, da princesa Elizabeth (Claire Foy) com Philip Mountbatten (Matt Smith) — reprovado por grande parte da família real, mas que acaba sendo aceito pela insistência e a diplomacia da jovem. Os dois se casam e, juntos, divertem-se e fazem planos, que são interrompidos pela morte precoce do rei. Cabe, então, à tímida Elizabeth assumir a coroa. Aos 25 anos. Criada por Peter Morgan (roteirista do filme A Rainha, de 2006), a suntuosa The Crown cobre s rivalidades políticas, os dramas pessoais, os romances e as fofocas que envolvem a família real britânica. Depois de Claire Foy, que viveu a personagem de 1947 a 1964, a monarca foi interpretada por Olivia Colman (de 1964 até a década de 1990) e Imelda Staunton (nas duas últimas temporadas da série, a quinta e a sexta, que se passam nos tempos mais atuais). Já são 21 Emmys no currículo. (5 temporadas até agora, 50 episódios, Netflix)
The Good Place (2016-2020)
O seriado cômico criado por Michael Schur gira em torno de Eleanor Shellstrop (Kristen Bell), que, depois de ser atingida e morta por carrinhos de supermercado, acorda e descobre que entrou na vida após a morte, um lugar que tem como gerente o personagem do veterano Ted Danson, Michael. Foi um engano: seu verdadeiro destino deveria ser o inferno. Mas já que está lá, Eleanor vai se esforçar para se tornar uma pessoa melhor, contracenando com ótimos coadjuvantes, vividos por William Jackson Harper (Chidi), Jameela Jamil (Tahani) e D'Arcy Carden (Janet). (4 temporadas, 50 episódios, Netflix)
This Is Us (2016-2022)
Apesar de não ser uma trama de suspense, This Is Us aposta muito na surpresa, nos segredos e nas revelações para arrebatar a audiência. Por isso, em respeito àqueles que apenas agora vão conhecer os Pearson, resumirei ao mínimo a sinopse: no primeiro episódio, descobriremos o que existe em comum entre um casal — Jack (Millo Ventimiglia) e Rebecca (Mandy Moore) — que aguarda o nascimento de seus trigêmeos, uma mulher obesa (Kate, encarnada por Chrissy Metz) que vive lutando para perder peso, um bonito ator de TV (Kevin, interpretado por Justin Hartley) cansado de fazer papéis superficiais e um bem-sucedido executivo negro (Randall, personagem de Sterling K. Brown, ganhador de um Emmy de melhor ator e concorrente outras quatro vezes). A partir daí, a série criada por Dan Fogelman vai e volta no tempo, mostrando no presente os reflexos do passado, ou recuperando histórias antigas para explicar situações atuais. Prepare-se para chorar bastante. (6 temporadas, 103 episódios, Amazon Prime Video e Star+)
Dark (2017-2020)
O seriado alemão de Baran bo Odar e Jantje Friese foi o herdeiro por excelência de Lost. Dark também conjugou personagens interconectados, um cenário que funciona como microcosmo, viagens no tempo, experimentos científicos e mistérios capazes de engajar a audiência a formular teorias explicativas.
Um menino de 11 anos desaparece na floresta de Winden, na Alemanha, em 2019, e vai parar em 1986 — mesmo ano do sumiço do irmão caçula de seu pai e o mesmo ano de uma explosão na usina nuclear da cidade. A partir daí, desenvolvem-se jornadas entre passado e futuro (o primeiro sendo, não raro, influenciado pelo segundo). Isso gera linhas temporais distintas, que se convergem e criam versões diferentes dos mesmos personagens — a maioria deles integrantes de quatro famílias: Kahnwald, Nielsen, Tiedemann e Doppler. Entre os objetivos das viagens no tempo, estão impedir o apocalipse e evitar tragédias familiares. (3 temporadas, 26 episódios, Netflix)
The Handmaid's Tale (2017-)
O romance distópico O Conto da Aia (1984), de Margaret Atwood, foi adaptado por Bruce Miller. Gilead é uma sociedade totalitária comandada por um regime fundamentalista, fincada em um território onde antes estavam os EUA. O mundo, abatido por altos níveis de poluição e uma série de doenças que provocaram, entre outras consequências, a infertilidade da maioria das mulheres, vive uma crise de natalidade. Para tentar repovoar a Terra, as poucas que ainda permaneceram férteis são usadas como escravas sexuais, as aias, que servem os comandantes do governo. Outrora uma editora literária, Offred (interpretada por Elisabeth Moss) é uma dessas aias e vive com Fred Waterford (Joseph Fiennes) e a cruel esposa dele, Serena (Yvonne Strahovski). Além de lutar por sua sobrevivência em meio à insanidade do regime, a protagonista tem outro objetivo: encontrar a filha que lhe foi tirada. The Handmaid's Tale arrebatou oito Emmys na primeira temporada, incluindo melhor série dramática, direção, roteiro, atriz e atriz coadjuvante (Ann Dowd). (5 temporadas até agora, 57 episódios, Paramount+ — o Star+ dispõe das quatro primeiras)
Sob Pressão (2017-)
O seriado médico foi criado a partir do filme homônimo de 2016. Tanto o filme quanto a série são livremente inspirados no livro Sob Pressão: a Rotina de Guerra de um Médico Brasileiro, relato do cirurgião torácico Marcio Maranhão à jornalista Karla Monteiro. A direção-geral é de Andrucha Waddington, o mesmo realizador da versão cinematográfica — que também trazia no elenco Júlio Andrade e Marjorie Estiano, protagonistas da adaptação televisiva, nos papéis dos cirurgiões Evandro e Carolina. Se você nunca viu, saiba que Sob Pressão não deve nada aos famosos dramas hospitalares dos Estados Unidos, como Plantão Médico (1994-2009), House (2004-2012) e o longevo Grey's Anatomy (no ar desde 2005). Estão presentes os casos graves que chegam à emergência e os casos românticos que rolam nos bastidores, as incisões e as intrigas, os personagens que transitam entre a vida e a morte e os que mal têm tempo para viver. Até já ganhou prêmios no Exterior — melhor série, ator, atriz e roteiro no Festival Internacional de Produções Audiovisuais de Biarritz, na França, em 2018 —, além de valer uma indicação de Marjorie Estiano ao Emmy Internacional, dos EUA. Não deve nada e tem uma vantagem: fala a nossa língua mesmo, retrata a saúde pública do Brasil, destaca problemas crônicos — a corrupção, a fila dos transplantes, a falta de tudo — e profissionais que se desdobram para dar conta dos pacientes. (5 temporadas até agora, 63 episódios, Globoplay)
Pose (2018-2021)
A série criada por Ryan Murphy, Steven Canals e Brad Falchuk é um marco de diversidade e representatividade: as atrizes MJ Rodriguez, Indya Moore, Dominique Jackson, Hailie Sahar e Angelica Ross são transexuais, e o elenco é predominantemente negro. Pose mostra como a cultura de bailes revolucionou a comunidade LGBTQIA+ no final dos anos 1980 e início da década de 1990. A protagonista, Blanca, acolhe jovens homossexuais e trans que foram expulsos de suas casas, organiza concursos de drag queen e lida com a epidemia da aids. No ano passado, MJ Rodriguez tornou-se a primeira atriz trans a ganhar o Globo de Ouro. (3 temporadas, 26 episódios, Star+)
Succession (2018-)
Embora desprovida daquilo que conhecemos como cenas de ação, a série criada por Jesse Armstrong tem personagens que estão sempre andando na corda bamba e sempre esgrimindo com diálogos afiados. Não à toa, já ganhou três vezes o Emmy de melhor roteiro (no total, soma 13 troféus na premiação). Trata-se de um retrato impiedoso e sarcástico, mas com espaço para o afeto, da família de Logan Roy (Brian Cox), dono do quinto maior conglomerado de mídia e entretenimento — a Waystar Royco comanda jornais, canais de TV, sites, estúdios de cinema, cruzeiros, parques temáticos etc. Como o título indica, a sucessão na empresa deflagra os atritos, as mancadas e as puxadas de tapete neste "ninho de serpentes", a definição dada pelo tio Ewan. Estamos diante de uma fauna com traços shakespearianos — aliás, a peça Rei Lear é uma inspiração assumida. Há o empresário tirano, o primogênito que parece o bobo da corte por conta das asneiras ditas, o filho covarde que finge ser corajoso, o genro que procura ser querido por todos mas que sabe ser abusivo, o primo pobre que quer ascender, a filha que procurou trilhar outro caminho... Ao acompanhar a movimentação desses tipos, Succession consegue mexer com sentimentos conflitantes que podemos ter em relação aos super-ricos: raiva, inveja ou um certo alívio por não estarmos em seu lugar. (3 temporadas até agora — a quarta estreia no dia 26 de março —, 29 episódios, HBO Max)
Bônus: dois clássicos
Twin Peaks (1990-1991/2017)
Quem matou Laura Palmer? Esse é o grande mistério lançado no episódio de abertura da obra criada pelo cineasta David Lynch e pelo produtor Mark Frost. O caminho para a resposta não foi uma jornada linear. O clima de suspense, fantasia e humor bizarro fez de Twin Peaks um marco da cultura pop, tornando-se embrião da fase de ouro que a dramaturgia televisiva viveria nas décadas seguintes e arregimentando uma legião de fãs fiéis — brindados, em 1992, com o filme Os Últimos Dias de Laura Palmer, que narra eventos anteriores aos vistos na série, e, em 2017, com uma desconcertante terceira temporada.
A trama se passa em uma cidadezinha estadunidense parada no tempo, próxima da fronteira com o Canadá. A jovem Laura Palmer (Sheryl Lee) aparece morta à beira de um lago, enrolada em um saco plástico, brutalmente espancada e violentada. Chega ao lugarejo o agente do FBI Dale Cooper (Kyle MacLachlan), que segue os passos de um assassino serial responsável por crimes semelhantes. Cooper é orientado por uma lógica absurda: segue tanto a intuição e as evidências quanto dicas que lhe chegam como charadas em seus sonhos. A trilha sonora composta por Angelo Badalamenti sublinha o cenário ora onírico, ora fantasmagórico — elementos do terror, como possessão demoníaca, dividem espaço com perversões sexuais, tráfico de drogas e falcatruas financeiras. (3 temporadas, 48 episódios, Paramount+)
24 Horas (2001-2010)
Jack Bauer foi gestado por Joel Surnow e Robert Cochran meses antes do 11 de Setembro, mas o personagem interpretado por Kiefer Sutherland acabou personificando o sentimento dos EUA após os atentados ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington. O primeiro capítulo, gravado em março de 2001, foi quase clarividente: um avião comercial é explodido por uma bomba. O seriado oferecia aos estadunidenses a chance de evitar a tragédia. O formato da ação em tempo real, com cada episódio correspondendo a uma hora de um dia de cão, traduzia a urgência na busca por Osama Bin Laden e outras cabeças da Al- Qaeda. A cada temporada, Bauer precisava descobrir e interceptar uma grande ameaça: bomba nuclear, vírus letal, atentado ao presidente, gás venenoso... 24 Horas bebeu da cultura do medo que marcou os governos de George W. Bush (de janeiro de 2001 a janeiro de 2009), mostrando muçulmanos, russos, chineses, africanos e até mexicanos como inimigos. Graças aos métodos empregados pelo protagonista — que incluía a tortura de seu próprio irmão , foi acusada de validar a guerra ao terror. Por outro lado, Bauer sentia o peso moral do mantra " os fins justificam os meios", tornando- se, paulatinamente, um personagem trágico. Estava sempre em situações-limite: decidir entre a vida de um e a vida de milhares, entre a vida de um colega e a vida de um terrorista, entre sua própria vida e a de outros. (8 temporadas, 192 episódios, atualmente indisponível no streaming, mas pode-se encontrar nos sites de compras uma caixa de DVDs que inclui o filme 24 Horas: A Redenção)