Em cartaz na HBO Max, Succession lidera a corrida ao Emmy, o principal prêmio da TV e do streaming nos Estados Unidos, cujos concorrentes foram anunciados nesta terça-feira (12). Por sua terceira temporada, a série sobre a família do empresário Logan Roy recebeu 25 indicações, incluindo melhor drama. Nas categorias de interpretação, estão na disputa 14 nomes! Jeremy Strong, laureado em 2020, e Brian Cox vão duelar novamente pelo troféu de ator. Entre as atrizes coadjuvantes, estão J. Smith-Cameron e Sarah Snook. A lista dos atores coadjuvantes reúne Kieran Culkin, Matthew Macfadyen e Nicholas Braun. Os sete artistas convidados indicados são Hope Davis, Sanaa Lathan, Harriet Walter, Adrien Brody, James Cromwell, Arian Moayed e Alexander Skarsgård.
Se você nunca viu a série que provoca inveja até em Charlie Brooker, o criador da maravilhosa Black Mirror, não se preocupe: este texto não trará spoilers. O objetivo é agregar mais gente à família Roy, embarcar mais passageiros em uma trepidante montanha-russa — ou seria um cruzeiro marítimo?
Trepidante parece um adjetivo deslocado em relação a uma série desprovida daquilo que conhecemos como cenas de ação. Mas Succession tem personagens que estão sempre andando na corda bamba e sempre esgrimindo com diálogos afiados. Não à toa, seu autor, Jesse Armstrong, ganhou o Emmy de roteiro na primeira temporada (também laureada pela excelente música-tema de Nicholas Britell), lançada em 2018, e na segunda, de 2019 — que levou outros seis troféus, incluindo melhor série dramática, ator (Strong, o Jerry Rubin do filme Os 7 de Chicago) e direção (Andrij Parekh, um dos vários nomes por trás dos episódios, como o cineasta Adam McKay, que assinou o piloto, e Mark Mylod, realizador da maioria). Os atrasos na produção provocados pela pandemia de coronavírus empurraram a estreia da terceira temporada para outubro de 2021.
Nada é uma linha. Tudo, em todos os lugares, está sempre se movendo. Para sempre. Acostume-se.
LOGAN ROY
Personagem de Brian Cox em "Succession"
Succession faz um retrato impiedoso e sarcástico da família de Logan Roy (personagem do ator escocês Brian Cox), dono do quinto maior conglomerado de mídia e entretenimento — a Waystar Royco comanda jornais, canais de TV, sites, estúdios de cinema, turismo náutico, parques temáticos etc. Como o título indica, a sucessão na empresa deflagra os atritos neste "ninho de serpentes", a definição dada à família por um parente. Espere duelos verbais, intrigas, conspirações, traições, reviravoltas, mancadas, puxadas de tapete e acidentes que nos deixarão sedentos para seguir assistindo um episódio depois do outro (a propósito, são 10 na primeira temporada e 10 na segunda, cada um com mais ou menos uma hora de duração). A câmera na mão, o zoom para flagrar as reações dos personagens e a edição ágil realçam a urgência e os riscos — só que também podem servir de alívio cômico.
Os roteiristas são hábeis em conjugar insultos e carraspanas (existem sites que se dedicam a compilar os melhores ao fim de cada episódio) a comentários ácidos sobre o mundo real dos negócios, da política, da comunicação e da vida como um todo. A certa altura, Logan dirá para um dos filhos uma frase que praticamente define o século 21:
— Nada é uma linha. Tudo, em todos os lugares, está sempre se movendo. Para sempre. Acostume-se.
Em outro episódio, a possível ascensão de um candidato supremacista à Casa Branca gera uma menção nada elogiosa ao Brasil:
— I'm not saying it's going to be the full Third Reich, but I am genuinely concerned that we could slide into a Russian Berlusconized Brazilian fuckpile (em tradução, livre, "Não estou dizendo que será o Terceiro Reich completo, mas estou genuinamente preocupado com a possibilidade de virarmos uma p**ra brasileira berlusconizada russa").
Shakespeare
Mas não basta uma trama incisiva se não houver também personagens com os quais a gente se importa. Podemos até não gostar deles, pois — repetindo — são cobras, mas é difícil não se identificar com alguns de seus dramas, algumas de suas angústias, alguns de seus pecados. Afinal, estamos diante de uma fauna com traços shakespearianos — aliás, a peça Rei Lear (1605-1606) é uma inspiração assumida. Há o pai tirano, o primogênito que parece o bobo da corte por conta das asneiras ditas, o filho covarde que finge ser corajoso, o genro que procura ser querido por todos mas que sabe ser abusivo, o primo pobre que quer ascender, a filha que procurou trilhar outro caminho... Ao acompanhar a movimentação desses tipos, Succession consegue mexer com sentimentos conflitantes que podemos ter em relação aos super-ricos: raiva, inveja, um certo alívio por não estarmos em seu lugar...
E o elenco é extraordinário, como o Emmy de 2020 reconheceu. Jeremy Strong, que faz o papel do tragicômico Kendall, o filho ora superconfiante, ora superfrágil, encara o personagem como se fosse um Hamlet, o que talvez acabe tornando mais embaraçosas suas interações com o resto da família, que parece estar em uma comédia maldosa e maliciosa. Supostamente destinado para ocupar o cargo do pai, venceu justamente Brian Cox no prêmio de melhor ator. Cherry Jones (a presidente Allison Taylor em 24 Horas) foi laureada como atriz convidada. Seu papel é o de Nan Pierce, uma empresária da imprensa inspirada na família proprietária do jornal The New York Times. Entre as derrotadas, estava Harriet Walter, novamente indicada por Lady Caroline Collingwood, a mãe de três dos quatro filhos de Logan, atualmente em seu terceiro casamento. James Cromwell, que encarna um irmão desafeto de Logan, Ewan, concorre outra vez como ator convidado. Intérprete de Siobhan, a filha que preferiu se dedicar à consultoria política, Sarah Snook (da ficção científica O Predestinado) disputou mais uma vez o troféu de atriz coadjuvante.
Entre os atores coadjuvantes, repetem-se em 2022 as indicações de Kieran Culkin (o caçula Roman Roy, imaturo, mimado e não raro desagradável para com seus interlocutores), Matthew Macfadyen (Tom Wambsgans, namorado de Siobhan e executivo na Waystar Royco) e Nicholas Braun (o primo Greg, que tenta galgar postos na empresa). Uma dica: preste atenção nas interações entre Tom e Greg, que, de certa forma, são os estrangeiros no clã dos Roy e, portanto, talvez sejam os tipos mais humanos e funcionam como nossos guias — ainda que, a exemplo dos demais personagens, não sejam nada confiáveis.