O David Coimbra publicou uma lista com os 30 melhores filmes da história — na opinião dele, claro. Na minha opinião, é mesmo uma bela lista. Não tem nenhum título ali que eu pudesse colocar numa relação dos 30 piores, por exemplo. Assistiria a todos de novo agora, se houvesse tempo. E vários poderiam estar no meu ranking dos 30 melhores, se eu conseguisse ser tão conciso, como Janela Indiscreta, Perdidos na Noite, O Poderoso Chefão, A Vida de Brian, O Iluminado, Blade Runner, Os Bons Companheiros...
Mas, como acontece com qualquer lista, o que mais me chamou atenção foram as ausências. Que, pelo menos, estão justificadas pelo David. Meu colega e amigo manifestou "a impressão de que o número de bons filmes tem diminuído, no século 21". Nas três dezenas citadas por ele, só aparecem duas obras produzidas a partir do ano 2000: o alemão A Queda — As Últimas Horas de Hitler (2004) e o uruguaio O Banheiro do Papa (2007).
Não sei o que o David andou assistindo ou não assistindo nas últimas duas décadas, mas me atrevo a apresentar a ele uma lista com 30 dos melhores filmes do século 21. (E vale ler também a lista da Marta Sfredo.)
Houve apenas três critérios. Um é subjetivo: selecionei filmes que moram no meu coração e/ou na minha cabeça. Isso excluiu algumas obras aclamadas pela crítica, mas com as quais não consegui me conectar, como Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas (2011), do tailandês Apichatpong Weerasethakul, e A Árvore da Vida (2011), do americano Terrence Malick.
Os outros são técnicos: primeiro, só valeram longas-metragens de 2001 para cá, afinal, o século começou nesse ano. Isso significou deixar de fora títulos como Amor à Flor da Pele, Amores Brutos, Gladiador, Réquiem para um Sonho e O Tigre e o Dragão, todos de 2000, que costumam figurar em rankings semelhantes, tipo o que a BBC montou, em 2016, junto a 177 críticos. Depois, estabeleci o limite de um filme por diretor, para mostrar ao David que existem pelo menos 30 autores fazendo bom cinema neste século. Isso provocou uma discórdia íntima — como escolher somente um Michael Haneke, somente um Christopher Nolan, somente um Jacques Audiard, somente um Paul Thomas Anderson? Como decidir entre Shame e 12 Anos de Escravidão, de Steve McQueen, ou entre Edifício Master e Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho?
Certamente, alguns de vocês vão sentir falta deste ou daquele filme (tomara que não haja ojeriza aos que entraram...). Eu mesmo, a cada instante em que tentava lapidar a lista, me recriminava por ter barrado uns e outros. Os 30 poderiam chegar a 300! Sinal de que o cinema, desde seus primórdios, não para de evoluir. Haverá sempre cineastas dispostos a contar uma história que nunca foi contada, a experimentar um jeito de contar que nunca foi experimentado. Haverá sempre cineastas dispostos a iluminar um canto escuro da História ou a fazer História, refletindo o espírito de seu tempo. Haverá sempre um novo clássico nascendo, mesmo que só venhamos a descobrir isso no futuro.
Sem mais delongas, aqui estão alguns dos filmes mais inesquecíveis do século 21. Ah, lembram que eu falei que não consigo ser tão conciso? Pois bem, eu dobrei a meta: os 30 viraram 60.
Amnésia (2001), de Christopher Nolan
Cidade dos Sonhos (2001), de David Lynch
Os Excêntricos Tenenbaums (2001), de Wes Anderson
Moulin Rouge (2001), de Baz Luhrmann
A Viagem de Chihiro (2001), de Hayao Miazaki
Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles
Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho
O Pianista (2002), de Roman Polanski
Tiros em Columbine (2002), de Michael Moore
Dogville (2003), de Lars von Trier
Encontros e Desencontros (2003), de Sofia Coppola
Fale com Ela (2003), de Pedro Almodóvar
Oldboy (2003), de Park Chan-wook
Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), de Michael Gondr
Menina de Ouro (2004), de Clint Eastwood
Ninguém Pode Saber (2004), de Hirokazu Kore-eda
A Queda — As Últimas Horas de Hitler (2004), de Oliver Hirschbiegel
Caché (2005), de Michael Haneke
Match Point (2005), de Woody Allen
O Segredo de Brokeback Mountain (2005), de Ang Lee
Borat (2006), de Larry Charles
Filhos da Esperança (2006), de Alfonso Cuarón
O Labirinto do Fauno (2006), de Guillermo del Toro
A Vida dos Outros (2006), de Florian Henckel von Donersmarck
O Escafandro e a Borboleta (2007), de Julian Schnabel
Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), de Joel e Ethan Coen
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007), de Cristian Mungiu
Sangue Negro (2007), de Paul Thomas Anderson
Entre os Muros da Escola (2008), de Laurent Cantet
Wall-E (2008), de Andrew Stanton
Guerra ao Terror (2009), de Kathryn Bigelow
O Segredo dos seus Olhos (2009), de Juan José Campanella
Em um Mundo Melhor (2010), de Susanne Bier
A Rede Social (2010), de David Fincher
Drive (2011), de Nicolas Winding Refn
A Separação (2011), de Asghar Farhadi
Shame (2011), de Steve McQueen
A Caça (2012), de Thomas Vinterberg
Ferrugem e Osso (2012), de Jacques Audiard
A Grande Beleza (2013), de Paolo Sorrentino
O Lobo de Wall Street (2013), de Martin Scorsese
Sob a Pele (2013), de Jonathan Glazer
Boyhood (2014), de Richard Linklater
Relatos Selvagens (2014), de Damián Szifron
Divertida Mente (2015), de Peter Docter
Mad Max: Estrada da Fúria (2015), de George Miller
Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert
A Chegada (2016), de Denis Villeneuve
Moonlight (2016), de Barry Jenkins
Corra! (2017), de Jordan Peele
Infiltrado na Klan (2018), de Spike Lee
Pássaros de Verão (2018), de Ciro Guerra e Cristina Gallego
Atlantique (2019), de Mati Diop
Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
O Farol (2019), de Robert Eggers
Midsommar (2019), de Ari Aster
Parasita (2019), de Bong Joon-ho
Retrato de uma Jovem em Chamas (2019), de Céline Sciamma
Você Não Estava Aqui (2019), de Ken Loach
O Som do Silêncio (2020), de Darius Marder