William Shakespeare, o poeta e dramaturgo inglês cuja morte completa quatro séculos neste dia 23, é o tipo de artista que, mesmo a centenas de anos de distância, é capaz de obcecar seus leitores apaixonados. O escritor Sergio Faraco, por exemplo. Ele organizou em 1998 um livro com as melhores citações do bardo, e demonstrações de seu interesse pela vida e pela obra do autor espalham-se em crônicas e ensaios reunidos em livros como O Chafariz dos Turcos (1990) e Histórias Dentro da História (2005). Em 2006, durante uma entrevista concedida ao jornalista Ruy Carlos Ostermann em um encontro no StudioClio, Faraco contou que havia começado há anos o que pretendia ser um abrangente estudo sobre Shakespeare. Chegou à conclusão de que precisava, para isso, abordar o tempo em que o poeta inglês viveu, de 1564 a 1616, e o tipo de teatro que se fazia naquele período, marcado pelo longo reinado da rainha Elizabeth I. Daí, sentiu que precisava também escrever sobre a tumultuada história inglesa e seus conflitos religiosos internos. Pulou então para a França e a Espanha, potências da época com as quais a não tão poderosa ilha precisou lidar para se estabelecer como um ator relevante no teatro da diplomacia. De repente, Faraco se deu conta de que estava empacado em um texto de mais 700 páginas nas quais Shakespeare ainda não havia assumido o papel principal.
"Quando eu vi, estava escrevendo sobre a história do mundo!", disse Faraco na entrevista a Ostermann, registrada mais tarde no segundo volume da série de livros Encontros com o Professor (2006). "Como sabia que não ia conseguir terminar, apaguei. Nem gravei num CD, para não me sentir tentado a mexer naquilo. Simplesmente apaguei." Essa experiência também minou de tal modo o entusiasmo de Faraco com Shakespeare que, convidado a dar um depoimento para esta reportagem, o escritor declinou, mas cedeu uma crônica antiga (leia na abaixo).
O insight que fez Faraco expandir tanto um livro que se revelou interminável é preciso: Shakespeare é um gênio por mérito próprio com uma vida sobre a qual se sabe muito pouco, e sua obra é fruto de uma época especialmente turbulenta na história da Inglaterra, que por sua vez se insere em um panorama de drásticas transformações políticas e religiosas no mundo ocidental. Quanto mais abrangente for o olhar que se queira ter, mais longa é a meada que se vai desfiando. Não é à toa que literalmente todo ano sejam lançados mais livros abordando aspectos cada vez mais específicos de Shakespeare, sua obra e seu tempo. São biografias, estudos, glossários, ficção e, claro, novas traduções das peças. Stephen Greenblatt, por exemplo, em Como Shakespeare se Tornou Shakespeare (Companhia das Letras, 2011), inter-relaciona as peças com o momento histórico em que o dramaturgo inglês viveu; Ron Rosenbaum, em As Guerras de Shakespeare (Record, 2011), retraça as controvérsias produzidas ao longo dos séculos por teóricos, pesquisadores e especialistas, tema também abordado no livro Quem Escreveu Shakespeare (Nossa Cultura, 2012), de James Shapiro. Em um estudo clássico, A Linguagem de Shakespeare, Frank Kermode analisa, peça a peça, a linguagem empregada pelo Bardo de Avon em seus trabalhos e seu contexto na época – inclusive o bom número de palavras e expressões que ele teria inventado.
– Ele criou expressões que hoje existem em todas as línguas do mundo. Por exemplo, "coração de pedra", que chegou a nós via tradução, mas é uma invenção de Shakespeare – aponta Beatriz Viégas-Faria, professora do Instituto de Letras da UFPel que já traduziu, para a L&PM, duas dezenas de peças.
O shakespeariano obcecado poderia passar uma vida inteira apenas dedicado ao autor, a elementos de sua obra, a sua fortuna crítica de séculos, a suas controvérsias e seus mistérios.
– É como um buraco negro, e eu entendo os que só fazem isso, passam o resto da vida lendo as peças de Shakespeare, lendo sobre Shakespeare, porque é um universo muito rico – comenta o diretor de cinema Jorge Furtado.
A fascinação pelo poeta inglês – a "bardolatria" – é um fenômeno antigo. Deixando de lado as polêmicas sobre se Shakespeare de fato escreveu suas peças (outro fenômeno antigo), em vida ele foi um dramaturgo prestigiado e um homem de negócios de sucesso no que era, guardadas as proporções, um mercado de entretenimento altamente competitivo, o teatro elizabetano. Mas seu nome sempre aparecia em pé de igualdade com contemporâneos como Ben Jonson, Thomas Kyd ou Christopher Marlowe, a quem, consta, o próprio Shakespeare considerava um modelo no início de sua carreira. É depois da morte que seu status vai gradativamente se avolumando no horizonte e deixando seus colegas de ofício na poeira, a ponto de ser merecedor de um Congresso Mundial de Shakespeare, surgido em 1976, e que terá sua próxima edição entre 31 de julho e 6 de agosto, em Stratford-Upon-Avon, sua cidade.
A curiosidade e a admiração por Shakespeare aumentaram depois da publicação de suas peças em um único volume, em uma edição de luxo para a época, que passou à história como o Primeiro Fólio. A propósito, os bardólatras ganharam um presente em 7 de março: em uma mansão escocesa, Mount Stuart, na Ilha de Bute, foi descoberta uma nova cópia dessa primeira coleção, organizada em 1623 por seus colegas John Hemmings e Henry Coddell. A obra reúne 36 peças – entre elas Macbeth, Ricardo III, Romeu e Julieta, A Comédia dos Erros, Sonho de uma Noite de Verão, Otelo, Rei Lear e Hamlet –, agrupadas em uma edição "in-folio" (porque o papel, de qualidade para os padrões do período, é dobrado apenas uma vez, ao contrário dos in-quarto e in-octavo). Da tiragem estimada de 750 exemplares impressos, conhecem-se 234 cópias sobreviventes. O achado escocês difere significativamente por ser em três volumes e conter espaços em branco, provavelmente destinados a ilustrações.
Remonta a 1769 o primeiro festival em homenagem às peças de Shakespeare de que se tem notícia, o jubileu de três dias organizado pelo estudioso de sua obra David Garrick. A partir daí, teve início uma febre que atravessaria todo o restante do século 18 e parte do 19: a celebração de Shakespeare como um deus secular de tal modo que as montagens de suas peças começavam não com a primeira cena, mas com versos saudando o caráter divino de sua obra. Desde então, em marés, o interesse pelo autor se transformou, mas jamais arrefeceu, e cada época vê nele o que precisa ou procura, e cada admirador vive com maior ou menor grau de entusiasmo sua "febre particular".
Jorge Furtado viveu a sua, bastante moderada em comparação com a de Garrick, que chegou a construir um templo na margem do Tâmisa. O cineasta teve o primeiro contato aos 14 anos, durante uma encenação escolar, no Anchieta, da parte final de Hamlet. Não foi, entretanto, o que se pode chamar de uma "descoberta" do autor.
– A gente montou para a escola aquela cena em que todo mundo mata todo mundo, mas eu te juro que só me dei conta de que aquilo era Shakespeare anos depois, não quando eu fiz – brinca.
Furtado foi retomar contato com o poeta alguns anos depois, com a leitura de 24 Sonetos (1975), a primeira das traduções feitas por Ivo Barroso para um conjunto de poemas.
– Foi quando eu vi que tinha algo muito especial naquilo, e comecei a ler, a querer estudar, a comparar as versões, a buscar as edições bilíngues – relembra.
Essa, agora sim, descoberta, deu origem a uma fascinação de que dá testemunho um de seus primeiros filmes, Barbosa, de 1988, estrelado por Antônio Fagundes como um homem que volta no tempo para tentar impedir a derrota brasileira na Copa de 1950. O curta começava com uma epígrafe em fundo negro retirada de Macbeth. Mais tarde, Furtado incluiria em uma cena de O Homem que Copiava (2003), com Leandra Leal e Lázaro Ramos, o Soneto 12, que versa sobre a inexorável passagem do tempo – na tradução de Barroso que ele lera já naquele primeiro volume comprado quase três décadas antes. O volume de capa amarela é uma das relíquias pessoais de Furtado, ainda mais porque foi autografado por Barroso depois de ver a cena.
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Já nos anos 2000, após ler Shakespeare – A Invenção do Humano (Objetiva, 2000), do crítico Harold Bloom, Furtado resolveu fazer um "curso pessoal" sobre o autor: ao longo de alguns meses, leu todas as peças, mergulhou em estudos, voltou aos sonetos, leu biografias e até escreveu um romance inspirado em uma das peças, Trabalhos de Amor Perdidos (Objetiva, 2006), uma narrativa em que um estudioso brasileiro de Shakespeare se vê na Nova York do 11 de Setembro.
A cada viagem, vasculhava sebos em busca de edições ou traduções diferentes das peças. Foi ganhando uma reputação de "shakespirado" que se espalhou entre amigos, garantindo o aumento de sua coleção pessoal com presentes de terceiros.
– Depois que tu ganhas a fama de gostar de uma coisa, pessoal vê algo, se lembra e te dá de presente – diz, segurando um dos itens, uma miniatura de um crânio erguido por uma palma, em que, apertando-se um botão, ouve-se uma gravação do monólogo proferido por Hamlet ao segurar a caveira do bobo Yorick, na cena do cemitério: "Poor Yorick, I knew him, Horatio".
No fim da década de 2000, Furtado reuniu alguns amigos, escritores, atores e diretores para organizar uma coletânea de sonetos traduzidos de Shakespeare, enfatizando mais o aspecto lúdico da atividade e menos o acadêmico, e convidando o leitor a se engajar também na brincadeira. O cineasta traduziu alguns, mas sempre com uma regra particular: evitou aqueles que Ivo Barroso já havia traduzido, por considerar que não havia o que acrescentar ao trabalho.
Tradução, aliás, é um campo em que, compreensivelmente, pululam os "malucos" por Shakespeare – recriadores minuciosos da obra em português que podem dedicar uma vida à empreitada. O já citado Barroso, por exemplo, lançou seu primeiro volume de sonetos em 1975, e ao longo dos 30 anos seguintes o foi ampliando com a adição de novas traduções. Depois de 30 Sonetos (1991) e 42 Sonetos (2005), Barroso publicou no ano passado o que considera a versão definitiva do trabalho: 50 Sonetos (2015), com a qual, diz o autor na apresentação, considera ter atingido seu objetivo inicial: "Chegar aos 50 dos 154 sonetos de Shakespeare, algo como 1/3 do volume".
Trinta anos para traduzir 50 sonetos pode parecer ao leigo um exagero, mas é apenas uma amostra da dificuldade de apresentar uma versão que conjugue de modo equilibrado o texto de Shakespeare com algumas de suas principais características: a criatividade das imagens e das comparações; o sentido de expressões e palavras que soam arcaicas mesmo para o falante contemporâneo de inglês; a métrica e o ritmo; o dinamismo da linguagem e seu caráter de diálogo para ser falado, no caso das peças. Beatriz Viégas-Faria comenta:
– As comédias são particularmente um desafio à tradução. Há passagens em que um trocadilho leva a outro, que leva a outro que leva a outro, e essas sequências de piadas que se constroem uma sempre a reboque da anterior são bastante problemáticas, pois é necessário criar piadas em sequência que funcionem em português, tenham comicidade hoje e que funcionem dentro do texto, nos contextos daquela situação no enredo e daquela conversação entre as personagens.
Como provavelmente boa parte do mundo contemporâneo a partir do século 20, Beatriz teve seu primeiro contato com Shakespeare não no teatro ou nos livros, mas no cinema – ainda guarda vívida na memória a primeira vez em que assistiu, na infância, à versão de A Megera Domada dirigida por Franco Zeffirelli em 1967, com Liz Taylor e Richard Burton nos papéis principais. À medida que ia desbravando seu caminho como leitora de ficção, ia encontrando a onipresença do poeta inglês em títulos de livros, como O Resto É Silêncio, de Erico Verissimo, O Som e a Fúria, de Faulkner, ou Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Um contato mais aprofundado se deu quando cursava a faculdade de Letras, mas já então algo a incomodava: a pouca valorização do trabalho do tradutor.
– Você devia ler Hamlet, ponto. Não havia, que eu me lembre, menção a uma determinada tradução que devesse ser adquirida ou buscada na biblioteca. Qualquer tradução servia, para fins de discussões em sala de aula quanto ao enredo da tragédia e às hesitações do príncipe da Dinamarca – queixa-se.
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Em 1997, Beatriz foi convidada pela L&PM para traduzir Romeu e Julieta. Ao longo dos 20 anos seguintes, tornou-se uma das mais prolíficas tradutoras de Shakespeare em atividade, tendo vertido para o português não apenas as mais conhecidas Hamlet, Macbeth ou Ricardo III, mas obras como Medida por Medida e Tito Andrônico (para a qual escreveu também notas e o prefácio). Pela tradução de Otelo, ganhou um Prêmio Açorianos, em 2001. Pela de Trabalhos de Amor Perdidos, levou outro, em 2007, e associou seu nome de tal forma ao do bardo que hoje é secretária do Centro de Estudos Shakespearianos do Brasil (CESh). Com essa bagagem, elenca várias dificuldades que qualquer tradutor dedicado encontrará ao confrontar o texto original, a começar pela escolha da edição a traduzir, já que há variações em algumas compilações, e correntes acadêmicas não entram em acordo sobre a válida. Shakespeare é uma pedreira tão grande que até mesmo o componente mais simples de um diálogo, a forma de tratar o interlocutor, é uma dificuldade:
– Não são raras as mudanças de tratamento ao longo dos diálogos entre duas personagens. O texto em língua inglesa pode ter, até na mesma fala, o pronome thou ("tu") e o pronome you (que pode ser "você", "senhor ou senhora", "vocês", "senhores", "senhorita"). Em uma mudança de humor na personagem que fala, pode passar de um respeitoso you para um beligerante e/ou irônico thou. O tradutor fica com o ônus de explicar que é assim no texto fonte e não descuido de revisão.
O professor da UFSM Lawrence Flores Pereira é também tradutor de Shakespeare. Sua versão de Hamlet foi feita para ser encenada nos palcos de Porto Alegre pelo diretor Luciano Alabarse em 2006. Acabou publicada no ano passado pelo selo Penguin, da Companhia das Letras, e ele já trabalha em Otelo e Rei Lear, a serem lançados ainda neste ano pela mesma editora. Ele dedica quase o dia inteiro à tradução – ou a elaborar notas para o que está traduzindo. Para ele, outro contraste desafiador é que Shakespeare, poeta e encenador, também alternava entre verso e prosa em muitas de suas obras.
– É uma rotina bastante árdua e vagarosa de atenção ao detalhe. Faço 15 versões da mesma tradução. Há outros que não fazem isso, mas meu método é de polimento contínuo até encontrar a tonalidade de cada personagem. É minha intenção sempre preservar esse contraste em português – conta Lawrence, também tradutor de peças da antiguidade clássica, como Antígona, de Sófocles. Para ele, novas traduções de Shakespeare são inevitáveis com a passagem do tempo, e versões definitivas são ilusórias, entre outras coisas porque suas peças a cada momento histórico ressoam de modo diverso. Assim, cada tradução, por melhor que seja – ele cita, por exemplo, a qualidade dos trabalhos de Millôr Fernandes (1923 – 2012) –, nunca será definitiva.
– Shakespeare ainda usava um tipo de arte que era alegórica e que, digamos, apelava para as tripas, ao passo que o romance clássico posterior é muito mais analítico, psicológico. Então Shakespeare comporta esses dois níveis: ele não abandonou a fantasia, mas teve incursões muito significativas na interioridade de seus personagens, além de usar certo realismo. Por isso, algumas peças podem ser mais admiradas em uma época, depois outras à medida que o tempo passa. Por exemplo: no Brasil de hoje, acho que o Shakespeare mais significativo é o político.
Shakespeare é assim: pode ser lido de mais de um jeito por uma sociedade e, claro, por milhares de modos ao longo do tempo por um mesmo leitor. Furtado arremata:
– Eu volto frequentemente às peças e aos sonetos em busca de imagens que ele consegue criar e que resumem sentimentos, ideias e medos humanos. Volto frequentemente em busca dessa sabedoria, sempre que posso volto a ler. Tenho uma estante só com os livros do Shakespeare, e quando chego perto, pego um livro, me encosto procurando alguma coisa, quando eu percebo estou ali há mais de duas horas lendo, porque é realmente interminável.
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23 de abril?
Texto de Sergio Faraco
Escritor, autor de Histórias Dentro da História
Em 1995, na 38º sessão de sua Conferência Geral, em Paris, a Unesco proclamou o 23 de abril como o Dia Mundial do Livro. Uma escolha emblemática, pois "nessa data" teriam falecido William Shakespeare e Miguel de Cervantes. Os redatores da resolução foram cautelosos ao usar o termo "data" em vez de "dia". O Cisne do Avon e o Manco de Lepanto não morreram no mesmo espaço de 24 horas do ano de 1616.
Em 1545, para restaurar a disciplina na Igreja e obstar o avanço da Reforma, o Papa Paulo III convocou o Concílio de Trento, assembleia de bispos e doutores que se dissolveria tão-só em 1563. No último ano de seus trabalhos, o concílio recomendou ao papa uma mudança no inexato calendário juliano, que vinha adiantando no tempo certa efeméride cristã.
De fato.
Ensinam os peritos que o calendário de Júlio César, elaborado em 46 a.C. pelo astrônomo alexandrino Sosígenes, criava um apêndice de 0,0078 dias (11 minutos e 14 segundos) sobre os 365,2422 dias do ano astronômico. A cada século decorrido, havia um excesso de 0,78 dias.
Em 1582, orientado pelo astrônomo italiano Luigi Giglio – e com a chancela dos países católicos, como a Espanha de Cervantes –, o Papa Gregório XIII expediu a bula Inter gravissimas, decretando a alteração. Para corrigir o excesso acumulado, suprimiram-se 10 dias daquele ano, saltando-se do dia 4 de outubro para o dia 15 do mesmo mês.
A questão religiosa ainda obcecava a Europa e o novo calendário não foi prontamente aceito pelos países não católicos, entre eles a Inglaterra, que só o faria em 1752. De tal descompasso resulta que Cervantes morreu em Madri a 23 de abril pelo calendário gregoriano, ao passo que Shakespeare morreu em Stratford a 23 de abril pelo calendário juliano, isto é, 11 dias depois, a 4 de maio, pelo mais acurado 2+2 da conta papal. Uma data incerta, frise-se, pois o que se conhece ao certo é o dia de seu funeral, 25 de abril, que corresponde hoje a 6 de maio.
São minúcias que só interessam aos biógrafos. De resto, datar a morte de Shakespeare em 23 de abril tem lá sua conveniência: além de ser o dia de São Jorge, padroeiro da Inglaterra, é também o dia em que, pelo velho calendário, supõe-se que Shakespeare nasceu. Uma suposição sem fundamento, claro, mas essa é outra história.
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Cervantes também?
O 23 abril ficou consagrado como a data da morte de Miguel de Cervantes (1547 – 1616) – tanto é que a Espanha comemora o Dia do Livro. Mas hoje já se aceita como quase certo que o escritor de Dom Quixote teria morrido em 22 de abril de 1616, uma sexta-feira – no sábado, teria havido apenas o registro de seu óbito, em sua paróquia, em San Sebastián. Pelos costumes da época, no registro constava a data do enterro.