Lançada pela Netflix no final de janeiro, A Garota na Fita (2023) é uma minissérie espanhola que não me deixou dormir. Por dois motivos.
Primeiro, por ser um suspense altamente engajador, com três linhas do tempo distintas, mas bem sinalizadas e com um elenco enxuto de personagens (menos de uma dúzia). Investigamos as pistas ao lado deles, somos surpreendidos pelas reviravoltas tanto quanto eles, sofremos junto a eles a cada descoberta aflitiva ou recordação dolorosa. Depois de começar a assistir, não consegui parar. Avancei madrugada adentro.
Com roteiro escrito por Javier Andrés Roig e Jesús Mesas Silva. A Garota na Fita é baseada em um romance publicado em 2020 por Javier Castillo — La Chica de Nieve, título em espanhol da minissérie. David Ulloa dirige os episódios 1, 2, 5 e 6, e Laura Alvea assina os dois do meio.
A história começa no dia 5 de janeiro de 2010. Durante a celebração dos Reis Magos, em Málaga, na costa sul da Espanha, a menininha Amaya Martín desaparece no meio da multidão, para desespero de seus pais, a médica Ana (Loreto Mauleón, da minissérie Pátria e do filme As Linhas Tortas de Deus) e o escritor Álvaro (Raúl Prieto, da comédia Se Organizar Direitinho...).
Duas mulheres vão investigar o caso, uma oficialmente e a outra quase que por conta própria. A primeira é a detetive Belén Millán, papel de Aixa Villagrán (do seriado Vida Perfeita), que terá como fiel escudeiro o policial Chaparro (Marco Cáceres). A segunda é a jovem Miren Rojo, interpretada por Milena Smit, de Não Matarás (2020) e de Mães Paralelas (2021). Trata-se de uma estagiária do jornal Sur, onde é apadrinhada pelo veterano repórter Eduardo (José Coronado, ganhador do prêmio Goya de melhor ator por Não Haverá Paz para os Malvados). Miren, fica claro desde as cenas iniciais, tem uma motivação particular, o que contribui tanto para nutrirmos uma empatia pela personagem de Smit quanto para o trabalho de desenvolvimento dramático da atriz, equilibrando impulsividade, obstinação, fragilidade e revolta.
Para falar do segundo motivo pelo qual A Garota na Fita me tirou o sono, preciso lembrar a vocês que sou pai da Helena e da Aurora e dar um pouco de spoilers.
A certa altura, a investigação sobre o paradeiro de Amaya leva a uma revelação tenebrosa (último aviso sobre spoilers). De alguma forma, o sequestro pode estar conectado a uma rede de estupradores e pedófilos. Esses homens hediondos não se contentam na prática da violência sexual: também se dedicam a divulgá-la via internet.
Miren confronta um dos criminosos. Pede que ele identifique os usuários de um site chamado Slide, que saiu do ar depois que o sujeito foi preso. Ele se recusa, mas resolve dar um conselho à jornalista:
— Esqueça isso. Não é uma luta contra pessoas. É uma luta contra a realidade. Estou aqui trancado. Os estupros acabaram? A pornografia infantil diminuiu? Não adianta prender todos nós. Sempre haverá alguém fazendo o mesmo. Não há chefes. É o sistema. É como as coisas funcionam.
Durma-se com uma verdade dessas.