Com orgulho, Ijuí ostenta o título de Capital Mundial das Etnias. Eu visitei nesta semana a Expofest Ijuí, celebração das culturas dos povos que formaram o município no noroeste gaúcho. Organizadas, 13 etnias apresentam história, dança, música e culinária. Em tempo de guerras no Oriente Médio e na Ucrânia, a festa mostra como é possível a convivência pacífica.
Fundada em 19 de outubro de 1890 pelo governo estadual, a Colônia Ijuhy conseguiu prosperar recebendo imigrantes de muitas origens. Não era tarefa fácil. Imagine pessoas com idiomas, crenças e costumes diversos. Em outras regiões, a colonização multiétnica não vingou.
Na língua guarani, Ijuhy significa "rio das águas divinas". Os primeiros grupos de imigrantes foram de poloneses, alemães e italianos. Quando chegaram, se juntaram aos gaúchos, descendentes da miscigenação de índios, africanos, portugueses e espanhóis. O produtor cultural Francisco Roloff conta que o relato do padre polonês Antônio Cuber, primeiro pároco católico da colônia, é emblemático. Em 1898, depois de uma missa, o religioso contabilizou 19 idiomas na cerimônia.
Cuber foi importante para integração e adaptação dos imigrantes. Como falava cinco idiomas, ajudava nos negócios e resolvia possíveis desentendimentos. Em 31 de janeiro de 1912, Ijuí conseguiu a emancipação de Cruz Alta. Pelo Censo do IBGE em 2022, o município tem 84.726 habitantes.
No século 21, Ijuí continua recebendo imigrantes, como os haitianos e senegaleses. A União das Etnias de Ijuí (UETI) já contabiliza 49 etnias na formação da população ijuiense. Os sérvios foram os últimos incluídos na lista. O trabalho de pesquisa continua.
Em 1987, foram criados os primeiros centros culturais, que construíram belas casas no Parque de Exposições Wanderley Burmann, local da Expofest Ijuí. O trabalho de preservação da cultura, além de possibilitar o conhecimento do passado das famílias, rende outros frutos. Em 2022, Ijuí recebeu o título de Capital Mundial das Etnias, concedido pela Organização Internacional de Folclore e Arte Popular, credenciada pela UNESCO.
A cidade, que tenta preservar tantas culturas e idiomas, pode ser considerada a Babel gaúcha, mas deu certo apesar da confusão de línguas. A Torre de Babel é história bíblica, que explicaria a variedade de idiomas no mundo.