Os primeiros veranistas chegaram a Cidreira no final do século 19. Os banhos de mar, devido à água salgada, eram considerados terapêuticos, inclusive recomendados por médicos. Na ocupação portuguesa, o litoral ficou dividido em sesmarias. A Estância das Cidreiras foi uma das tantas dedicadas à criação de gado. A vida litorânea era no campo. Os veranistas, moradores de cidades como Porto Alegre, surgiram para aproveitar a praia nos meses de janeiro e fevereiro.
O acesso das famílias não era fácil. Em carretas puxadas por bois, os pioneiros venciam os obstáculos, principalmente as dunas. O trajeto mais curto para os porto-alegrenses era pelos campos de Viamão, chegando a Cidreira. As famílias mais ricas passavam uma temporada na praia.
Em 1886, um anúncio no jornal A Federação oferecia o serviço de transporte de Porto Alegre a Cidreira e Tramandaí. Os interessados deveriam ir a uma casa na Rua da Floresta (Avenida Cristóvão Colombo). Em outra nota, um ano antes, o periódico saudava do retorno de Orlando Coelho da Silva, restabelecido depois de período em Cidreira "por motivos de moléstia".
Quanta gente viajava para Cidreira no final do século 19? Em fevereiro de 1892, um levantamento publicado no jornal A Federação apontou a existência de 46 ranchos, ocupados por 112 homens, 126 mulheres, 131 crianças e 90 criados, totalizando 459 pessoas. Na lista detalhada com nome das famílias, consta que 112 carroças foram usadas no transporte.
Os primeiros veranistas construíram ranchos de palha de tiririca, planta abundante nas lagoas. Em 1894, Manuel Euphrasio comunicou na imprensa de Porto Alegre a reabertura de seu hotel. Sem fornecer detalhes no anúncio, podemos acreditar que era uma simples casa de palha, como todas as outras.
Outro empresário que oferecia temporada de banhos em Cidreira foi Francisco Funchal. No final de 1900, publicou propaganda do Grande Hotel Funchal, que reabriria reformado a partir de janeiro de 1901, com "quartos e ótima comida". Funchal alugava também ranchos e fornecia carretas. A Empreza Bello, Carvalho, Funchal & Cia fazia o transporte nas diligências, como chamavam as carroças puxadas por cavalos ou bois. Em 1901, a saída de Porto Alegre ocorria todas as terças-feiras, às 15h. Os interessados deveriam ir à Cervejaria Christoffel, na Rua Voluntários da Pátria.
Com a procura maior pelo litoral no verão, o Vapor Montenegro fazia viagem de barco da capital até Palmares do Sul. O percurso era completado em carroças até Cidreira. Em 1916, o vapor saia de Porto Alegre quinta-feira, às 23h, chegando a Palmares na manhã de sexta e, finalmente, à praia durante a tarde. As famílias ficavam pelo menos uma semana no litoral. O retorno começava na sexta-feira, às 6h, em Cidreira. O vapor partia de Palmares às 14h, com chegada prevista a Porto Alegre às 22h.
Na década de 1910, também começaram a aparecer os primeiros automóveis na beira da praia. No verão de 1913, empresário Luiz Vitale deu início a uma linha de Porto Alegre para Tramandaí e Cidreira. A primeira viagem foi com as famílias de Leopoldo Deixheimer e do médico Carlos Leite. Com mais veranistas, os hotéis ficaram melhores, erguidos em madeira. Aliás, pequenas casas de madeira já aparecem em fotos da Revista Mascara antes de 1920. Em foto da Revista do Globo, de 1929, podemos ver banhistas em frente ao Hotel Farroupilha, em Cidreira.
A construção da Estrada Velha (ERS-030) no final da década de 1930 tornou as viagens mais rápidas ao Litoral Norte. No livro A saga das praias gaúchas: de Quintão a Torres, Leda Saraiva Soares lembra que, em 1941, foi instalado o primeiro gerador de luz em Cidreira, funcionando inicialmente até as 22h. Outro momento marcante para o desenvolvimento foi a conclusão da estrada de Porto Alegre a Cidreira (atual ERS-040), em 1958. Nos anos 1960, chegaram os serviços de telefonia e tratamento de água.
O pesquisador Ivan Therra, autor do livro Praia da Cidreira: história, cotidiano, cultura e sentimento, conta que os prédios dos hotéis eram soberanos na paisagem praieira durante os anos 1940. Na década seguinte, ganharam a companhia das casas de veranistas, construídas em maior número a cada ano.
Em 9 de maio de 1988, Cidreira conseguiu a emancipação de Tramandaí.
Qual a origem do nome do município?
A versão mais difundida relaciona o nome à erva-cidreira. A questão é qual planta. No livro Origem dos nomes dos municípios gaúchos e seus distritos, Jacy Waldyr Fischer lembra que a terminologia é usada no Rio Grande do Sul para três plantas diferentes: a erva-cidreira (Aloysia triphylla), o capim-cidró (Cymbopogum citratus) e a melissa (Melissa officinalis). Ele considera que o nome está relacionado à primeira (Aloysia triphylla).
O pesquisador Ivan Therra sugere outra possibilidade: relação com uma localidade chamada Cidreira, em Portugal. Ele reforça que não encontrou até hoje qualquer prova documental sobre a origem. Nos vários nomes para a região, o pesquisador destaca que sempre esteve a palavra Cidreira: Campos das Cidreiras, Entrada das Cidreiras, Curral das Cidreiras, Paragem das Cidreiras, Estância das Cidreiras, Fazenda das Cidreiras, Praia da Cidreira e município de Cidreira.
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