Em busca de temperaturas mais agradáveis e do poder curativo do mar, veranistas começaram a chegar ao Litoral Norte gaúcho no final do século 19. Em 1888, Leonel Pereira de Souza já recebia hóspedes no Hotel da Saúde, o primeiro de Tramandaí. Ficava onde está hoje a Câmara Municipal, ao lado do rio. As famílias de Porto Alegre e da região dos vales chegavam à praia em carroças depois de longas viagens. A vila de pescadores passaria por transformação nas décadas seguintes.
Jorge Francisco Enéas Sperb, filho de um hoteleiro de São Leopoldo, decidiu construir perto do mar o Hotel Sperb. Depois de percorrer a cavalo o trecho de Torres a Quintão, escolheu Tramandaí. O empresário considerou a melhor localização para acesso dos veranistas da capital e dos vales do Sinos e Paranhana. Na época, eram "só" três dias e meio de viagem de carroça. Com 30 convidados, o hotel foi inaugurado com 12 quartos em 21 de janeiro de 1898. Mais tarde, ganhou as cabanas. Só famílias ricas viajavam para a praia. Normalmente, em janeiro e fevereiro. Alguns dos trajes utilizados pelos banhistas, os largos maiôs de lã, eram trazidos da Europa.
A história dos primeiros veraneios na região é contada pelo pesquisador Felipe Kuhn Braun no livro Tramandahy – As idas à praia no início do século XX (Editora Oikos). Em 1906, Tramandaí já tinha aproximadamente 80 casas. Os dois hotéis ficavam longe da praia, uma precaução dos antigos moradores por causa das ressacas. Muitas dunas ficavam no caminho até chegar ao mar.
No início, os turistas percorriam de carreta, duas vezes por dia, um quilômetro e meio entre o Hotel Sperb e a praia. Cada hotel disponibilizava aos hóspedes veículos puxados por bois ou cavalos. Quando chegavam na beira do mar, trocavam de roupa nos biombos, estruturas construídas com palha trançada.
Os veranistas acordavam no final da madrugada para ir o mais cedo possível para o banho de mar. Eles não tinham ainda protetor solar para passar no corpo. A única forma de se proteger eram roupas compridas e os chapéus largos. Às 6h, os hóspedes tomavam o café. Às 11h, era servido o almoço e, às 15h, o café da tarde. A segunda saída do dia para banho de mar ocorria às 16 horas. Todos jantavam antes do anoitecer, aproveitando a claridade do dia.
Braun conta que, no princípio do século 20, uma das principais diversões dos rapazes era caçar jacarés na lagoa. Em dia de chuva, as mulheres aproveitavam o tempo para conversar e os homens começavam o carteado mais cedo. Depois dos dias de descanso e diversão, as famílias faziam a longa viagem de volta para casa esperando o próximo verão para retornar.
O Hotel Sperb funcionou até o início dos anos 90 na esquina da Avenida Emancipação com Rua Jorge Enéas Sperb, denominação em homenagem ao pioneiro da hotelaria em Tramandaí.
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