Impossível relembrar os meus verões em Tapes, na beira da Lagoa dos Patos, sem pensar nos mosquitos. Os insetos chegavam sempre em grupo. Nada de ação individual. Eles queriam nos atacar de todos os lados. Os mosquitos faziam a festa nas nossas férias em família. Como já sabíamos que eles estariam nos esperando, a bagagem ia preparada com caixas de Boa Noite, uma marca que virou sinônimo do produto.
O repelente em formato de espiral, de cor verde, ficava queimando na nossa volta. A fumaça tomava conta do acampamento ou da varanda da casa na tentativa de afastar os mosquitos. Certamente o Boa Noite ou produtos de outras marcas também fizeram parte dos verões de vocês. Talvez, ainda façam. O repelente em espiral é fabricado por várias empresas, com diferentes nomes.
A luta contra os mosquitos fez Oswaldo Ewaldo Streibel, saindo da faculdade de engenharia química, fundar a Sul Química Ltda. A pequena fábrica funcionava inicialmente Rua Voluntários da Pátria, em Porto Alegre. O primeiro produto, em 1948, foi o Matador, um repelente em forma de pirâmide, que era aceso e provocava fumaça. No livro Indústria de Ponta - Uma História da Industrialização do Rio Grande do Sul, Eduardo Bueno e Paula Taitelbaum contam que Streibel adquiriu, na mesma época, a marca Boa Noite de uma empresa argentina. Lançou o repelente diferente de tudo que se conhecia. Não precisava ser pulverizado, mas queimado. Se comparado com o cheiro dos produtos concorrentes, parecia incenso. O nome ficou Bôa Noite. Assim mesmo, com acento.
Martin Streibel, filho de Oswaldo, lembra da fábrica já operando na Avenida Alberto Bins, vizinha da antiga sede da Sogipa. Ele me contou que o repelente em espiral também foi vendido com as marcas Matador e Sono Bom, mas o maior sucesso foi mesmo do Boa Noite. Em Porto Alegre, a Sul Química funcionou também em prédio da Rua Jari, no bairro Passo D´Areia.
Em 1978, com a fábrica já em Cachoeirinha, a empresa lançou o repelente em pastilha, em um aparelho ligado na tomada. Com desenvolvimento tecnológico, o Boa Noite ganhou outros concorrentes. Mesmo assim, continua até hoje no mercado. A Sul Química foi comprada pela goiana Hypermarcas (atual Hypera Pharma) em 2007 e a produção saiu do Rio Grande do Sul pouco tempo depois. O Boa Noite, que perdeu o acento, é produzido atualmente pela Flora, empresa do Grupo J&F, holding que também controla a JBS.
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