Em porto à beira do Rio Taquari, prosperou o município de Muçum, devastado na enchente do mês passado. O povoado cresceu com a chegada dos imigrantes italianos a partir do final do século 19. Pelas águas, saíam e chegavam embarcações com produtos coloniais e passageiros.
O território cercado das verdes montanhas já fez parte dos municípios de Rio Pardo, Triunfo, Taquari, Estrela, Lajeado e Guaporé. Os 4,6 mil habitantes têm muitas origens, mas predominam os italianos.
O historiador e escritor Airto Francisco Gomes, autor do livro Muçum: 60 anos de história (1959-2019), conta que o nome está relacionado ao peixe muçum, presente no rio. Em 1862, durante exploração no Taquari, o capitão do Exército Imperial Antônio Augusto Arruda registrou em mapa o nome "Cachoeira de Mussum". É o registro mais antigo. O peixe deu nome à cachoeira, que denominou o porto, que deu origem ao povoado. Pelo relatório enviado ao governo do Estado, a cachoeira era formada por aglomeração de cascalhos, possibilitando formação de corredeira quando o rio estava mais alto.
Gomes relata que os imigrantes italianos iam até Garibaldi e depois desciam para a região de Muçum e Encantado. No Vale do Taquari, compraram terras do governo e lotes de alemães, que chegaram antes, mas não se adaptaram às áreas.
O prefeito de Muçum, Mateus Trojan, lembra que a comunidade São Faustino e Juvita é a mais antiga, formada por famílias de origem portuguesa, em 1873. A capela de 150 anos foi reinaugurada, após reforma, em 2023.
Em 1905, com o nome General Osório, o local passou a ser o 3º distrito de Guaporé, município criado dois anos antes. Moradores e até documentos oficiais continuaram citando os dois nomes: Mussum e General Osório. Em 1938, decreto estadual oficializou o nome antigo e mais popular.
O professor de história Ademar Vivian conta que eram vários pequenos portos, muito importantes na primeira metade de século 20. Em trilhos, mercadorias eram transportadas dos armazéns na parte alta das margens do rio até as embarcações. Os produtos das colônias seguiam até Estrela e, depois, Porto Alegre. Na década de 1930, quatro bancos operavam em Muçum. O ciclo da navegação terminou no final da década de 1940. O professor cita como causas o surgimento das estradas, o assoreamento do Taquari e a criação da legislação trabalhista.
A emancipação ocorreu em 1959. O novo município, instalado em 31 de maio, passou a ter o nome com a grafia alterada para Muçum. Na década de 1970, a região recebeu a Ferrovia do Trigo, com seus belos túneis e viadutos. Muçum se apresenta como a Princesa das Pontes. A cidade que surgiu junto ao porto, já desativado, foi destruída pela enchente do Rio Taquari.
Neste momento difícil, os moradores podem buscar inspiração no passado de trabalho dos pioneiros para a reconstrução de Muçum.