Orgulhosamente, os moradores de Victor Graeff apresentam a sua praça como a mais bela do Rio Grande do Sul. Os ciprestes transformados em esculturas rendem muitas fotos dos visitantes na cidade do Norte gaúcho, conhecida também pela cuca com linguiça, herança dos imigrantes alemães. O responsável pelas formas nas plantas é Fredolino Selmiro Schmidt, o seu Mírio, que está de volta ao jardim com suas tesouras.
Os ciprestes da Praça Tancredo Neves começaram a virar figuras em 1989. As primeiras foram de uma águia e de um leão. O trabalho surgiu por acaso. Em conversa com colega de coral e então prefeito, Ivar José Roessler, seu Mírio sugeriu a criação das esculturas nas árvores da praça. Sem outro jardineiro para o serviço, ele mesmo topou o desafio. O agricultor acabaria virando funcionário da prefeitura para produzir o cartão-postal da cidade.
Sem qualquer formação artística, só tinha experiência com poda de cerca-viva na adolescência, em Cruz Alta. Antes de fazer suas esculturas, lembra de ter visto outras apenas em jornais ou revistas, em algum jardim italiano. Com a paciência que exige a topiaria, técnica de dar forma às plantas, seu Mírio fez as podas e plantou centenas de árvores na praça. Em muitos casos, precisou esperar por anos até as imagens ficarem prontas.
Nas lembranças dos antigos filmes do Tarzan, o artista buscou inspiração para os animais. A praça também tem outras formas, como avião, figuras humanas e túnel. Os grandes nomes da música regional estão representados por Teixeirinha, Rui Biriva e Gaúcho da Fronteira.
É inevitável a relação da praça de Victor Graeff com o filme Edward Mãos de Tesoura, lançado no Brasil em 1991. O artista gaúcho comenta que a produção norte-americana, estrelada por Johnny Depp, ajudou a dar mais visibilidade ao trabalho, permitindo a ampliação das esculturas, que chegaram a mais de cem.
Depois de ficar 15 anos afastado do jardim da praça, já aposentado, seu Mírio aceitou voltar ao trabalho no jardim em 2021, convidado pelo neto e atual prefeito, Lairton Koeche. Com a paciência de sempre, aos 86 anos, o nosso Mãos de Tesoura está recuperando as antigas e fazendo novas esculturas.
Victor Graeff
As primeiras famílias da região moravam nos arredores do Arroio Cochinho, ponto de passagem de tropeiros. A Vila Cochinho virou o município de Victor Graeff, emancipado de Não-Me-Toque em 1965.
O nome é uma homenagem ao advogado e político Victor Oscar Graeff, falecido durante o movimento emancipacionista que liderava.