O senador Joaquim Pedro Salgado Filho era o candidato do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ao governo do Estado. Em 28 de julho de 1950, uma sexta-feira, desembarcou em Porto Alegre para dar largada à campanha. O político viajou em avião da Varig, chegando de tarde, poucas horas antes da tragédia com aeronave da Panair, que colidiu no Morro do Chapéu, em Sapucaia do Sul, matando 50 pessoas.
Os dias naquele inverno não estavam favoráveis à aviação. Salgado Filho, que fora ministro do Trabalho e da Aeronáutica no governo de Getúlio Vargas, estava decidido a visitar o ex-presidente, refugiado na Fazenda do Itu, na Fronteira Oeste. O voo fretado da SAVAG (Sociedade Anônima Viação Aérea Gaúcha) deveria partir às 9h do domingo, 30 de julho. Com o mau tempo, atrasou. O Jornal do Dia noticiou que o comandante Gustavo Cramer, piloto com atuação destacada na Segunda Guerra Mundial, teria ponderado sobre condições desfavoráveis e ouvido que "não existe mau tempo" para o ex-ministro da Aeronáutica e da Campanha Nacional de Aviação.
O bimotor Lockheed Lodestar, prefixo PP-SAA, decolou por volta das 11h, em Porto Alegre. O serviço de proteção de voo da Cruzeiro do Sul recebeu, às 12h25, uma comunicação da tripulação da SAVAG. O avião passara minutos antes por Santa Maria, voando para a fronteira com tempo nebuloso. Nenhum relato de problema.
Salgado Filho não chegaria à fazenda de Getúlio Vargas. Em meio à cerração, a aeronave colidiu em um morro no interior de São Francisco de Assis. Morreram o senador e os outros nove ocupantes. Com a explosão, os corpos ficaram carbonizados.
O acidente aéreo ocorreu por volta das 13h, em uma região de fazendas, com difícil acesso e sem comunicação. Em Porto Alegre, a informação sobre o acidente chegou apenas na noite de domingo. Inicialmente, com versões desencontradas. Em volta dos rádios, a população aguardava as últimas notícias, muito escassas. A confirmação das mortes só chegaria na manhã de segunda-feira.
Além do senador Salgado Filho e do comandante Gustavo Cramer, morreram copiloto Plínio Corrêa, mecânico Manuel Saraiva Soares, comissário de bordo Jorge Alberto Amaral, radiotelegrafista Ivo Rodrigues, fazendeiro Oswaldo Dorneles, jornalista Paulo de Andrade Job, Rui Ramos Teixeira e Ivens Trindade.
Natural de Porto Alegre, Salgado Filho era filho do coronel Joaquim Pedro Salgado e de Maria José Palmeiro Salgado. Advogado, foi chefe de polícia antes de ocupar cargos no governo Vargas. Em 1947, venceu eleição para o Senado pelo Rio Grande do Sul. Aos 62 anos, tentaria ser governador do Rio Grande do Sul.
Depois da morte, o político foi homenageado com nome de ruas, escolas e até de um município no Rio Grande do Sul. Em outubro de 1951, decreto trocou o nome do aeroporto de Porto Alegre, homenageando Salgado Filho. O comandante Gustavo Cramer dá nome aos aeroportos de Rio Grande e Bagé.
Primórdios da aviação no bairro São João
O aeroporto Salgado Filho fica na área conhecida antigamente como Várzea do Gravataí. A Brigada Militar chegou a instalar um regimento de cavalaria no local durante a Revolução Federalista, no final do século 19. O posto de veterinária da corporação ficou, mais tarde, neste vasto potreiro sem edificações. Em 1923, a Brigada Militar colocou na área o recém criado Serviço de Aviação, após adquirir duas aeronaves na Argentina. O local passou a ser conhecido como Parque de Aviação, servindo para demonstrações de voo esportivo.
A Varig, fundada em 1927, inicialmente usou hidroaviões. Somente em 1932 operou aeronaves com trem de pouso. A aviação comercial exigiu melhorias no aeródromo do bairro São João.
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