A Varig começou a sua história voando sobre o Guaíba e a Lagoa dos Patos. A Viação Aérea Rio-Grandense foi fundada na tarde de 7 de maio de 1927 na Associação Comercial, na Rua dos Andradas, em Porto Alegre. Com apoio de empresários e políticos locais, o alemão Otto Meyer conseguiu tirar do papel o sonho de criar a primeira empresa aérea brasileira. Ele fechou acordo com a alemã Condor Syndikat, que forneceria o primeiro avião.
A Condor realizou em fevereiro de 1927 o primeiro voo comercial do Brasil, entre Porto Alegre e Rio Grande. O Atlântico, hidroavião Dornier Wal usado na viagem, seria repassado depois para a Varig em troca de 21% das ações da nova companhia aérea. A Linha da Lagoa foi a primeira rota da Varig, ligando Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. As primeiras viagens foram por contrato de fretamento com a Condor.
Em 5 de junho, o Esporte Clube São José viajou no avião para Pelotas. Meyer acertou o jogo com o Esporte Clube Pelotas. A viagem aérea, a primeira de um time de futebol no mundo, serviu para promover o novo serviço de navegação aérea. Como qualquer novidade, ainda mais no céu, ele precisava mostrar a segurança, além da comodidade e rapidez da viagem.
Como Mario de Albuquerque conta no livro Berta: Os anos dourados da Varig, o Atlântico tinha apenas nove lugares para passageiros, além do piloto e do mecânico de bordo. Dois atletas se ofereceram para viajar no compartimento de cargas. Com isso, o time chegou com 11 jogadores para a partida em Pelotas.
O avião saiu às 10h30 da capital gaúcha para jogar à tarde na cidade do Sul do estado, algo impossível na época em viagens por outros meios de transporte. Uma multidão recepcionou o grupo. A partida terminou empatada, mas o que ficou para a história foi a viagem aérea da equipe porto-alegrense.
Em 10 de junho, o governo federal concedeu por decreto o tráfego aéreo para a Varig, permitindo o fim do contrato de fretamento da Condor. A Viação Aérea Rio-Grandense conseguiu fazer o registro do avião. A tripulação, alemã, foi transferida para a empresa gaúcha. Ruben Berta, que chegaria ao cargo de presidente da companhia, foi o primeiro funcionário da Varig, admitido ainda em março de 1927
A Linha da Lagoa abriu caminho para a empresa aérea. A Varig conseguiu manter regularidade nas viagens, transportando passageiros, correspondências e encomendas entre as três cidades. Em setembro de 1927, por exemplo, o Atlântico partia de Porto Alegre terças e sextas-feiras às 8h, com chegada às 10h20 em Pelotas e 10h55 em Rio Grande. A Varig pedia que passageiros se apresentassem 30 minutos antes da partida no Cais do Porto da capital. As saídas de Rio Grande eram quartas-feiras e sábados.
As crianças de até dois anos não pagavam. Cada passageiro poderia levar até 10 quilos de bagagem. As correspondências precisavam ser entregues nos escritórios da empresa até uma hora antes da partida. Os voos eram em baixa altitude, de até 50 metros. Em função do barulho, todos usavam algodão nos ouvidos. Os passageiros eram levados ao hidroavião de barco.
O Atlântico também fazia voos circulares em Porto Alegre, permitindo a vista aérea da cidade aos que poderiam pagar.
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