Os cortejos fúnebres passam pelo antigo túnel da Colina Melancólica. Em silêncio, familiares e amigos percorrem os últimos metros antes da despedida. Nada do barulho da saudação da torcida como na época dos grandes jogos de futebol. Uma parte das arquibancadas do velho estádio continua lá, ao lado dos jazigos no morro do bairro Medianeira, em Porto Alegre. São lembranças de outros tempos, como as recordações das pessoas queridas que estão sepultadas no Cemitério Ecumênico João XXIII, que completa 50 anos.
O cemitério vertical foi inaugurado em 27 de abril de 1972. A construção ocupou a área do Estádio da Montanha, que pertencia ao Esporte Clube Cruzeiro. O portão do túnel é o original, assim como um trecho da arquibancada, que fica na lateral esquerda do prédio que abriga os jazigos.
Quando o Cruzeiro se estabeleceu naquela região, já estava rodeado pelos cemitérios. O mais antigo foi aberto pela Santa Casa, em 1850, depois da saturação do velho local de sepultamentos junto à Igreja Matriz, no Centro. Colina Melancólica, pela tristeza dos funerais, virou apelido do campo de futebol.
O Estádio da Montanha foi cenário de grandes partidas até 7 de novembro de 1970, quando o Cruzeiro venceu por 3 a 2 o Liverpool, do Uruguai, na despedida. A torcida deixou o local chorando. Terminava a história iniciada em 16 de março de 1941. Na inauguração, o Cruzeiro venceu o São Paulo por 1 a 0. Com capacidade para 20 mil torcedores, foi o primeiro estádio da cidade com entrada dos jogadores no gramado por um túnel.
Em período de declínio, o clube negociou o estádio com o empresário José Elias Flores, do Grupo Cortel, permutando por uma área de aproximadamente 18 hectares onde foi construído o estádio Estrelão, ocupado até 2012, na Avenida Protásio Alves. O Cemitério Ecumênico João XXIII foi concebido e construído pela empresa Cortel. Em 1970, José Elias Flores doou o terreno à Associação Cristã de Moços. Os cemitérios só podiam ser construídos em áreas de propriedade de entidades filantrópicas ou religiosas. O espaço da Colina Melancólica passaria a abrigar o cemitério, que ajudou a suprir a falta de vagas para sepultamentos na cidade.
O Cemitério João XXIII se tornou um dos principais lugares para sepultamentos e realização de cerimônias fúnebres de Porto Alegre. Inicialmente, tinha três andares. Na década de 1980, foram incluídos mais três andares no prédio, dando a característica atual. Mantido e administrado pela ACM-RS, o local tem 37 mil jazigos e 100 mil sepultados, incluindo grandes nomes do nosso futebol, como Everaldo Marques da Silva, campeão na Copa do Mundo de 1970; Luiz Carlos Machado, o Escurinho; e Ênio Andrade.
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