Os noticiários policiais de jornais do passado estão repletos de casos envolvendo arsênico. O veneno para ratos e insetos está proibido no Brasil desde 2005. O pó branco já causou inúmeras mortes no Rio Grande do Sul, desde crimes e suicídios até acidentes. No episódio mais recente, exame detectou arsênio no sangue de pessoas que comeram um bolo em Torres. A polícia ainda investiga o caso que teve três mortos.
Em pesquisa nos jornais antigos, localizei muitas notícias envolvendo mortes e hospitalizações por envenenamento. Em comum, o produto: o composto trióxido de arsênio, o arsênico. Em um dos casos, duas idosas foram envenenadas em 24 de junho de 1890. Carlota Antonia de Castro e Maria Aldina de Castro moravam na Rua General Vitorino, no centro de Porto Alegre. Elas passaram mal depois de comer mocotó.
O envenenamento foi acidental. As irmãs alugavam peças da casa para Joaquim Ferreira da Silva Brinco e a esposa. O inquilino misturava farinha com arsênico para matar ratos. Quando o casal se mudou, deixou em um dos cômodos um pacote do produto envenenado. Sem saber, as senhoras misturaram a farinha ao mocotó. O jornal A Federação noticiou a morte de Carlota. Em edições posteriores, não encontrei atualização sobre o quadro de saúde de Maria, que foi hospitalizada.
Em 27 setembro de 1921, quatro crianças foram envenenadas acidentalmente em Itapuã, em Viamão. Por descuido, em vez de bicarbonato de sódio, foi adicionado arsênico a um prato. Em atendimento domiciliar, médico salvou as crianças José, Vicentina, Idalina e Leontina Menezes.
Na Estação da Estiva, que na época pertencia à Cachoeira do Sul, dois médicos e um farmacêutico chegaram em trem especial em dezembro de 1921. O trio salvou seis pessoas contaminadas após comerem pão. Neste caso, o arsênico também foi confundido com o bicarbonato de sódio.
Em janeiro de 1957, intoxicados após refeição, um casal e dois filhos estavam internados no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. O Diário de Notícias publicou que, em um armazém de Viamão, o vendedor entregou arsênico como se fosse bicarbonato de sódio.
O arsênico, misturado em alimentos, também já foi usado em crimes. Em 16 de dezembro 1912, por exemplo, morreram cinco funcionários de uma confeitaria na esquina das ruas Duque de Caxias e Vasco Alves, em Porto Alegre. Adelino Pereira, Arthur Monteiro de Carvalho, Manoel Leopoldino da Silva, Jardelino costa e Armando Texeira apresentaram sintomas de envenenamento depois de comerem polenta. A cozinheira Petronilla Pereira da Costa foi presa. O jornal A Federação noticiou a hipótese de vingança contra um dos empregados da confeitaria.
Em 1954, o Diário de Notícias publicou reportagem sobre crime em Crissiumal, no noroeste gaúcho. Lucildo Richter teria adicionado arsênico nos bolinhos feitos pela esposa Elsa. Quando a mulher e os cinco filhos pequenos começaram a apresentar sintomas de envenenamento, usou navalha para matar a família. Só uma filha sobreviveu.
Os jornais gaúchos também noticiaram no passado muitos casos de suicídios com uso de arsênico, além de casos envolvendo crimes e acidentes em outras regiões do Brasil e outros países.