Uma confraternização familiar em Torres, no Litoral Norte, terminou em tragédia. Após consumirem um bolo, seis pessoas da mesma família passaram mal e precisaram procurar atendimento médico na segunda-feira (23).
Três mulheres morreram entre a madrugada de terça (24) e de quarta-feira (25). Outros dois familiares permanecem hospitalizados e um foi liberado após atendimento médico.
A Polícia Civil investiga o caso e levanta a hipótese de envenenamento ou intoxicação alimentar. O marido da mulher que fez o bolo — Zeli Terezinha Silva dos Anjos, 61 anos, que está hospitalizada — morreu por intoxicação alimentar em setembro.
Exames preliminares indicaram a presença de arsênio no sangue de três vítimas que teriam comido o bolo.
O que se sabe sobre o caso
Como aconteceu?
Segundo o delegado Marcos Vinicius Veloso relatou em entrevista à Rádio Gaúcha na terça-feira (24), a mulher que fez o bolo seria moradora de Arroio do Sal, no Litoral Norte. Zeli teria feito o alimento na manhã de segunda-feira (23). Pela tarde, ela se deslocou para Torres, também no Litoral, para encontrar com os parentes.
A família se reuniu em uma residência, onde comeram e confraternizaram. Algum tempo depois, por volta das 18h, algumas pessoas começaram a passar mal e tiveram de buscar um pronto-atendimento médico. Todas que apresentaram sintomas teriam comido o bolo.
O episódio deixou vítimas?
Seis pessoas procuraram atendimento médico após comer o doce. Três mulheres morreram. Um menino de 10 anos e a mulher que fez o bolo permanecem hospitalizados. De acordo com o boletim médico mais recente, divulgado pelo Hospital Nossa Senhora dos Navegantes nesta sexta-feira (27), ambos seguem estáveis.
Um parente foi liberado após atendimento médico. Segundo o delegado, ele teria ingerido pouco bolo, o que colabora com a possibilidade de ter sido a guloseima a causa dos problemas de saúde.
Quem são as vítimas?
As vítimas foram identificadas como Tatiana Denize Silva dos Anjos, 43 anos e Neuza Denize Silva dos Anjos, 65. Segundo o delegado, elas eram mãe e filha.
A professora Maida Berenice Flores da Silva, 58 anos, também está entre as vítimas. Ela atuou por mais de uma década em escolas de Canoas e é descrita por colegas como uma profissional exemplar. De acordo com o delegado, ela era tia de Tatiana.
Maida e Tatiana foram veladas e sepultadas na tarde de quarta-feira (25), no Cemitério São Vicente, em Canoas, na Região Metropolitana. O corpo de Neuza foi sepultado no dia seguinte, no mesmo local.
O que se sabe sobre o bolo?
De acordo com o depoimento de uma amiga de uma das vítimas, o bolo era uma tradição familiar, feita todos os anos pelos integrantes da família. Na terça-feira (24), policiais estiveram na casa de Zeli, que fez o bolo, em Arroio do Sal.
De acordo com o relato do delegado à Rádio Gaúcha, no local foram encontrados diversos produtos vencidos, inclusive a farinha que a mulher utilizou para fazer a sobremesa. Além disso, alguns dos parentes teriam comentado que o doce estava com gosto apimentado, diferente do sabor usual de bolos.
— A gente não tem a certeza de que foi o bolo. Tem uma grande probabilidade de que possa ter sido, porque estava com um gosto estranho. Nenhum bolo doce tem gosto de pimenta, conforme as pessoas haviam relatado. Então, a gente suspeita porque foi após comerem, e quem ingeriu esse bolo passou mal. Os outros familiares não passaram mal — afirmou o delegado, que segue investigando o caso.
Quais são as principais linhas de investigação?
Em uma nova entrevista à Rádio Gaúcha, desta vez ao programa Gaúcha Atualidade, na manhã de quinta-feira (26), o delegado Veloso afirmou que a polícia trabalha com duas hipóteses: intoxicação alimentar ou envenenamento.
Durante a visita dos policiais à residência da boleira, o único veneno encontrado na casa foi um inseticida. Porém, o marido de Zeli morreu por intoxicação alimentar em setembro.
Além disso, sexta-feira (27), os primeiros resultados periciais indicaram a presença de arsênio no sangue da mulher que confeccionou o bolo, da criança de 10 anos que segue hospitalizada e de uma das vítimas. Esse é um elemento químico usado para produzir o arsênico, presente em conservante de couro e madeira, além de inseticidas. Esse fato levantou mais suspeitas à possibilidade de ter ocorrido um envenenamento.
Diante dos fatos, a polícia busca elucidar se houve um crime neste caso, assim como entender se o episódio foi intencional.
Quais serão os próximos passos da investigação?
A Polícia Civil encaminhou os corpos dos vitimados para necropsia no Instituto-Geral de Perícias (IGP), órgão responsável por atestar a causa da morte. Os alimentos consumidos pela família foram recolhidos e também vão passar por perícia.
— Vamos fazer a perícia nos corpos de todos que morreram e exumar o marido dela para compreender o que aconteceu — contextualizou o delegado, que busca estabelecer se há relação entre os óbitos.
De acordo com a chefe da divisão de Química Forense do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Lara Regina Soccol Gris, durante entrevista à Rádio Gaúcha na quarta-feira, os primeiros resultados de exames periciais devem ficar prontos na próxima semana.
O delegado ainda diz que a investigação vem traçando todos os passos de Zeli. Foi ela quem fez o bolo junto da irmã, Maida.
— O bolo foi instantâneo. Passaram mal na hora. A mulher que fez o bolo (Zeli), principalmente, foi a que mais passou mal. Ela foi a única que comeu duas fatias. Ela foi levada primeiro para o hospital — explicou o delegado, descartando que o consumo de outro alimento pudesse ter causado a intoxicação.
Como era a relação familiar?
De acordo com o delegado, não há registros de brigas entre os familiares ou disputas por herança, por exemplo, que pudessem motivar um crime.
— Essa família tinha uma excelente convivência. A Maida, por exemplo, tinha um casamento de 35 anos, a senhora que perdeu o marido em setembro e que fez o bolo tinha um casamento de 44 anos. Então, havia uma instituição familiar sólida — pondera o delegado.