Arsênio é um metal natural que está presente no solo e, inclusive, traços dele são encontrados em alimentos e cosméticos. Contudo, dependendo da concentração, pode ser letal. O elemento químico foi detectado em exames de sangue de integrantes da família que comeu um bolo em Torres — três pessoas morreram.
O metal pode ser encontrado em diferentes composições químicas. Entre as mais populares no Brasil, está o arsênico, veneno para ratos e insetos que tem sua venda proibida no país desde 2005. As principais formas de se obter produtos com alta concentração de arsênio no Brasil são por comercialização clandestina ou em possíveis sobras ainda existentes, que são de antes da proibição, aponta o toxicologista Bruno dos Santos.
— O arsênico era conhecido como o rei dos venenos, porque mimetiza muitas vezes uma doença gastrointestinal, uma intoxicação alimentar. Então, a pessoa tinha muita diarreia, vômito, e acabava parecendo que era uma disenteria, uma cólera.
Segundo o especialista, doutorando em análise toxicológica pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), esse resultado é obtido com pequenas doses do elemento químico.
Forma, gosto e cor
De acordo com Bruno dos Santos, o composto trióxido de arsênio, conhecido como arsênico, não tem gosto, mas algumas literaturas apontam que o metal pode ter um gosto adocicado. O especialista acrescenta que, por ser um produto clandestino no Brasil, o arsênio pode estar misturado com outras substâncias e que podem alterar o sabor.
— Normalmente, está na forma de pó. Um pó branco, sem cheiro, sem odor, mas pode variar. Como não é um produto legalizado, vem de uma produção clandestina, pode ter diferentes variações de apresentação — explica.
O toxicologista relata que a substância também pode ser encontrada na forma líquida, a fim de facilitar o transporte.
Sintomas e identificação
A ingestão de arsênio causa uma intoxicação aguda que tem vômito e diarreia como os seus principais sintomas, explica a médica gastroenterologista Carine Leite. Conselheira do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), a especialista complementa que o excesso do elemento químico na corrente sanguínea também pode causar arritmia e parada cardíaca.
— O que pode matar o paciente nessa intoxicação aguda é a insuficiência renal aguda, por desidratação devido a diarreia e vômitos, uma queda importante de potássio, devido a esse quadro gastrointestinal, o que leva a uma parada cardíaca, ou um acometimento cardíaco direto com taquiarritmias — relata a médica.
Devido aos sintomas comuns a diversas doenças, a intoxicação aguda por arsênio não pode ser detectada somente pelo quadro clínico do paciente. É preciso realizar exames, de sangue ou de urina, para identificar a presença do metal no organismo.
— É apenas pelo exame de sangue e tem que ter a suspeita. Esse que é o problema. Até conseguir suspeitar e fazer o diagnóstico, não se tem esse tempo. Se chega com um caso em que já se sabe que houve essa exposição, é possível fazer o exame e tratar — explica Carine.
Caso a suspeita de envenenamento ou intoxicação aguda por arsênio surja depois da morte do paciente ou, até mesmo, do seu sepultamento, ainda é possível identificar a presença do elemento químico no corpo. O toxicologista informa que exames que detectam o metal podem ser realizados com as vísceras ou com o cabelo da vítima.
Para que serve e onde é encontrado
Conforme o Departamento de Microbiologia da Universidade de São Paulo (USP), o arsênio é utilizado na fabricação de munição, ligas e placas de chumbo de baterias elétricas e também como herbicida e inseticida.
— Pode ser usado, muitas vezes, como inseticida de forma clandestina para fazer a dedetização, por exemplo, de cupim. Mas isso é algo proibido no Brasil. Não existe hoje nenhum uso liberado deste tipo de inseticida na forma com que ele é conhecido — comenta Bruno dos Santos.
De acordo com a resolução 42 de 29 de agosto de 2013 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o metal pode ser encontrado em diversos alimentos. O limite mais alto de concentração presente na lista é de até um miligrama de arsênio a cada quilo de crustáceos, moluscos, peixes crus e miúdos bovinos, suínos e caprinos.
— Tem arsênico em alguns alimentos hoje, mas em níveis de traços. Não é algo que cause uma intoxicação. Tem em pescados, frutos do mar, arroz. Dependendo da origem, pode conter mais ou menos arsênio, porque a gente tem arsênio no solo, no meio ambiente, mas são níveis extremamente baixos — detalha o toxicologista.
Ainda conforme resoluções da Anvisa, traços do metal também podem ser encontrados em embalagens e utensílios destinados a alimentos, ou tintura capilar.