Em uma noite de sábado de 1967, misteriosas luzes foram perseguidas por dois aviões. Eu resgato o episódio com base nas reportagens de 55 anos atrás na revista O Cruzeiro, de circulação nacional, e do jornal Diário de Notícias, publicado em Porto Alegre. Os objetos luminosos foram relatados por várias pessoas, inclusive em depoimento oficial de militares da Força Aérea Brasileira.
A manchete de capa do Diário de Notícias em 21 de março de 1967 foi "Disco voador perseguiu avião até Porto Alegre". Dois dias depois, voltou ao tema com a manchete "FAB confirma oficialmente que disco voador perseguiu avião". O jornal teve acesso ao depoimento oficial de dois capitães, que não falaram em disco voador, mas relataram em detalhes as luzes misteriosas. Em abril, O Cruzeiro publicou a reportagem "25 minutos no rastro de um disco voador".
Fim de verão, noite de 18 de março de 1967. Tudo começou em Santa Catarina. Após dez minutos da decolagem do avião Douglas C-47, prefixo 2077, do aeroporto de Florianópolis, o capitão Ronald Eduardo Jaeckel verificou que "havia uma luz bastante intensa ao lado direito do aparelho militar". Ela se deslocava no mesmo sentido do avião, rumo ao Rio Grande do Sul, num nível pouco acima e numa velocidade equivalente. Até as proximidades de Torres, se manteve na mesma posição até ficar encoberta pelas nuvens.
De acordo com o depoimento dos capitães Jaeckel e Carlos Alberto Espírito Santo Puget, "nas proximidades da cidade de Taquara, onde as condições atmosféricas eram excelentes, com noite bastante clara e enluarada, a luz foi novamente avistada, desta vez, à frente e um pouco abaixo do avião."
Jaeckel fez contato com a torre de controle do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, para transmitir a posição do aparelho e indagar se havia algum outro avião naquela região. O centro de controle disse que não e deu liberdade de ação para que o avião militar averiguasse o que era. O capitão Puget passou a realizar manobras tentando a aproximação com o objeto luminoso, mas revelou que "toda vez que o avião se dirigia em direção à luz, esta apagava e surgia em outra posição." Com as manobras de aproximação, ocorreram algumas mudanças na intensidade da luz azulada.
Os dois aviadores começaram a suspeitar que eram dois objetos luminosos devido à rapidez com que desaparecia num ponto e surgia em outro. Devido ao insusesso na aproximação, decidiram preparar o pouso na Base Aérea de Canoas. No depoimento oficial, contaram que, na altura de Novo Hamburgo, as suspeitas foram confirmadas, porque viram as duas luzes apagando e acendendo alternadamente. Pouco antes do pouso, "as duas luzes surgiram próximo ao avião, do lado direito, sendo que uma mudou, nesta ocasião, a coloração de sua luz, passando de azulada para vermelho forte".
No avião militar, além dos dois capitães, estavam um mecânico de bordo, um radiotelegrafista e, como passageiros, cinco oficiais da FAB e dez civis. Os oficiais confirmaram, no relatório publicado pelo Diário de Notícias, que a luz seguiu o avião, sem saberem dar uma explicação do que se tratava.
Não foi o único avião a perseguir o OVNI (Objeto Voador Não Identificado). A torre de controle do aeroporto Salgado Filho fez contato com um avião da Cruzeiro do Sul, que chegava a Porto Alegre. A aeronave voltava de Montevidéu, onde prestava serviço aerofotogramétricos para governo uruguaio. O operador avisou sobre objeto não identificado sobrevoando a cabeceira da pista 28, altitude de 1,5 mil metros. Por volta das 21h, pouco depois do pouso do avião da FAB em Canoas, questionou se queriam averiguar.
Os comandantes Bernardo Aizemberg e Ricardo Wagner, o piloto Paulo Costa Maia, o radiotelegrafista Vicente Arno e o fotógrafo Francisco Urbano dos Santos perseguiram o objeto luminoso, que "irradiava tons de laranja claro até vermelho intenso". Para a revista O Cruzeiro, Maia descreveu como uma fogueira no céu. Os faróis do avião foram desligados numa tentativa de aproximação. O objeto também ficou às escuras. E assim repetiram o liga e desliga de luzes. Após 20 minutos, sempre à frente da aeronave, o objeto fez um descolamento mais rápido para se afastar. Em movimentos horizontais e verticais, sumiu na noite. Em entrevista na época, o fotógrafo lamentou não ter equipamento adequado para fazer o registro em imagem.
Além dos ocupantes dos dois aviões, os objetos luminosos foram observados por pessoas em solo, de acordo com o Diário de Notícias.
Mais um mistério que ficou no ar.
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