Em frente à Renner e perto da Fiateci, em Porto Alegre, a fábrica Rio Guahyba fez parte de relevante polo têxtil do Brasil. Os prédios da empresa que faliu estão preservados no bairro Navegantes, ao lado do DC Shopping. A história da indústria de tecidos começou em 1908. O complexo será ocupado na ampliação do Instituto Caldeira.
Oscar Schaitza abriu a fábrica de tecidos na antiga Rua Stock. O fundador era figura destacada na comunidade alemã da cidade e participou da criação do time de futebol Fuss-Ball Club Porto Alegre e da equipe de ciclismo Radfahrer Verein Blitz.
O empresário admitiu em 1910 os sócios Frederico Guilherme Bier e Emilio Ullmann, alterando a razão social para Oscar Schaitza e Cia. Em 1912, o jornal A Federação publicou que uma enchente chegou ao primeiro degrau da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes e ameaçou a "grande fábrica" de tecelagem. Em carroças, operários chegaram ao prédio para impedir a entrada da água.
O fundador deixou a sociedade em 1914. Bier e Ullmann, que eram sócios também em comércio, tocaram sozinhos a indústria, renomeada F. G. Bier. Em 1º de abril de 1919, incêndio destruiu parte do prédio das máquinas da fábrica.
Como incorporador, Bier transformou a firma em sociedade anônima. A abertura permitiu a entrada de acionistas. Em 22 julho de 1919, ocorreu assembleia para subscrição das ações da Companhia de Indústrias Textis Sul-Brasileira, sucessora de F. G. Bier. Na madrugada de 30 de julho, "gatunos" invadiram a empresa e furtaram tecidos, de acordo com notícia em A Federação. A polícia prendeu dois ladrões e recuperou produtos.
Em 4 de agosto de 1919, foi realizada a assembleia de instalação da nova companhia têxtil em Porto Alegre. Frederico Guilherme Bier foi empossado diretor-presidente; João Cezimbra Netto, diretor-secretário; e Adolpho Luce Júnior, diretor-gerente. Pelo estatuto, a fábrica de tecelagem de lã e algodão teve inicialmente 36 acionistas, entre pessoas físicas e jurídicas. Bier ficou com 7,3 mil das 11 mil ações. Ullmann não consta na lista de acionistas, que tinha nomes como H. Theo Möller, Guilherme Gaelzer Netto, Hemetério Mostardeiro e Jorge Pfeiffer.
O nome Companhia de Indústrias Textis Sul-Brasileira durou pouco tempo. Em outubro de 1920, já renomeada como Fábrica Rio Guahyba Fiação e Tecelagem, a empresa comunicou o primeiro pagamento de dividendos.
O relatório da diretoria referente a 1928 citou uma série de problemas para a produção. Incêndio no setor de acabamento, duas greves de operários e uma enchente que parou o trabalho de tecelagem por 45 dias. O industrial A. J. Renner ingressou no quadro de acionistas naquele ano. Ele era dono da fábrica vizinha, na Rua São José (atual Rua Frederico Mentz).
F. G. Bier
O empresário F. G. Bier morreu em 26 de abril de 1936. Comerciante e industrial, natural de São Leopoldo, começou aos 15 anos na atividade comercial na firma P.G. Pohlmann e Cia. Com Emilio Ullmann constituiu a firma F. G. Bier e Cia, posteriormente Bier e Ullmann. Pelo obituário em A Federação, "teve ainda papel preponderante na reorganização da antiga Fábrica de Tecelagem Navegantes, hoje Fábrica Rio Guahyba" e foi um dos fundadores do Banco Pfeifer. Bier e a esposa Zulmira Isller Bier tiveram os filhos Eugenio (diretor técnico da Rio Guahyba), Erwin Bier (que trabalhava no comércio Bier e Ullmann) e Hertha Bier da Silva (casada com Osvaldo Barcelos da Silva).
Em 1940, a Fábrica Rio Guahyba inaugurou um novo pavilhão, a Secção F.G. Bier. Na sala da diretoria, foram colocados os retratos de Bier e de Oscar Schaitza. Em reportagem, o jornal Diário de Notícias citou que a empresa de Porto Alegre era "uma das mais belas afirmações da indústria brasileira de tecidos de lã". A fábrica fazia "casimiras, tecidos de lã para senhoras e lãs de bordar". A área total construída era de dois mil metros quadrados. Operavam 50 teares. A família Bier continuava no comando da fábrica.
Localização no bairro Navegantes
A Rua Stock ficava entre a Rua Frederico Mentz e o rio. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, o nome foi trocado para Rua México. Com o crescimento da fábrica, acabou incorporada pela empresa, ficando entre os prédios. A indústria, portanto, sempre operou no mesmo local no bairro Navegantes, desde o primeiro prédio, em 1908.
Uma nova ampliação ocorreu em 1946. A companhia contratou o arquiteto Friedrich Schlander e o construtor Carlos Schüler. De acordo com pesquisa de Adriana Eckert Miranda, em dissertação de mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foram erguidos dois blocos paralelos, com dois ou três pavimentos, conectados por terceiro volume em formato de "U", que congregava hall, elevador, sanitários e vestiários.
As últimas décadas
O nome da empresa foi trocado para Companhia Industrial Rio Guahyba na década de 1960. A família Bier deixou o comando, substituída na direção pelas famílias Milane e Milagre. Henrique Milagre foi diretor-superintendente. De acordo com o filho Rogério Milagre, a família ficou na empresa de 1960 a 1980. Em 1983, a Justiça homologou a concordata.
O último proprietário foi Wolf Gruenberg. O jornal Pioneiro, em 1989, apresentou a Rio Guahyba ainda como "maior produtora de tecidos pura lã do Brasil".
A empresa Rio Guayba, já com o nome Têxtil Filatti Ltda., deixou de produzir em 2005, mas ficou vendendo estoque até 2010. Muitos funcionários foram transferidos para a Cettraliq - Central de Tratamento de Efluentes Líquidos Ltda., empresa de tratamento de água residual de outras indústrias, que continuou operando no complexo do bairro Navegantes até 2016.
A Filatti e outras empresas do grupo faliram. Em 2016, foi designado um administrador judicial da massa falida. O terreno e os prédios da antiga fábrica Rio Guahyba foram leiloados em 2019.