Como já relembrei na coluna, consumidores do Rio Grande do Sul acreditavam que a Pepsi era gaúcha. Quando viam as garrafas no cinema, ficavam surpresos com a presença do refrigerante fora do Brasil. A marca manteve uma forte ligação com o mercado gaúcho desde a abertura da primeira fábrica em Porto Alegre, inaugurada em março de 1953.
Em filme de 1961, a produtora Leopoldis-Som mostrou a gigantesca indústria entre as casas do bairro Menino Deus. Sem os aterros, a Pepsi ficava às margens do Guaíba, na Avenida Praia de Belas. Na parte interna, operários fazem a manutenção das máquinas de engarrafamento da bebida. Uma máquina automática chegou ao Cais Mauá e, em caminhão, foi transportada com orgulho pelas ruas de Porto Alegre.
A fábrica de refrigerantes encantava, em especial, a criançada. Por muito tempo, foi ponto de visita de escolas.
Pepsi-Cola em Porto Alegre
O português Heitor Pires, radicado na cidade desde o final da década de 1920, fundou e presidiu a Refrigerantes Sul-Riograndenses S.A.. Com orgulho, sempre fazia questão de dizer que era uma empresa com 100% do capital gaúcho. O grupo de acionistas tinha empresários, médicos, engenheiros, advogados e operários da própria indústria.
A primeira franquia da Pepsi no Brasil começou produzindo a bebida em garrafas de 284 ml. Com presença em projetos sociais, culturais e esportivos, a marca conseguiu um vínculo forte com o consumidor do Rio Grande do Sul. Nem todos sabiam que a marca Pepsi-Cola era oriunda dos Estados Unidos. O slogan "o refrigerante da família rio-grandense" deixava clara a estratégia de marketing.
Os filhos dos antigos funcionários não esquecem das festas de Natal. Em 1955, dois anos depois da abertura, a imprensa destacou a festa natalina para funcionários e familiares, com brinquedos para crianças e gratificação aos funcionários. Depois da celebração em Porto Alegre, Heitor Pires viajou para participar da festa em Pelotas, onde foi inaugurada naquele ano a segunda fábrica do refrigerante no Estado.
Desde o início da operação local, a Pepsi fez promoções e investiu em propaganda, como sorteios e tampinhas premiadas. Em 1957, a produção diária chegava a 400 mil garrafas, com previsão de aumento da capacidade para 650 mil após ampliação da linha de produção. Nas oficinas da própria indústria, foram produzidas novas máquinas, que antes precisavam ser importadas. Em 1960, novo maquinário permitia lavar 40 mil garrafas por hora. Em 1962, a indústria gaúcha tinha mais de mil acionistas e abriu unidade em Passo Fundo.
Sem possibilidade de expansão em Porto Alegre, a fábrica da Pepsi foi transferida para Sapucaia do Sul em 1994. O terreno na Avenida Praia de Belas, esquina com Rua Marcílio Dias, tem hoje um prédio comercial e de estacionamento do shopping Praia de Belas.