Em um mercado dividido pela Coca-Cola e marcas regionais, como Cyrillinha e Laranjinha, a primeira fábrica de Pepsi-Cola do Brasil foi aberta em Porto Alegre. O refrigerante norte-americano começou a ser produzido em março de 1953 na Avenida Praia de Belas. O icônico complexo industrial ficou em operação até a década de 1990. Por décadas, a fábrica recebeu a visita de estudantes na capital gaúcha. A estratégia agressiva de propaganda e de vendas resultou em fato raro: vencer a concorrência com a Coca-Cola.
O português Heitor Pires, radicado na cidade desde o final da década de 1920 e influente na comunidade portuguesa, fundou e presidiu a Refrigerantes Sul-Riograndenses S.A.. Com orgulho, sempre fazia questão de dizer que era uma empresa com 100% do capital gaúcho. Em um discurso em uma festa de Páscoa no Estádio dos Eucaliptos, em 1958, fez pronunciamento de agradecimento aos clientes, ressaltando que era um "patrimônio do Rio Grande do Sul". O grupo de acionistas tinha empresários, médicos, engenheiros, advogados e operários da própria indústria.
Com forte atuação em projetos sociais, culturais e esportivos, a marca conseguiu um vínculo forte com o consumidor do Rio Grande do Sul. Nem todos sabiam que a marca a Pepsi-Cola era oriunda dos Estados Unidos. O slogan "o refrigerante da família rio-grandense" deixava clara a estratégia da marca.
Os filhos dos antigos funcionários não esquecem das festas de Natal. Em 1955, dois anos depois da abertura, a imprensa destacou a festa natalina para funcionários e familiares, com brinquedos para crianças e gratificação aos funcionários. Depois da celebração em Porto Alegre, Heitor Pires viajou para participar da festa em Pelotas, onde foi inaugurada naquele ano a segunda fábrica do refrigerante no Estado.
Desde o início da operação local, a Pepsi fez promoções e investiu em propaganda, como sorteios e tampinhas premiadas. No jornal Diário de Notícias, por 14 meses, realizou o concurso "Dê um ônibus ao seu clube". Na disputa das torcidas, o Aimoré, de São Leopoldo, conseguiu 22 milhões de votos, superando os times de futebol de Pelotas e Porto Alegre.
Em 1957, a produção diária chegava a 400 mil garrafas, com previsão de ampliação da capacidade para 650 mil após ampliação da linha de produção. Nas oficinas da própria indústria, foram produzidas novas máquinas, que antes precisavam ser importadas. De acordo com o Jornal do Dia, em 1958, a capacidade de produção era mais do que o dodro de todos os outros refrigerantes juntos no Rio Grande do Sul, o que demonstra a grandiosidade do complexo. Em 1960, novo maquinário permitia lavar 40 mil garrafas por hora. A fábrica também tinha um sistema de tratamento da água da rede pública.
A professora aposentada Beatriz Daudt Fischer não esquece do passeio que fez em Porto Alegre em 1959. Com a turma da escola, aos 11 anos, saiu de Novo Hamburgo para conhecer a recém inaugurada ponte do Guaíba, a Neugebauer e a Pepsi-Cola. Na esteira da linha de produção, viu a passagem das garrafas para o enchimento e colocação das tampas. No final do percurso, cada criança ganhava uma garrafa de refrigerante. Beatriz recorda que por muito tempo acreditou que a Pepsi era gaúcha. Não era a única.
Sem possibilidade de expansão em Porto Alegre, a fábrica da Pepsi foi transferida para Sapucaia do Sul em 1994. O terreno na Avenida Praia de Belas tem hoje um prédio comercial e de estacionamento do shopping Praia de Belas. Desde 2000, a gigante Ambev detém direitos exclusivos de distribuir e engarrafar os refrigerantes da Pepsi no Brasil.
Como a Pepsi venceu a disputa com a Coca-Cola? É a resposta que, na década de 1990, um grupo de alunos de comunicação da UFRGS buscou. O trabalho resultou no livro Pepsi-Tchê - A Grande Vitória da Pepsi na Guerra das Colas.
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