O televisor Admiral foi o primeiro de muitas famílias gaúchas. A caixa com imagens em movimento começou a entrar nas casas após a inauguração da TV Piratini, a primeira do Rio Grande do Sul, em dezembro de 1959. Num primeiro momento, um luxo. Era comum a vizinhança ser atraída para as primeiras residências com televisores nos bairros. No Natal de 1960, a Springer anunciou a nova e moderna loja da Rua Sete de Setembro, em Porto Alegre, "apresentando já os televisores Admiral", de 23 polegadas, além de condicionadores de ar e refrigeradores.
A Sociedade de Comércio e Refrigeração Springer estava associada à norte-americana Admiral desde 1957. A empresa fundada por Charles Springer em Porto Alegre, em 1934, apenas vendia refrigeradores e outros produtos nos primeiros tempos, além de ser oficina. Depois de sete anos, virou indústria de refrigeradores comerciais. Sob liderança de Paulo Vellinho, ex-vendedor autônomo da firma, passou a fazer geladeiras residenciais na década de 1950.
Vellinho transformou a Springer em um gigante da indústria nacional. Com a parceria da multinacional Admiral, produziu uma geladeira "retangular". Os modelos anteriores eram com os cantos arredondados. Em 1958, lançou o primeiro aparelho de ar-condicionado de janela da América Latina. A Admiral já produzia televisores nos Estados Unidos e não demorou para a novidade chegar ao mercado brasileiro.
Os negócios do grupo Springer-Admiral foram divididos entre a Refrigeração Springer S.A e a Telespring S.A., encarregada dos televisores. A fabricação era feita em Porto Alegre. Desde 1959, a Springer estava com nova fábrica na Rua Olavo Bilac, no bairro Cidade Baixa.
A Telespring lançou uma ampla linha de televisores. O primeiro foi o "Visão Integral", apresentado em programa da TV Piratini em 1960. Em 1963, nasceu o "Aquarela", de 28 centímetros, primeiro televisor portátil da América do Sul. Em 1964, produziu 22 mil aparelhos. Era a maior fábrica de televisores do Brasil.
Em 1967, a indústria já estava em operação em Canoas, em uma área coberta de 4.650 metros quadrados, com capacidade de produzir mensalmente cinco mil televisores e dois mil reprodutores de fitas musicais. As obras começaram três anos antes na área de 18 hectares, que viria a receber todas as unidades produtivas do grupo Springer-Admiral. Na Copa de 1974, Zagallo, o técnico da seleção brasileira, foi o garoto-propaganda do televisor.
O jornalista Mario de Santi, autor do livro Paulo Vellinho: o realizador de um sonho chamado Springer, conhece bem esta história. Ele conta que, devido ao fim do contrato com a Admiral, a Springer passou a produzir a TV National em Manaus em 1977. De National passou a Panasonic em 1992. Em 2001, a Springer vendeu sua participação na Panasonic da Amazônia, que vira Panasonic do Brasil.
Em Canoas, o complexo industrial não produziu mais televisores, ficando com outras linhas de produtos. Em 1983, a Springer se uniu à Carrier, virando Springer Carrier S.A.. Em 2011, a multinacional chinesa Midea e a Carrier se uniram em uma joint venture para produção e distribuição de sistemas de climatização de ar e eletrodomésticos no Brasil, Argentina e Chile. A Springer é uma das marcas de condicionadores de ar.
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